sábado, 28 de julho de 2007

Uma Terra sem humanos



Imagem: KENN BROWN E EMILY HARRISON
DE VOLTA À NATUREZA: Se todos os seres humanos desaparecessem, Manhattan voltaria a ser uma ilha florestada. Muitos arranha-céus cairiam em questão de décadas, minados por fundações alagadas; prédios de pedra como a catedral de Saint Patrick (na representação do artista) sobreviveriam por mais tempo. Ervas daninhas e árvores se enraizariam no asfalto rachado, enquanto aves de rapina se aninhariam nas ruínas e raposas perambulariam pelas ruas

Uma Terra sem humanos
Uma nova forma de avaliar o impacto da humanidade sobre o ambiente é pensar como o mundo se sairia se todas as pessoas desaparecessem


Entrevista com ALAN WEISMAN - Revista Scientific American Brasil

É uma fantasia comum imaginar que você é a última pessoa viva na Terra. Mas e se todos os seres humanos fossem varridos de repente do planeta? Tal premissa é o ponto de partida de The world without us (O mundo sem nós), nova obra do autor de livros científicos Alan Weisman, professor associado de jornalismo da University of Arizona. Nesse longo exercício de pensamento, Weisman não especifica exatamente o que elimina o Homo sapiens, em vez disso ele simplesmente assume o desaparecimento repentino de nossa espécie e projeta a seqüência de eventos que provavelmente ocorreria nos anos, décadas e séculos a seguir.Segundo Weisman, uma grande parte de nossa infra-estrutura física começaria a ruir quase que imediatamente. Sem equipes para a manutenção das ruas, nossos grandes bulevares e rodovias começariam a rachar e a ficar abaulados em questão de meses. Nas décadas seguintes, muitas casas e edifícios comerciais ruiriam, mas alguns itens comuns resistiriam à degradação por um tempo extraordinariamente longo. Panelas de aço inoxidável, por exemplo, poderiam durar milênios, especialmente se ficassem enterradas nos sítios pré-históricos cobertos por ervas daninhas em que nossas cozinhas se transformariam. E certos plásticos comuns permaneceriam intactos por centenas de milhares de anos, não se decompondo até que micróbios evoluíssem para adquirir a capacidade de consumi-los. O editor da SCIENTIFIC AMERICAN Steve Mirsky entrevistou Weisman recentemente para descobrir por que ele escreveu o livro e que lições podem ser tiradas de sua pesquisa. Veja trechos da entrevista:

Se os seres humanos desaparecessem amanhã, o magnífico horizonte de Manhattan não sobreviveria por muito mais tempo. Weisman descreve como a floresta de concreto de Nova York voltaria a ser uma floresta real.“O que aconteceria a todas as nossas coisas se não estivéssemos mais aqui? Será que a natureza conseguiria eliminar todos os nossos vestígios? Há alguma coisa que fizemos que seja indestrutível ou indelével? Será que, por exemplo, a natureza transformaria a cidade de Nova York na floresta que a ocupava quando Henry Hudson a viu pela primeira vez, em 1609? Tive uma conversa fascinante com engenheiros e profissionais de manutenção em Nova York sobre o que seria necessário para conter a natureza. Descobri que nossa infra-estrutura imensa, imponente e opressiva, que parece tão indestrutível, é na verdade bastante frágil e continua existindo e funcionando graças aos poucos seres humanos dos quais todos nós realmente dependemos. O nome Manhattan vem de um termo indígena que se refere a colinas. Ela era uma ilha cheia de morros. A região acabou aplanada para receber a grade de ruas. Ao redor das colinas costumavam fluir cerca de 40 ribeirões diferentes e havia várias nascentes por toda a ilha. O que aconteceu a toda aquela água? A quantidade de chuvas ainda é praticamente a mesma, mas hoje a água está dominada. No subterrâneo. Parte da água escorre pelo sistema de drenagem, mas ele nunca é tão eficiente quanto a natureza. Assim, há muita água correndo no subsolo, tentando sair. Mesmo em um dia claro e ensolarado, as pessoas responsáveis pela manutenção do metrô em Manhattan precisam bombear 49 milhões de litros de água para fora, ou os túneis inundariam.Há lugares em Manhattan onde eles lutam o tempo todo contra o afloramento de rios subterrâneos que corroem os trilhos. Nas salas de bombeamento você vê uma quantidade enorme de água jorrando. E lá embaixo, em uma pequena caixa, estão as bombas que levam a água embora. Mas se os seres humanos desaparecessem amanhã, uma das primeiras coisas a ocorrer seria o desligamento da eletricidade. Nossa energia elétrica vem em grande parte de usinas nucleares ou movidas a carvão, que têm chaves de segurança automáticas para garantir que não saiam do controle no caso de ninguém estar monitorando o sistema. Assim que a energia elétrica fosse cortada, as bombas deixariam de funcionar, e os túneis do metrô começariam a se encher de água. Em 48 horas haveria muitas inundações em Nova York, algumas delas visíveis na superfície. Poderia acontecer transbordamento das bocas-de-lobo. Elas ficariam rapidamente entupidas com detritos – para começar, com os inúmeros sacos plásticos que o vento sopraria pela cidade e, mais tarde, como ninguém apararia a vegetação dos parques nem recolheria a vegetação seca, com o acúmulo de folhas e material orgânico.

Mas o que aconteceria no subsolo? Corrosão. Pense nas linhas de metrô abaixo das avenidas. Enquanto espera pelo trem, observe aquelas colunas de aço que sustentam o teto, que na verdade é a rua. Tudo começaria a sofrer corrosão e, ao final, ruiriam. Após algum tempo surgiriam crateras nas ruas – possivelmente em apenas duas décadas. E em pouco tempo algumas ruas voltariam a ser os riachos de superfície que existiam em Manhattan antes. Muitos dos prédios em Manhattan estão apoiados sobre leito rochoso. Mas mesmo se contarem com vigas de aço na fundação, essas estruturas não foram projetadas para ficar submersas o tempo todo. Assim, também os prédios começariam a ruir. E como a mudança climática deve causar eventos mais extremos, com mais furacões atingindo a costa leste, a queda de um prédio, num desses eventos, derrubaria mais alguns, criando uma clareira. Essas clareiras receberiam sementes de plantas lançadas pelo vento, e estas se estabeleceriam nas fendas do asfalto. As clareiras já estariam cobertas de folhas, mas a cal vinda do concreto moído criaria um ambiente menos ácido para várias espécies. A cidade começaria a desenvolver seu próprio ecossistema. Toda primavera, quando a temperatura estivesse oscilando em torno do ponto de congelamento, novas rachaduras apareceriam. A água entraria nas rachaduras e congelaria. As rachaduras aumentariam e mais sementes seriam levadas pelo vento para dentro delas. Isso aconteceria bem rapidamente.Como os ecossistemas da Terra mudariam se os seres humanos estivessem fora da jogada? Weisman diz que podemos ter um vislumbre desse mundo hipotético observando bolsões “primitivos” onde as marcas da humanidade sejam mais leves.Para ver como o mundo seria se os humanos desaparecessem, comecei indo a lugares abandonados, que as pessoas deixaram por diferentes motivos. Um deles é o último fragmento de floresta primitiva na Europa. É como num conto de fadas dos irmãos Grimm: uma floresta escura, fechada, com lobos uivando e toneladas de musgo pendurado nas árvores. E esse lugar existe. Ele fica na fronteira da Polônia com a Bielo-Rússia. Era uma reserva de caça, estabelecida nos anos 1300 por um duque lituano que mais tarde se tornou rei da Polônia. Uma série de reis poloneses e depois czares russos a mantiveram como área de caça particular. Houve pouco impacto humano. Após a Segunda Guerra Mundial, ela se tornou um parque nacional. Você vê carvalhos e freixos de mais de 45 metros de altura e 3 metros de diâmetro, com sulcos tão profundos na casca que pica-paus os enchem de pinhas. Além de lobos e alces, essa floresta abriga o último rebanho selvagem de Bison bonasus, o bisão europeu nativo.Também visitei a zona desmilitarizada coreana. Nela há um pequeno trecho de terra – com cerca de 240 km de extensão por 4 km de largura – junto do qual dois dos maiores exércitos do mundo ficam posicionados um diante do outro. Entre eles fica uma reserva “involuntária” de vida selvagem. É possível ver espécies que poderiam estar extintas se não fosse por aquele pedacinho de terra. Às vezes você ouve os soldados gritando uns com os outros por alto-falantes ou exibindo sua propaganda política de um lado a outro, e no meio de toda aquela tensão é possível ver bandos de garças azuis que passam o inverno lá.

Mas para realmente compreender um mundo sem os seres humanos percebi que é preciso aprender como o mundo era antes da nossa evolução. Então fui para a África, onde os seres humanos surgiram, e o único continente onde ainda há animais selvagens de grande porte. Antigamente havia animais de grande porte em todos os continentes e em muitas das ilhas. Tínhamos criaturas enormes na América do Norte e do Sul – preguiças-gigantes maiores que mamutes; castores do tamanho de ursos. O motivo de sua dizimação é controverso, mas muitos indícios apontam para nós. As extinções em cada massa de terra parecem coincidir com a chegada dos seres humanos. Mas a África é o local onde os seres humanos e os animais evoluíram juntos e os bichos de lá aprenderam estratégias para evitar nossa ação predatória. Sem os seres humanos, a América do Norte provavelmente se tornaria em curto prazo um bom habitat para cervos gigantes. À medida que as florestas se restabelecessem por todo o continente, herbívoros maiores se desenvolveriam, no tempo evolutivo, para tirar proveito de todos os nutrientes presentes nas espécies lenhosas. Predadores maiores também evoluiriam seguindo o mesmo padrão.Pensar em uma Terra sem humanos pode ter benefícios práticos. Weisman explica que sua abordagem pode trazer uma nova luz aos problemas ambientais.Não estou sugerindo que temos de nos preocupar com o desaparecimento repentino dos seres humanos amanhã, com algum raio alienígena mortal que nos eliminaria a todos. Pelo contrário, o que descobri é que essa forma de olhar para nosso planeta – fazendo-nos sumir apenas teoricamente – revelou ser tão fascinante que desarma os temores das pessoas ou a terrível onda de depressão que pode nos envolver quando lemos sobre os problemas ambientais que criamos e os possíveis desastres que poderemos enfrentar no futuro. Porque, francamente, sempre que lemos sobre essas coisas, nossa preocupação é: oh, meu Deus, nós vamos morrer? Será este o fim? Meu livro elimina essa preocupação bem no começo ao dizer que o fim já aconteceu. Por qualquer motivo, nós, seres humanos, desaparecemos, então agora vamos relaxar e ver o que acontece em nossa ausência. É uma maneira deliciosa de reduzir todo temor e ansiedade. E olhar para o que aconteceria em nossa ausência é outra forma de enxergar melhor o que acontece em nossa presença.Por exemplo, pense em quanto tempo levaria para eliminar algumas das coisas que criamos. Algumas das invenções mais formidáveis têm uma longevidade que ainda não podemos prever, como alguns dos poluentes orgânicos persistentes que começaram como pesticidas ou produtos químicos industriais. Ou nossos plásticos, que têm uma presença gigantesca em nossa vida e no ambiente. E quase todas essas coisas só surgiram após a Segunda Guerra Mundial. Você começa a pensar que provavelmente não há como termos resultado positivo, e que estamos testemunhando uma maré esmagadora de proporções geológicas desencadeada pela raça humana na Terra. Eu levanto a possibilidade, quase no final do livro, de os seres humanos poderem continuar fazendo parte do ecossistema de forma muito mais equilibrada com o resto dos ocupantes do planeta.É algo que abordo ao olhar primeiro não apenas para as coisas horríveis que criamos, e que são tão assustadoras – como a radioatividade e os poluentes, alguns dos quais poderão ainda persistir até o fim do planeta –, mas também para algumas das coisas belas que fizemos. Levanto a questão: não seria uma triste perda a humanidade ser extirpada do planeta? E quanto aos nossos maiores atos de arte e expressão? Nossa mais bela escultura? Nossa melhor arquitetura? Algum sinal que indique que estivemos aqui a certa altura resistirá? Essa é a segunda reação que obtenho junto às pessoas. A princípio elas pensam: esse mundo seria lindo sem nós. Mas então reconsideram: não seria triste não estarmos aqui? E não acho que o desaparecimento de todos nós da face da Terra seja necessário para voltarmos a um estágio mais saudável.

QUEM PODERIA NOS SUBSTITUIR?




Dizem que a natureza abomina o vácuo. Se os seres humanos desaparecessem, alguma outra espécie poderia evoluir para um animal que fabricasse ferramentas, tivesse plantações, usasse linguagem e fosse capaz de dominar o planeta? Segundo Alan Weisman, os babuínos poderiam ter uma chance razoável. Eles têm o maior cérebro entre os primatas, com exceção do Homo sapiens, e, como nós, se adaptaram a viver nas savanas à medida que os habitats florestais na África encolheram. Weisman escreve em The world without us: “Se os ungulados dominantes nas savanas – o gado – desaparecessem, os gnus se multiplicariam para ocupar seu lugar. Se os humanos desaparecessem, os babuínos ocupariam o nosso? Será que sua capacidade craniana permaneceu suprimida durante o Holoceno porque saímos à frente deles, sendo os primeiros a descer das árvores? Sem os humanos no seu caminho, será que o potencial mental deles aumentaria e os levaria a um avanço evolucionário repentino em todas as fissuras de nosso nicho abandonado?”.Hollywood, com sua longa série de filmes Planeta dos macacos, parece concordar com Weisman. Um segundo cenário fora da África poderia se desenrolar centenas de milhares de anos após o primeiro. Alguém se perguntaria como os arqueólogos babuínos do futuro interpretariam os extraordinários artefatos humanos – esculturas, cutelaria, sacos plásticos – enterrados sob seus pés. Weisman acha que “o desenvolvimento intelectual de qualquer criatura que os escavasse poderia ser abruptamente elevado para um plano evolucionário mais alto pela descoberta de ferramentas já prontas”. Mesmo como fantasmas, poderíamos continuar moldando o futuro. – Edward Bell

Nosso fim seria uma boa notícia para muitas espécies. Abaixo, uma pequena amostra dos animais e plantas que se beneficiariam com o desaparecimento dos seres humanos.

OS VENCEDORES...

AVES: Sem os arranha-céus e linhas de transmissão para atrapalhar o vôo, pelo menos1 bilhão de aves evitariam quebrar o pescoço a cada ano.
ÁRVORES: Em Nova York, carvalhos e bordos, juntamente com a invasora alianto, tomariam a cidade.
MOSQUITOS: Com o fim dos esforços de extermínio e o aumento dos charcos, grandes nuvens de insetos se alimentariam do restante da vida selvagem.
GATOS DOMÉSTICOS SELVAGENS: Eles provavelmente se sairiam bem alimentando-se de pequenos mamíferos e aves no mundo pós-humano.

...E OS PERDEDORES

Não há dúvida: nossos parasitas e animais de criação sentiriam nossa falta. Abaixo, uma lista das espécies que provavelmente sofreriam em conseqüência de nosso desaparecimento.

GADO DOMESTICADO: Eles se tornariam refeição deliciosa para leões-da-montanha, coiotes e outros predadores.
RATOS: Privados de nosso lixo, passariam fome ou seriam devorados pelas aves de rapina aninhadas nas ruínas dos prédios.
BARATAS: Sem os prédios aquecidos para ajudá-las a sobreviver no inverno, desapareceriam das regiões temperadas.
PIOLHOS: Como esses insetos são particularmente adaptados aos seres humanos, nosso desaparecimento levaria à sua extinção.

Alan Weisman é autor de cinco livros, incluindo The world without us (St. Martin’s Press, 2007). Seu trabalho já apareceu na Harpers, New York Times Magazine, Los Angeles Times Magazine, Discover, Atlantic Monthly, Condé Nast Traveler, Orion e Mother Jones. Weisman tem um programa na National Public Radio e na Public Radio International e é produtor sênior da Homelands Productions, organização jornalística que produz séries independentes de documentários para a rádio pública. Ele leciona jornalismo internacional na University of Arizona.

domingo, 22 de julho de 2007

Passo-a-passo para uma Campanha Ambiental

Balão da WWF na Campanha "Água para a vida, água para todos".

O Misa (Media Institute of Southern Africa) é uma organização sem fins lucrativos presente em 11 países do sul da África e com sede na Namíbia, que tem como principal objetivo promover uma imprensa livre, independente e plural. Um dos materiais produzidos pela organização é um guia que ensina o passo-a-passo para uma campanha (como defender uma causa). Veja a seguir a versão traduzida. Outras informações pelo site www.misa.org ou pelo e-mail advokit@misa.org

Primeiro passo:

Qual é o problema?
*Identifique o problema
*Por que atacar este problema em vez de outros?
*Quais as prioridades deste problema?

Uma análise resumida do problema:
*Quais são seus pareceres sobre o problema?
*Por que você está preocupado com este assunto?
*Qual é a sua ordem do dia?
*Quais são os outros pontos de vista existentes sobre esse problema?
*Você consultou homens e mulheres?
*Quais interesses são satisfeitos por cada ponto de vista?
*Quais interesses você acha que está satisfazendo?


Segundo passo:

Como você pode descobrir mais sobre esse problema?
*Colete informações sobre o assunto dentro de seu contexto local e nacional
*Pesquise sobre exemplos regionais e internacionais semelhantes
*Esteja familiarizado com as políticas, normas e diretrizes em vigor
*Encontre precedente realizado em outros contextos

Terceiro passo:

Qual a visão de sua campanha? Quais são as metas ao longo do caminho?
*À luz de sua pesquisa, você ainda mantém suas posições iniciais sobre o problema?
*Estabeleça itens não-negociáveis
*Identifique claramente suas metas. Foque nos pequenos passos


Quarto passo:

Identifique os jogadores!
*Quem você quer atingir?
*Quem tem o poder?
*Quais são seus aliados?
*Quais são seus oponentes?

Quinto passo:

Qual estratégia você vai usar para atingir suas metas?
Formule um plano de ação (incluindo algumas ou todas as seguintes táticas):

*Considere quais recursos humanos e financeiros você tem à disposição
*Forme um comitê de campanha com diversidade de gênero e subcomitês relevantes
*Construa alianças com outros grupos de interesse que são potenciais parceiros nessa campanha:
-Crie aliados e estude como interagir com eles
-Crie e-groups (grupos eletrônicos de discussão)
-Mobilize pessoas que você identificou como jogadores
*Capte recursos
*Compartilhe informações. Crie um informativo ou um boletim
*Nomeie um porta-voz e identifique pessoas carismáticas que vão, publicamente, se associar à campanha
*Consiga cobertura da imprensa:
-Envie releases
-Redija cartas aos editores dos veículos de comunicação
-Publique artigos na imprensa
-Veicule anúncios
-Conceda entrevistas às emissoras de rádio e televisão
-Desenvolva cartazes
-Crie músicas de protesto
*Consiga atenção do público:
-Camisetas
-Adesivos
-Botons
-Murais
-Organize encontros e fóruns públicos
-Realize protestos públicos – considere usar práticas pouco comuns
*Identifique pessoas-chave e desenvolva estratégias para influenciar o governo e outros setores
*Se aproxime de seus oponentes promovendo, por exemplo, debates públicos
*Lide com ataques e contra-argumentos dos oponentes
*Considere os potenciais riscos e conseqüências


Sexto passo:

Como você monitorará e avaliará o sucesso de sua campanha?
*Relate o andamento da campanha
*Arquive todos os resultados da campanha (fotos, recortes de jornais etc.)
*Considere mudanças de rumo quando for necessário
*Avalie seus resultados e fracassos de acordo com as metas estipuladas
*Como você vai fortalecer sua campanha e levá-la adiante?

Enviado por Roberto Lamego (roberto.lamego@uol.com.br) e Luiz Augusto Siqueira (luiz@ashoka.org.br)
Outras informações pelo site www.misa.org ou pelo e-mail advokit@misa.org

sexta-feira, 20 de julho de 2007

Captação de recursos

"Captando Recursos para Financiar Projetos"
Por Eridiane Lopes da Silva


Prezados(as) Amigos(as),
Após conversar com diversos representantes de instituições sem fins lucrativos que desejam executar projetos ambientais, sociais ou culturais, e ouvir as mesmas dúvidas e preocupações sobre como captar recursos para a execução de seus projetos resolvi juntar materiais sobre o assunto e montar uma página na internet para divulgá-los. A página se chama Captando Recursos para Financiar Projetos e seu endereço na WEB é
http://geocities.yahoo.com.br/captando.recursos/Como é uma página de hospedagem gratuita (Geocities Yahoo!), ela pode ficar temporariamente fora do ar por excesso de acessos ao mesmo tempo. Caso isso aconteça com vocês, peço desculpas pelo transtorno e solicito que tentem novamente mais tarde. Aqueles que tiverem materiais relacionados ao assunto Captação de Recursos para Financiar Projetos e desejem compartilhá-los com o maior número de pessoas possível, solicito que entrem em contato comigo pelo e-mail captando.recursos@yahoo.com.br
Engª Agrª Eridiane Lopes da Silva - Analista Ambiental APA do Ibirapuitã/IBAMA/RS
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Captação de Recursos
Por Hélio de Carvalho Matos*

A primeira idéia que vem à mente das pessoas quando se pensa em captação de recursos é a de se trata de captação de dinheiro. Muito embora a questão financeira seja sempre o carro-chefe das tarefas negociativas de qualquer organização, a ciência de buscar recursos envolve, ou pode envolver – simultaneamente ou não, dinheiro, tecnologias, cessão de pessoal qualificado, equipamentos, infra-estrutura, etc.
Várias são as fontes originais de recursos: governo municipal, governo estadual, governo federal, estatais, bancos, empresas privadas, agências de financiamento, fundações e institutos privados, nacionais e internacionais.
No Brasil, a prática da responsabilidade social, está sendo cada vez mais difundida e praticada. Cerca de dez milhões de brasileiros e brasileiras estão realizando serviços voluntários de assistência social. Estudos realizados pelo Ministério do Planejamento, através do IPEA, mostram que mais da metade das empresas brasileiras, participam ou exercem alguma ação social.
Identificar fontes de financiamento, elaborar boas propostas, obter recursos para viabilizar as obras sociais, implantar de forma eficiente os projetos e prestar contas às instituições ou pessoas doadoras. Estas são as etapas a serem percorridas, todas imprescindíveis para quem tem a direção de uma organização não-governamental.
A captação de recursos financeiros, salvo as exceções, ainda está sendo desenvolvida no Brasil de forma amadorística. Na realidade, a preocupação com a formação de recursos humanos especializados na angariação de recursos financeiros ainda é muito recente e somente agora está dando os seus primeiros passos. Basta ver que somente agora começaram a surgir nas Universidades e nas escolas de administração do País oferta de cursos específicos no terceiro setor.
Nos Estados Unidos, por exemplo, para a promoção do desenvolvimento social, existe um vasto universo de profissionais treinados e instituições capacitadas em captação de recursos. As técnicas utilidades para esta atividade, que no idioma inglês denomina-se "fund raising", foram desenvolvidas desde o início do século XX. Já em 1920, os Estados Unidos começaram a ter cursos superiores de administração neste campo.
Anualmente, é realizado neste país um congresso internacional de captadores de recursos, evento que permite a troca de experiências, informações e a difusão de novas tecnologias. Este encontro, que reúne gente de todo o mundo, é organizado pela Association of Fundraising Professionals - AFP, instituição norte-americana fundada em 1935.
Pesquisa realizada pela Universidade norte-americana John Hopkins e pelo Instituto Superior de Estudos da Religião - ISER, concluiu que o terceiro setor brasileiro, apesar das dificuldades encontradas, já movimenta 20 bilhões de reais, a cada ano, e gera 1,5 milhões de empregos, em um universo de 250.000 organizações não-governamentais.
Custódio Pereira, em seu livro intitulado Captação de Recursos, enfatiza os desafios enfrentados pelas organizações brasileiras sem fins lucrativos para obter dinheiro que lhes permitam desenvolver o trabalho social.
Segundo ele, "tendo em vista que qualquer forma de captação de recursos passa pelo doador, seja ele pessoa física ou jurídica, deve-se ter em mente que para levar o doador a tomar a decisão de contribuir para uma causa ou organização é preciso sensibilizá-lo, convencê-lo da necessidade e da importância de sua contribuição. E para convencê-lo, é preciso conhecer os fatores que podem motivá-lo a doar e influir em sua decisão de contribuir para uma causa".
No Brasil, foi criada a Associação Brasileira de Captadores de Recursos - ABCR (
http://www.abcr.com.br/ ) , que tem como missão promover, desenvolver e regulamentar a atividade de captação de recursos, com o objetivo de apoiar o Terceiro Setor na construção de uma sociedade melhor.
Instituições públicas, bancos, fundações e empresas privadas, no Brasil e no exterior, dispõem-se a financiar projetos sociais. O sucesso na obtenção dos recursos vai depender, fundamentalmente, da qualidade dos projetos e da competência com que é executado o processo de negociação. É imprescindível, obviamente, que as propostas estejam adequadas às prioridades dos financiadores.
Clareza quanto ao foco do público-alvo, metas bem definidas, riqueza dos materiais informativos, imagem positiva, bons contatos, referências anteriores, filosofia altruísta e os bons valores da entidade solicitante serão os grandes aliados para o êxito na captação dos recursos financeiros.
Outro ingrediente essencial para a continuação do sucesso na angariação de doações dependerá da satisfação ao doador, através do envio de relatórios e informações sistemáticas dos resultados da aplicação dos recursos. É necessário explicar e mostrar claramente os efeitos positivos dos projetos em andamento e os já concluídos.
Isto proporciona transparência e responsabilidade da entidade solicitante, fazendo com que aumentem as chances de manutenção e crescimento da obtenção de recursos. Os financiadores e doadores querem e merecem a devida prestação de contas. Afinal de contas, eles demonstraram acreditar na causa e na lisura da administração da entidade.
A tarefa de buscar financiamentos exige, portanto, competência e técnicas próprias. Quem procura captar recursos para uma organização não governamental, sem fins lucrativos, deve preparar-se de forma profissional. Quem procura recursos não pode apresentar-se como quem busca caridade, e sim como representante de uma entidade que irá utilizar o dinheiro e o apoio recebido de forma eficiente e responsável.
Compensa ler o que dizia o estadista norte-americano Benjamin Franklin, sobre a melhor política para arrecadar fundos. Convém prestar atenção ao seu pensamento, por ser tão atual nos tempos de hoje como foi no ano de 1750.
Dissertando sobre a maneira mais efetiva de obter doações para uma boa causa, Franklin disse: “Meu conselho é que ao solicitar donativos você principie por aqueles que você tem certeza que farão uma doação, por menor que seja. Em seguida, peça àqueles sobre os quais você não tem certeza de que darão alguma coisa, mas apresentando-lhes a lista do que já contribuíram. Finalmente, não descarte aqueles que você tem certeza de que não contribuirão com nada, porque em alguns casos você estará equivocado.”

No mercado brasileiro, algumas empresas e instituições estão se especializando na elaboração de projetos sociais e/ou na negociação dos recursos junto a fontes doadoras, nacionais e internacionais. Veja, a seguir o endereço de algumas destas instituições:

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CAPTADORES DE RECURSOS
Rua Aliados, 970 – Alto da Lapa – SP Cep: 05082-001 São Paulo – SP
Site:
http://www.abcr.com.br/ E-mail: captadores@yahoo.com.br

CABRAL & KOWADA LTDA
SGAS 910 - Conj B - Sala 116 - Mix Park Sul Cep: 96080-227 Brasília-DF
Tel: (61) 443 9278 Fax: (61) 443 3327 E-mail:
cabralcon@terra.com.br

CONSULTORIA E PLANEJAMENTO LTDA - CONSPLAN
Rua Coelho Rodrigues, 1466 - 1o andar - Centro Cep: 64000-080 Teresina - PI

Tel: 86 - 221-4994
Site: http://www.consplanltda.com.br/ E-mail: consplanltda@uol.com.br

* Hélio de Carvalho Matos
INSTITUTO BRASILEIRO DO TERCEIRO SETOR – IBTS - SQS 102 – Bl. B – AP. 106 - Cep: 70330-020 - Telfax: (61) 224 4506 -Brasília – DF -
Site:
http://www.ibts.kit.net/ E-mail: ibts@brasilia.com.br

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Captação de Recursos: um meio para se atingir sua missão:
Por Maria Célia T. Cruz

E agora, o que fazer? Esta é a pergunta que várias organizações da sociedade civil se fazem diante do decréscimo das verbas governamentais, dos recursos internacionais provenientes de fundações ou agências e do aumento de demanda por prestação de serviços aos quais estão sendo submetidos.
No sentido de levarem adiante sua missão e conseguirem se destacar pela qualidade de suas realizações, as instituições sem fins lucrativos sabem que precisam conseguir um equilíbrio financeiro que lhes permita manter a confiança da comunidade na execução de seus serviços.
É importante que ao solicitar uma doação tenha-se claro que esta será destinada a uma causa de valor e que se trata de uma oportunidade de investimento com ganhos sociais, sem o menor demérito para o solicitador ou para a instituição. O doador deverá ser envolvido com a instituição e com o sucesso da missão. Dentro dos projetos existentes na instituição, é importante descobrir quais possuem uma maior identidade com as motivações do doador. Será feito um acordo onde a instituição se compromete a respeitar a destinação da doação conforme a finalidade do doador. Os recursos solicitados para a realização dos projetos deverão ser o meio para levar adiante a missão da instituição.
Captar recursos está diretamente relacionado ao sucesso de bem administrar a organização, inclusive do ponto de vista da boa gestão financeira. As pessoas querem contribuir, confiantes que sua doação será bem gerida. Para tanto, orçamentos, objetivos e justificativas do pedido deverão ser bem elaboradas e entregues ao potencial doador. Além disso, é importante lembrar aos doadores, que contribuições à instituições sem fins lucrativos de utilidade pública, poderão gerar isenções fiscais (33% de abatimento para empresas não financeiras e 43% para empresas financeiras).
Atualmente, muitas organizações estão buscando a profissionalização e a institucionalização da captação de recursos e, nesse caminho, começam a se questionar sobre os princípios que norteiam uma captação de recursos ética.Sugere-se discutir internamente que tipos de fontes de financiamento não conflitam com a missão da instituição. Esta análise deverá ser feita antes do início da campanha para evitar divisões internas e problemas entre os financiadores, os captadores de recursos e a instituição. A ausência desta poderá diminuir a integridade da instituição e, portanto, a confiança da comunidade na execução dos serviços prestados.
Não alterar ou não desviar sua missão, ação, política e programa pelo fato das organizações receberem doação de alguma fonte em especial, consiste num princípio fundamental na captação de recursos. A missão de uma entidade sem fins lucrativos está além dos desejos de um potencial financiador.
* Por Maria Célia T. Cruz - graduou-se em economia pela USP, fez mestrado em economia na FGV e se especializou em captação de recursos. Hoje é a responsável pela Assessoria de Desenvolvimento Institucional da Escola de Administração de Empresas de São Paulo - Fundação Getúlio Vargas.

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O Papel da Comunicação na Captação de Recursos:
Por Dalberto Adulis, Janeiro/2002

A captação de recursos (fundraising) é um dos maiores desafios que as organizações do terceiro setor enfrentam na atualidade. Com a crescente escassez de recursos e o aumento da competitividade para obter fundos, as organizações se vêem, cada vez mais, obrigadas a aprimorar e inovar nas formas de captação de recursos.
Grande parte do sucesso nas atividades de fundraising depende do relacionamento que se estabelece com os doadores. Os potenciais doadores são pessoas ou instituições que geralmente compartilham com a missão, valores e objetivos gerais da organização e podem estar dispostos a contribuir para a realização de atividades ou projetos por ela desenvolvidos.Independentemente de quais sejam esses potenciais doadores (pessoas físicas, organizações públicas, privadas, do terceiro setor ou agências multilaterais), é certo que uma campanha de captação de recursos exige cuidados com a comunicação que se estabelece com cada um desses públicos, o que pode ser facilitado quando se elabora um plano de comunicação adequado.
Os esforços de comunicação da organização devem ter o propósito de aumentar a consciência dos potenciais doadores sobre a organização, suas atividades e, o que é fundamental, os problemas que a entidade procura solucionar através de suas ações.
Como a maior parte das pessoas ou instituições que apóiam uma organização do terceiro setor tem valores e opiniões comuns sobre causas sociais, econômicas ou ambientais, é fundamental que a entidade desenvolva programas de comunicação que propiciem um clima favorável para doações e, ao mesmo tempo, favoreçam o estabelecimento de relacionamentos duradouros com estes atores sociais.Uma organização pode utilizar diferentes meios de comunicação para se relacionar com seus públicos (contatos pessoais, cartas, telefonemas, e-mails ou website) e, geralmente, dispõe de materiais institucionais como folhetos, brochuras, folders, boletins ou jornais. O cuidado na elaboração desses materiais é muito importante porque os mesmos transmitem uma imagem da organização para os diferentes públicos que podem vir a ter interesse na organização (stakeholders).
Antes de iniciar uma campanha de captação de recursos é interessante que a organização desenvolva um material institucional que apresente de forma clara os objetivos e a lógica (razão de ser) da organização e as razões pelas quais o possível apoiador poderia oferecer seus recursos. Dispor de um material impresso formal é importante porque transmite confiança ao leitor e ainda confere um ar mais profissional à campanha ou à entidade. Este material, que pode ser um folheto ou uma brochura, precisa comunicar o objetivo da captação de recursos de maneira persuasiva, de tal modo que "toque" tanto o coração quanto a mente do público (doadores, financiadores ou voluntários).
O material precisa ilustrar de que modo os recursos captados poderão ser utilizados para que a organização continue e/ou amplie suas atividades com vistas a alcançar sua missão. Este material pode ser utilizado junto aos potenciais doadores e como meio de divulgação da entidade e seus programas junto a órgãos de imprensa, por exemplo. Ao divulgar suas ações a organização pode conquistar espaços de publicidade importantes, aumentando ou fortalecendo seus esforços de fundraising.

A elaboração de um simples folheto muitas vezes pode dar mais trabalho do que se poderia pensar à primeira vista, pois pode gerar discussões internas na organização sobre o conteúdo, a melhor linguagem, o formato, o design e o tamanho do documento. É claro que a participação de todos é importante na elaboração do material, mas é bom lembrar que nem sempre é possível obter consenso absoluto sobre todos os aspectos envolvidos. O emprego de um roteiro simples, como o apresentado a seguir, pode ser útil no processo de elaboração do material institucional para uma campanha de doações:

1. Introdução com o propósito de despertar interesse para a organização, seus desafios e os problemas que a mesma procura solucionar
2. Relevância da organização no contexto social e regional
3. Breve histórico da organização destacando sucessos do passado
4. Aspectos de destaque da organização e seus programas/serviços
5. Desafios atuais da entidade demonstrando que os mesmos foram devidamente avaliados
6. Lógica da campanha, demonstrando que a mesma resulta de um processo de planejamento
7. Explicação sobre como os recursos serão empregados e importância dos mesmos para o sucesso da iniciativa
8. Papel que a doação pode ter na solução dos problemas sociais visados
9. Apelo final para que efetue a doação
10. Instruções para realizar a doação

Nove Princípios para a Captação de Recursos:

1. Não se deve partir do princípio de que as organizações merecem receber apoio, mas sim de que o apoio deve ser conquistado. Quaisquer que sejam as realizações e projetos que a organização execute, é necessário provar para os que a apoiam e a comunidade o valor e a eficiência de seus esforços.
2. A obtenção exitosa de fundos não ocorre por acaso, mas, ao contrário, deve-se ao esforço árduo por parte de indivíduos devidamente preparados para realizá-la. A captação de recursos requer planejamento, pesquisa e estratégia.
3. A captação de recursos não é apenas obtenção de dinheiro, mas sim estabelecer e gerenciar relacionamentos com pessoas e organizações que podem ter interesse na sua organização.
4. As pessoas não doam recursos sem que haja uma razão. É necessário solicitá-los.
5. Apenas solicitar recursos é insuficiente. Por melhor, valiosa e eficiente que uma entidade seja, as pessoas darão recursos apenas se estiverem convencidas de fazê-lo.
6. Não aguarde um momento "oportuno" para captar recursos. Solicite recursos assim que você apresentar sua organização e seu plano para um possível doador. Caso não consiga, tente descobrir a razão da objeção e tente contorná-la, ou aceite a negativa e siga adiante.
7. Muitas vezes os diretores que têm êxito na obtenção de fundos não os solicitam diretamente, mas convencem outros para que os obtenham.
8. Você não pode decidir captar recursos hoje e recaptá-los amanhã. A recaptação exige tempo e paciência e requer planejamento. Inicie uma campanha de (re)captação de fundos antes que surja a necessidade.
9. Trate os potenciais clientes e doadores como trataria os clientes fieis em um negócio comercial. Nenhum negociante de êxito trata seus clientes como se eles tivessem a obrigação de comprar. É importante demonstrar como os possíveis clientes e doadores são importantes e tratá-los com cortesia e respeito.

Adaptação de Dalberto Adulis. Fonte: Tony Poderis (2002)
Fonte:
rits@rits.org.br http://www.rits.org.br

quarta-feira, 18 de julho de 2007

Estresse Moeda Verde.

O que se espera da Operação Moeda Verde é a punição nos rigores da Lei aos culpados pelos inúmeros crimes cometidos e a moralização no trato com o meio ambiente em Santa Catarina. Doa a quem doer!
Tudo que não pode acontecer é o Ministério Público se desentender com o Juíz Federal da Vara Ambiental Zenildo Boldnar, responsável pelo processo, dando oportunidade dos acusados tirarem proveito da situação, como foi informado na coluna de Moacir Pereira no Diário Catarinense:

Moacir Pereira - 18/07/2007
Juiz afasta procurador
O juiz federal Zenildo Bodnar, da Vara Ambiental de Florianópolis, acatou pedido de suspeição formulado pelos advogados do empresário Paulo Cezar Silva e afastou o procurador Walmor Alves Moreira dos atos relacionados com a Operação Moeda Verde. Os efeitos jurídicos do decreto judicial retroagem ao dia 1º de junho, data em que o pedido foi protocolado na Justiça Federal. Com a decisão, o procurador ficará afastado da Operação Moeda Verde, salvo decisão em contrário do Tribunal Regional Federal de Porto Alegre. A decisão foi comunicada ao procurador-geral da República, em Brasília.A suspeição representa um novo capítulo nas relações conflituosas neste processo entre o juiz Zenildo Bodnar e o procurador Walmor Alves Moreira. Já na decisão de 2 de maio, em que autorizou as prisões temporárias, o juiz fez comentários sobre a atuação do procurador-chefe da República, com reparos ao tempo em que ficou com o inquérito da Polícia Federal em seu poder. Com as deliberações seguintes à deflagração da Operação Moeda Verde, o procurador externou profundas divergências processuais em relação ao magistrado federal. No dia 29 de junho entrou com argüição de incompetência, por entender que apenas o juiz titular da Vara Ambiental teria prerrogativas para atuar. Na seqüência, o Ministério Público Federal entrou com pedido de correição parcial no Tribunal Regional Federal, mas a liminar pleiteada não foi concedida. Nestes últimos 50 dias, outro procedimento singular, com o pedido de suspeição contra o procurador Walmor Alves Moreira, apresentado pelos advogados do empresário Paulo Cezar Silva.
Recursos
Depois de cientificado da decisão judicial, o procurador Walmor Alves Moreira reuniu-se com colegas para examinar os efeitos e as medidas a adotar. O Ministério Público Federal emitiu nota declarando-se surpreendido com a decisão e fazendo reparos técnicos ao seu conteúdo pelo uso da expressão "decretou". Contestou o sigilo processual determinado pelo magistrado, alegando que houve divulgação antecipada pela imprensa e observando que esta limitação engessa a instituição, impedindo maior liberdade de atuação. Walmor Alves Moreira preferiu não conceder entrevistas sobre o novo impasse. Ainda assim, classificou a decisão de "arbitrária" e "uma violência contra o Ministério Público Federal". O chefe do Ministério Público Federal no Estado estuda recurso ao TRF de Porto Alegre, ao mesmo tempo em que confirma o ingresso de suspeição do juiz Zenildo Bodnar no Tribunal de Porto Alegre.

terça-feira, 10 de julho de 2007

Operação Moeda Verde!

O dia 03 de maio de 2007 talvez tenha entrado definitivamente para a história de Santa Catarina: A Operação Moeda Verde!

Amanhecemos com uma enxurrada de notícias de grande impacto: políticos, servidores públicos e mega-empresários, todos freqüentadores assíduos das colunas sociais, bajulados por boa parte da sociedade da capital Florianópolis tinham sido presos pela Polícia Federal. Todos suspeitos de participação em um esquema de corrupção e negociações de licenças ambientais.
A investigação era baseada na ocorrência de crimes contra a ordem tributária, falsificação de documentos, uso de documento falso, formação de quadrilha, corrupção e tráfico de influência. A Polícia Federal estava há nove meses nessa “gestação” investigativa de um verdadeiro balcão de vendas de leis e atos administrativos visando o lucro, numa ganância deslavada pela construção de empreendimentos imobiliários em Florianópolis. Só para se ter uma idéia, foram inaugurados dois grandes shoppings center simultaneamente. Um deles em área de mangue.

Tudo começou numa investigação requerida pelo Ministério Público Federal baseados em indícios de crime na construção de um empreendimento no luxuoso bairro de Jurerê Internacional. Nove meses de escutas telefônicas proporcionaram um puxão de um enorme e enrolado novelo que parece estar muito longe do fim.

Se não bastasse o envolvimento de um lado poderosos empresários e do outro os órgãos de fiscalização ambiental, a Câmera de Vereadores e a Secretaria de Urbanismo e Serviços Públicos, agora surge na imprensa a divulgação de gravações que sugerem o envolvimento do Prefeito da capital e seu irmão Deputado Federal com dois então vereadores (foram cassados recentemente) e o dono do famoso Costão do Santinho Resort, Fernando Marcondes de Mattos, que teria “doado” meio milhão de reais para campanha eleitoral.
Essa história vai longe...
O dono do Costão do Santinho é preso preventivamente pela Polícia Federal.

Mais informações sobre a Operação Moeda Verde? Acesse: http://moedaverde.blogspot.com/
Quer ver o que pensa o Governador (*) sobre meio ambiente? Acesse: http://video.google.com/videoplay?docid=-8286208201407673708&hl=en
(* Atenção: Não nos responsabilizamos por nenhum efeito colateral ocasionado pelas palavras do Sr. Governador.)

segunda-feira, 9 de julho de 2007

Relatório da captura do Puma em SC.


Foto: Guto Kuerten - DC
Relatório de Captura de um filhote de puma no município de Capão Alto e sua manutenção na Base Avançada de Pesquisa (BAP) do Ibama no município de Painel, Santa Catarina
Marcelo Mazzolli - Biólogo, Ph.D. - Projeto Puma - Email: marcelo@projetopuma.org - Tel: 48 9901-0295

A captura do puma: Dia 1 de julho de 2007 (domingo), aproximadamente as 13 horas, fui chamado pelo professor Auri do Centro de Ciências Agroveterinárias (CAV) da UDESC para atender a uma ocorrência de captura de puma no município de Capão Alto, vizinho a Lages, mais precisamente na localidade de Raposo e quilômetro 19 da BR antiga.O animal havia sido capturado por um proprietário na noite anterior, o qual no dia seguinte solicitou o atendimento da Polícia Ambiental. Eu, o professor Auri, e mais três policiais fomos atender ao caso. Segundo o relato do proprietário, o animal havia se aproximado da casa a uma distância calculada de 15 metros, quando seus cães fizeram o animal subir em uma árvore em um bosque situado entre 15 e 20 metros da casa. Os proprietários então procederam a captura do animal, acondicionando-o em uma gaiola (Fig.1). Tratava-se de um filhote de puma com aproximadamente 3 meses de idade, com dentição de leite. Deduziu-se que o animal estaria desacompanhado na ocasião da captura, pois mesmo que nesta idade o animal ainda seja dependente da mãe para sobreviver, é provável que se estivesse com a mãe esta não permitira que um animal tão pequeno se aproximasse de uma habitação humana e se sujeitasse a riscos tão grandes quanto a proximidade de com cães, etc. Por esta razão decidiu-se mantê-lo em cativeiro.


Figura 1. Filhote de puma na ocasião em que foi capturado pelo proprietário na localidade de Raposo, município de Capão Alto.

A transferência do puma para a Base Avançada de Pesquisa (BAP) do Ibama: A BAP (Fig. 2) é um local amplo, onde há água corrente natural e habitat conectado.


Figura 2. Entrada da Base Avançada de Pesquisa do Ibama (BAP)

Da captura no dia 1 de julho, o puma foi encaminhado (Figura 3) para o Hospital Veterinário do Centro Agro-Veterinário (CAV) da UDESC em Lages, onde ficou até o dia seguinte, quando então foi transferido para a Base do Ibama. Dia 3 de julho um viveiro de pássaros foi preparado para receber o animal, onde planeja-se deixá-lo provisoriamente até que seja construído um recinto adequado.


Figura 3. Transportando o o filhote de puma.

O recinto recebeu um tronco oco onde o animal pode se esconder quando lhe convém. Ao ser solto no viveiro, imediatamente buscou refúgio neste abrigo (Fig. 4)


Figura 4. O filhote de puma imediatamente se acomodou dentro do tronco oco colocado no viveiro, onde sente-se mais seguro.

O viveiro foi instalado na borda de um bosque, onde a mescla de luminosidade e sombra é adequada, e onde os visitantes podem observar da estrada interna sem perturbar o animal. Além disso, o local pode ser observado a partir de uma das casas utilizadas pelos funcionários. Neste mesmo local sugere-se a construção de um recinto definitivo.

Sobre o puma no Planalto Catarinense: Apesar de ser considerado um animal vulnerável à extinção no Brasil, no sul do Brasil a espécie ainda está amplamente distribuída nos Planaltos Catarinense, Riograndense e Paranaense, e nas regiões costeiras da Serra do Mar. Desde 1988 o Projeto Puma vem registrando os pumas em Santa Catarina. De lá para cá registrou-se um processo de recolonização do puma em várias regiões do estado. Os primeiros registros de ataques se deram em áreas mais florestadas, e somente a partir de 1993 o puma começou a aparecer nas áreas mais abertas de campos nativos do planalto. Esta recolonização a partir de áreas mais florestadas para áreas mais abertras foi registrada em tempo real na fase de pesquisa entre 2003 e 2006 (ver relatório em http://uniplac.net/~puma/Artigo_wwf.pdf, pg. 17), quando algumas fazendas em situadas em área de campo mais ‘limpo’, as quais nunca antes haviam registrado perdas de ovelhas, começaram a sofrer os primeiros ataques de puma. O Planalto Catarinense, inclusive no município de Capão Alto onde o filhote de puma foi capturado, talvez seja uma das áreas de maior conflito entre pecuaristas e o predador, que é por isto constantemente abatido por atacar rebanhos domésticos, principalmente ovinos. Estimativas não-oficiais calculam que entre 10 a 20 pumas são abatidos anualmente na região. Veja abaixo os projetos com parcerias que estão sendo implementados para solucionar este problema.

Parcerias entre o Projeto Puma e a BAP: A BAP, por ser uma área ampla e contextualizada em um habitat conectado, tem muitas espécies nativas como a jaguatirica, a paca, lontra e até puma, todos registrados no local com auxílio de armadilhas fotográficas, cedidas pelo Projeto Puma e utilizadas pelo funcionário Wiliam Veronezi.Além dessa cooperação, o Projeto Puma foi um dos intermediadores de um projeto de Termo de Cooperação entre a Universidade do Planalto Catarinense (UNIPLAC), na qual sou professor, com a BAP, enviado ao Ibama de Florianópolis para apreciação.Este Termo, elaborado em coordenação com os funcionários da BAP, prevê a instalação de um Laboratório de Vida Silvestre no local, onde serão expostas peças de animais taxidermizados da UNIPLAC para utilização em educação ambiental (ação que já vem sendo promovida pela BAP), e a participação de estagiários da UNIPLAC em pesquisas com vida silvestre na BAP e arredores.O Projeto Puma tem um Termo de Cooperação com a UNIPLAC para outras parcerias em projetos de ensino e pesquisa ambiental, tanto que está atualmente instalado no Laboratório de Ecologia desta Universidade. Portanto, estamos fazendo um trabalho a longo prazo de cooperação inter-institucional para melhorar a condição ambiental da região.

Outras parcerias: Uma parceira do Projeto Puma com a Polícia Ambiental prevê o monitoramento de propriedades que sofrem sistematicamente com ataques de puma a rebanhos. Para incentivar pecuaristas a adotar medidas que possam reduzir os ataques e conseqüentemente a perseguição e abate ilegal do puma, bastante comum na região, o projeto visa compensar perdas de algumas propriedades durante a fase de implementação destas medidas. Entre estas medidas estão a instalação de cercas elétricas, melhoramento ambiental da propriedade, e utilização de cães especiais de guarda para rebanhos de ovinos (cedidos pelo projeto).Neste projeto, estão previstos casos excepcionais de pumas que continuem a atacar mesmo com todas as medidas preventivas, o que requer a intervenção do projeto como forma de manter a credibilidade deste, e evitando que o pecuarista mate o puma e abandone o programa. Caso os valores dos prejuízos ultrapassem uma média razoável, cogitou-se a eventual remoção destes indivíduos para cativeiro mediante aprovação do Ibama, para a própria BAP. Este projeto de compensação e monitoramento já foi aprovado na polícia, e está em vias de captação de recursos. O abate ilegal de pumas na região é freqüente, sendo preciso a parceria dos pecuaristas para reduzir esta infração. O Projeto Puma já fez uma experiência de compensação a um pecuarista que estava seguindo orientações de manejo de rebanho mas que sofreu grandes perdas mesmo assim.

Manutenção do puma na BAP: Há duas opções acerca do destino do animal: 1. Destiná-lo a um zoológico e; 2. Mantê-lo na BAP em Painel. Defendemos que o animal permaneça no Ibama por vários motivos. Um deles é a costumeira falta de condições de zoológicos, tanto em termos de espaço físico quanto de alimentação e acompanhamento veterinário. Durante a manutenção do puma na BAP, este terá (como já está tendo) acompanhamento veterinário do CAV-UDESC.Outra razão para manter o animal é a potencialização da educação ambiental com a espécie, que é conhecida na região por atacar rebanhos, mas desconhecida em outros aspectos mais positivos. Um trabalho de educação ambiental com crianças principalmente iria surtir um efeito positivo na conservação desta e de outras espécies regionais no futuro. A BAP já recebe visitas e promove a educação ambiental, de maneira que não haveria acréscimo de funções.Além disso, poderia ser o primeiro passo para construir um cercado que possa abrigar outros pumas que venham a causar problemas mais sérios na região, onde poderiam ser mantidos temporariamente ou definitivamente.O Projeto Puma se encarrega de buscar recursos para construção dos recintos e manutenção do animal em cativeiro. No dia de hoje, por exemplo, o autor deste relatório e o funcionário do Ibama José Augusto de Córdova Lemos estiveram no fórum para inscrever o Projeto Puma como entidade para receber recursos oriundos de compensações ambientais, a partir das quais seria possível aplicar na manutenção do puma na BAP.

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Apresentação: O Projeto Puma é uma associação sem fins lucrativos, de direito privado, fundada em 05 de novembro de 1993, com registro no Diário Oficial da União. Seu objetivo é buscar a proteção e recuperação da natureza. Teve início como um projeto de pesquisa, atendendo a relatos de ataques de puma a rebanhos em parceria com o IBAMA.

ECOLOGIA DE POPULAÇÕES E COMUNIDADES • BIOLOGIA DA CONSERVAÇÃO • ECOLOGIA DE PAISAGEM - CNPJ 74.082.462/0001-31

Resultados principais: Mapeamento do puma em Santa Catarina, registro de hábitos de ataques a rebanhos, e recolonização do puma no Planalto Catarinense, publicados em:

- MAZZOLLI, M.. 1993. Ocorrência de Puma concolor em áreas de vegetação remanescente do Estado de Santa Catarina. Revista Brasileira de Zoologia 10: 581-587.(http://uniplac.net/~puma/puma.pdf)

- MAZZOLLI, M., GRAIPEL, M. E., DUNSTONE, N. 2002. Mountain lion depredation in southern Brazil, Biological Conservation 105: 43-51.(http://uniplac.net/~puma/lion_depredation.pdf)

- MAZZOLLI, M. 2005. Efeito de gradientes de floresta nativa em sistemas agropecuários sobre a diversidade de mamíferos vulneráveis. Relatório do Projeto CSR 283-2002, WWFBrasil, Brasília, DF. (http://uniplac.net/~puma/Artigo_wwf.pdf)

- outros resultados em http://uniplac.net/~puma/page_download.html

Marcelo Mazzolli é Doutor em Ecologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2006), mestre em Ecologia pela University of Durham (2000), e Bacharel em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Santa Catarina (1992). É consultor do Grupo de Especialistas em Felinos (CSG) da União Mundial para Conservação da Natureza (IUCN) desde 1997, fundador e diretor-geral do Projeto Puma desde 1993, professor de zoologia desde 2004, e participa do GT de Felinos Ameaçados do IBAMA desde 2005. Lecionou cursos de ecologia da paisagem e manejo de fauna. Organizou e desenvolveu vários projetos com ênfase em conservação da natureza, incluindo de mecanismos e modelos de diagnóstico e compensação ambiental, e também cursos e expedições de campo, nacionais e internacionais, tendo como tema a conservação de habitats e da fauna. Implantou o projeto Corredor do Tigre. É webmaster e editor da página do Projeto Puma na internet (www.projetopuma.org), onde estão disponíveis mais informações sobre projetos executados pelo autor. Doações para manutenção das atividades podem ser feitas diretamente na conta corrente do Projeto Puma, inclusive para manutenção do filhote capturado recentemente:

BANCO DO BRASIL - AG. 0307-7 CC. 32686-0

domingo, 8 de julho de 2007

Entrevista com Mario Mantovani

A Fundação SOS Mata Atlântica foi fundada em setembro de 1986 e é a maior ONG do país. Seus principais objetivos são “defender os remanescentes da Mata Atlântica, valorizar a identidade física e cultural das comunidades humanas que os habitam e conservar os riquíssimos patrimônios natural, histórico e cultural dessas regiões, buscando o seu desenvolvimento sustentado.”
Falar de Mario Mantovani é falar da SOS, e vice-versa. Ele é uma das maiores personalidades da preservação ambiental no Brasil e dispensa maiores apresentações.
"...Somos tão poucos e tão divididos... Os ruralistas e inimigos da Mata Atlântica agradecem!" - Mario Mantovani Imagem web.

* Entrevista exclusiva gentilmente concedida para o Pitacos da Lontra em novembro de 2006.
Fernando José Pimentel Teixeira e Christiane de Souza Pimentel Teixeira
Fernando e Chris: Mario, onde você nasceu e como foi sua infância? Quando criança qual era sua relação com a natureza?
Mario Mantovani: Nasci em Assis no interior do Estado de São Paulo, próximo ao Paraná e Mato Grosso, e a 50 anos atrás não tinha televisão... então a vida ao ar livre me ensinou muito... Minhas primeiras lições de amor a natureza foram em cima de trens de carga...indo para o desconhecido interior vendo estrelas com um Atlas celeste na mão. Quando não fazendo jornadas (caminhadas) a pé pela região e visitando a Grande Reserva do Pontal do Paranapanema no Morro do Diabo, descendo os rios Paranapanema e do Peixe por dias e dias de canoa e nadando em todos esses rios e poças de água que achava, brincando muito na rua, namorando nas matas e cachoeiras e acampando com os escoteiros. Minha família achava isso muito estranho e não tinham vinculações com meio ambiente...dos cinco irmãos...eu era a ovelha verde da família.

Fernando e Chris: Quais as diferenças que você mais nota no Brasil daquela época em relação ao que você encontra hoje?
Mario Mantovani: A maior diferença está nas pessoas, naquela época, mesmo com a implantação da ditadura não havia desconfiança e o medo com relação ao outro. A natureza ainda está em seu lugar e a destruição seguiu o ritmo da nossa sociedade, nem melhor, nem pior... E o tema que era complicado e exótico, de um bando de sonhadores, hoje se concretiza no nosso dia a dia. Às vezes acertamos e muitas vezes temos reveses. Mas não deixamos de acreditar e sonhar. Vale a pena.

Mario numa entrevista no sofá global do Programa do Jô. Imagem Programa do Jô.

Fernando e Chris: Quando estudante universitário você já imaginava trabalhar em prol do meio ambiente ou tudo foi acontecendo de modo natural, inesperado?
Mario Mantovani: Minha carreira foi fruto de uma vida, já sabia o que queria ser desde os 10 anos de idade: geógrafo. Quase me entusiasmei pela Engenharia Florestal por influência de um diretor de parque na minha cidade e pelo sucesso dos investimentos dos incentivos fiscais em reflorestamento...mas quando conheci melhor o curso...desisti. Sempre gostei mais das ciências sociais e minha história com esse curso tem continuidade.

"...o Governador em questão deveria ser interditado por provocar intensos impactos ambientais..."

Fernando e Chris: O programa Terras Paulistas da TV Cultura SP sempre mostra com grande propriedade a decadência da cultura quatrocentão, dos cafeicultores, do desmatamento da Mata Atlântica e o empobrecimento da terra ocasionada pelo modelo devastador da monocultura. Num futuro que me parece próximo, qual será a visão do que a nossa geração está fazendo com o que restou do bioma Atlântico?
Mario Mantovani: Aprender com as lições do passado deveria ser um caminho para a humanidade, mas a ganância e os preços dos comodities cegam os empreendedores e estamos novamente reproduzindo o caminho das monoculturas e dependendo de uma única atividade, agora com a agravante das tecnologias que excluem mão de obra e a função social da terra, como a reserva legal e APP para produção de águas e benefícios ambientais são um empecilho ao desenvolvimento... Já vimos esse filme, o desastre anunciado...

Mario e o Senador Sibá Machado, na luta pela Lei da Mata Atlântica. Imagem web.

Fernando e Chris: O Governador de Santa Catarina Luiz Henrique da Silveira ganhou o prêmio "Motoserra de Ouro 2006". O estado é um dos dois que aumentaram a área desmatada ano passado. Sua área era de praticamente 100% de Mata Atlântica. Quando é que a Aliança para Proteção da Mata Atlântica irá focar seus incentivos para Santa Catarina? Fora a Mata de Araucárias, a Ombrófila Densa terá algum cuidado?
Mario Mantovani: A proposta é essa, estamos ampliando o programa para atender todo o bioma, nossos limites são a captação de recursos. É de se lamentar que o poder público não faça a sua parte e o Governador em questão deveria ser interditado por provocar intensos impactos ambientais, sem possibilidades de mitigação.
(*Nota do Pitacos: O V Edital do Programa de Incentivo às RPPN da Mata Atlântica abrange a região sul do Brasil. Veja mais informações na página da RPPN Rio das Lontras)

Fernando e Chris: Como você vê as críticas em cima da Lei da Mata Atlântica? Por mais que você acredite nela, te assusta pensar na possibilidade de abrir brechas para a destruição dos últimos remanescentes?
Mario Mantovani: Pra começo de conversa não são críticas, são insanidades de quem não participou de um processo de construção de uma identidade ambiental para o país, desconhecer os caminhos de nossa política partidária e o jogo dos interesses de quem realmente é contra a sociedade é o pior tipo de ignorância que enfrentamos. Muito mais fácil enfrentar um Borhausen ou os Miquelettos da vida, pois sabemos suas posições e os interesses de seus grupos, do que os pretensos ambientalistas que se aliam ao que de pior existe, por incapacidade política, falta de ética, e um certo egoísmo em não querer valorizar a luta de tantos, por questões de desentendimentos pessoais e até falta de vergonha na cara. Quanto mais restritiva as legislações e quanto menos incentivos e instrumentos de controle social dispusermos mais saídas e subterfúgios vamos ter para quem não quer cumprir um compromisso com a defesa do meio ambiente e da vida. Veja as leis de mananciais de São Paulo onde conseguimos as restrições máximas para proteger a água que bebemos e conseguimos uma cidade ilegal e criminosa. Somos tão poucos e tão divididos... Os ruralistas e inimigos da Mata Atlântica agradecem!!!!

Aqui ele faz o eterno trabalho de divulgação da causa ambiental: palestrando.
Imagem web.

Fernando e Chris: E até que ponto o IR Ecológico poderá beneficiar ações em prol da proteção do meio ambiente?
Mario Mantovani: Essa ação é uma forma de começarmos os pagamentos pelos serviços ambientais imediatamente e de revertermos a visão de que o meio ambiente atrapalha o desenvolvimento. Com isso conseguiremos mais recursos para quem quer trabalhar em defesa dessa causa e não termos tantas ONGs dependentes de Governos.
(*Nota do Pitacos: A Comissão de Finanças e Tributação aprovou em 20 de junho substitutivo ao Projeto de Lei 5974/05, do Senado, que cria o chamado Imposto de Renda (IR) Ecológico, permitindo a pessoas físicas e jurídicas deduzir parte das doações destinadas a projetos voltados à conservação dos recursos naturais.)

Fernando e Chris: Você viaja bastante. Quais os lugares mais interessantes de beleza e cultura que você encontrou pelo Brasil?

Mario Mantovani: Cada vez gosto mais desse país e de suas diversidade, por isso não conseguiria destacar um lugar ou situação. Nesse Brasil de tantas caras, paisagens e multicultural o melhor é viver intensamente todas essas sensações. Ao aprender a buscar superar as desigualdades sociais, superar o fosso que separa a imensa maioria pobre e os poucos ricos, a destruição do meio ambiente, a fome, a saúde precária e a falta de educação entre outras mazelas conseguimos tornar tudo isso matéria prima para nossa vontade de lutar e aperfeiçoar nossos ideais de vida.

Fernando e Chris: Se alguém confiável e com muito dinheiro te perguntar onde adquirir terras para criar uma RPPN, onde você sugeriria?
Mario Mantovani: Não acredito em Papai Noel, acredito que o pouco que temos precisa ser valorizado e o proprietário rural reconhecido...por isso indicaria incentivar quem já tem terra em qualquer lugar. Com isso conseguiríamos superar nosso maior problema ambiental do Brasil, a Regularização Fundiária.
Mario entre Alexandre Martinez da Confederação das RPPN e Chris. Foto: Arquivo pessoal RPPN Rio das Lontras.

Fernando e Chris: Quando a RPPN Rio das Lontras promoveu o histórico I° Fórum Catarinense das RPPN, a primeira vez que os proprietários se reuniram em Santa Catarina, a SOS Mata Atlântica esteve presente com sua então Diretora Jurídica. Numa outra oportunidade você esteve presente atendendo gentilmente nosso convite. Que tal a SOS Mata Atlântica abrir uma "filial" em Santa Catarina, voltada para a região sul? Brincadeiras a parte, não acha interessante diminuir a distância sul-sudeste?
Mario Mantovani: A SOS Mata Atlântica está em um bom momento e vive só da contribuição de seus sócios e seus projetos têm muito boa aceitação por parte dos parceiros, mas diferente de outros momentos, não pensamos em expansão geográfica, de pessoal ou de domínios, preferimos crescer junto com os parceiros e estamos caminhando pra isso. Precisamos consolidar nossas atividades, saber fidelizar nossos sócios e promover as parcerias que já estabelecemos, daí para buscar novos desafios, será mais um passo.

Fernando e Chris: Você já trabalhou pelo Governo Franco Monteiro em São Paulo para criar novos Conselhos Municipais de Meio Ambiente e ficou dez anos no Consema SP. Conquistamos uma cadeira para as RPPN no Consema SC. Pela sua experiência, o que diria da atuação dos Conselhos?
Mario Mantovani: São outros tempos, fiz isso nos anos 80 enquanto buscávamos consolidar as legislações ambientais, tive muita superação, pois a cada confronto com o poder público, buscávamos saídas para a mobilização da sociedade. Exemplos disso foram os prefeitos que quiseram subjugar os Conselhos e nos rachas e confrontos esses grupos de cidadãos se tornavam ONGs ambientalistas em resposta. Foram muitas as outras formas de enfrentamento e até de desobediência civil, nos anos da redemocratização do estado, com a criação dos Consórcios Intermunicipais de Bacias Hidrográficas contestamos a gestão centralizada, e de geração de energia dos recursos hídricos. Os Governos sempre se adaptaram aos tempos e buscam permanentemente cooptar a sociedade. Quando os Conselhos deixaram de fazer política pública de meio ambiente e começaram a ser uma extensão dos Aparelhos de Gestão, começaram a licenciar obras, os ambientalistas a serem votos vencidos e legitimando processos, eu procurei me afastar. O caso da Usina do Tijuco Alto do Grupo Votorantin foi a gota d’água! Para meus amigos deixo o alerta: acredito que temos muitos caminhos para ajudar o meio ambiente e as RPPNs. Sejam vigilantes e denunciem essas práticas!

"Não acredito em Papai Noel, acredito que o pouco que temos precisa ser valorizado e o proprietário rural reconhecido..."


Fernando e Mario no Viva a Mata 2007, realizado no Parque do Ibirapuera, São Paulo.
Foto: Luiz Alberto dos Santos.

Fernando e Chris: O Consema SC estuda o Licenciamento Ambiental Municipal. Como você vê essa questão? Acredita que é possível os municípios cuidarem de maneira responsável o trato com o meio ambiente?
Mario Mantovani: Uma das maiores realizações de minha história foi acreditar na gestão local, antes mesmo da Constituição de 1988 já tinha proposto ações locais e ajudado numa publicação um livro sobre Política Municipal de Meio Ambiente. Daquele momento pra hoje conseguimos idealizar e criar a ANAMMA e ter mais de 10 votos no CONAMA, abrir espaços de trabalhos para muitas de nossas lideranças, aproximar as questões ambientais da população, e buscar superar a maior dificuldade da gestão ambiental no Brasil. Fazer com que o SISNAMA deixe de ser um corpo somente com os membros superiores e sem os pés ou a conseqüente capilaridade. Se conseguirmos que os recursos irriguem todos os membros vamos realizar esse ideal. O SUS foi cópia dessa proposta e vem se consolidando. Nós temos um longo caminho pela frente, muito a superar... Descrenças e desconfianças que precisam ser superadas para a gestão ambiental ser em todos os níveis de governo. Se não, estaremos fadados ao fracasso ambiental e da cidadania. Pensar Globalmente e agir localmente nunca estiveram tão atuais.

Fernando e Chris: Mudanças climáticas, extinção de espécies, perda da biodiversidade, esgotamento dos recursos renováveis, poluição dos oceanos... Dá para ser otimista Mario?

Mario Mantovani: Não sou especialista em previsões apocalípticas e o tema fim do mundo não é meu preferido... Mas sou otimista pelo que faço, pelas pessoas que conheço, pelo que acontece em nossa volta, por saber que meus ideais de vida continuam com o mesmo entusiasmo da juventude aceitei o desafio... A luta continua!

Entrevista: Procuradora da República Analúcia Hartmann

Ela dispensa maiores apresentações aos ambientalistas de Santa Catarina pelo seu excelente trabalho em prol da defesa do meio ambiente no estado. Mas como não poderia deixar de ser, setores poderosos no estado atacam suas ações na Procuradoria da República. Polêmicas à parte, Analúcia mostra equilíbrio, inteligência e um amor pela causa ecológica que a credenciam cada vez mais a ser um dos grandes nomes da preservação da Mata Atlântica e de uma sociedade mais conscientizada e integrada com a natureza.

Fernando José Pimentel Teixeira e Christiane de Souza Pimentel Teixeira - RPPN Rio das Lontras

Fernando e Chris: Quando estudante universitária já havia o objetivo em trabalhar na área ambiental? Como foi sua caminhada até ser uma Procuradora da República?
Analúcia Hartmann: Cursei Direito na UFSC e militei no movimento estudantil, participando também de eventos feministas e ecologistas. Ingressei em uma ONG ecologista, o Movimento Ecológico Livre - MEL, logo depois de terminar a graduação.
Participei da criação da Federação das Entidades Ecologistas Catarinenses e da organização de encontros estaduais.
Foi na militância ecologista que conheci e aprendi a respeitar os Procuradores da República, especialmente a Dra. Ela Wiecko Wolkmer de Castilhos, a quem encaminhei inúmeras denúncias de degradação ambiental.
Entrei no Ministério Público Federal para trabalhar com proteção ambiental.

Fernando e Chris: Na sua infância já havia uma ligação com a natureza?
Analúcia Hartmann: Desde sempre eu recebi uma forte influência ecológica de meu avô paterno, dentista de profissão e agricultor por acaso e por amor à terra. Até hoje seus herdeiros mantém no Rio Grande do Sul uma área urbana de preservação, onde tudo foi plantado com adubação orgânica. Seu amor pelos animais e pelas plantas é uma lição inesquecível.
Minha preocupação com o meio ambiente também tem origem no fato de ter testemunhado a destruição ocorrida no norte do meu Estado natal, onde a agricultura diversificada e as florestas cederam o espaço à monocultura da soja, verdadeira tragédia ambiental e social. Aliás, esta ligação entre a degradação do meio ambiente e perda da dignidade das pessoas - qualidade de vida - sempre me serviu de orientação para uma visão mais politizada da ecologia.

Fernando e Chris: É verdade a afirmação de que temos uma das melhores leis ambientais do mundo? Como vemos tantas coisas erradas acontecendo? O que poderia ser melhorado?
Analúcia Hartmann: O Brasil tem uma legislação ambiental moderna e um instrumento processual extremamente eficiente para combater a degradação: a ação civil pública. Outro aspecto importante é a inclusão da proteção ambiental entre as funções de um Ministério Público independente.
Isto não quer dizer que tenhamos uma das melhores legislações ambientais. Isto é um mito.
Temos muito o que aprender sobre legislação e gestão ambientais, sobretudo com a comunidade européia e com os países escandinavos ou a Nova Zelândia.
Além dos problemas normais para a concretização da proteção ao meio ambiente, no Brasil ainda enfrentamos a falta de organização da sociedade civil e questões sociais graves.
Desenvolvimento sustentável é um tema muito mais difícil em um país com desigualdade de terceiro mundo do que naqueles em que a melhor distribuição de renda e a garantia de saúde e educação são realidades consolidadas.
A proteção ao meio ambiente no Brasil prescinde de políticas públicas adequadas, as quais só serão adotadas quando houver vontade política para isso, o que depende de consciência, de inteligência e de pressão social.
As organizações não governamentais, nacionais e internacionais, e os operadores jurídicos têm feito a sua parte, mas muita coisa ainda tem que ser mudada, especialmente esta confusão entre interesse público e interesses privados.
Nessa verdadeira batalha pelo patrimônio público ambiental, as boas práticas e as alternativas sustentáveis, como a da criação de RPPNs, são essenciais.

Fernando e Chris: Quem são os maiores vilões do meio ambiente em Santa Catarina?
Analúcia Hartmann: Santa Catarina tem um grave problema em seu órgão de proteção ambiental, a FATMA, que não tem estrutura e está contaminada pela pressão política e por práticas irregulares. Os poucos bons funcionários que lá estão não encontram espaço ou estímulo para atuação. Além disso, parte da elite econômica e política do Estado têm demonstrado miopia em relação aos problemas ambientais que se agravam. O imediatismo dos interesses que são priorizados e as concepções equivocadas sobre desenvolvimento - sem qualidade e sem suporte - são os grandes obstáculos para uma política ambiental estadual sustentável.
A FATMA funciona mal, a Companhia de Polícia de Proteção Ambiental não recebe o contingente e as verbas necessárias, não existe verdadeira educação ambiental, não se prioriza saneamento e a secretaria dita de desenvolvimento sustentável não produz resultados consistentes. Não há, portanto, planejamento para um desenvolvimento ecologicamente viável e socialmente justo.



Na foto, o contraste entre a Mata Atlântica com alta biodiversidade e uma área de silvicultura

Fernando e Chris: Em 2006 Santa Catarina foi um dos dois únicos estados que aumentaram a área desmatada na Mata Atlântica. Foi o maior em números absolutos. Onde está o erro?
Analúcia Hartmann: O desmatamento dos remanescentes de Mata Atlântica em Santa Catarina é resultado de política de fomento de reflorestamento com espécies exóticas, conjugada à ausência de fiscalização e ao agravamento da atividade fraudulenta/criminosa de algumas madeireiras, esta com a colaboração de funcionários públicos relapsos ou coniventes.
Infelizmente o IBAMA constatou tarde a estratégia relacionada à falsas florestas plantadas, o que propiciou o enorme desmatamento ocorrido especialmente até 2004, desmatamento este que visou justamente as espécies em extinção e de alto valor no mercado. E o que dizer da Operação Araucária, que contou com o apoio da Polícia Federal e do Ministério Público, mas que por omissão do IBAMA não mais está sendo realizado?
No caso da Mata Atlântica a omissão dos poderes públicos é vergonhosa. O Ministério Público tem se aliado as ONGs e a alguns abnegados funcionários do IBAMA e da Polícia Ambiental para tentar enfrentar a situação, cada vez mais preocupante.
A recente alteração na sistemática dos documentos para comércio de madeira é outro fato que necessitará de um esforço concentrado para que não degenere na aniquilação dos últimos remanescentes de florestas nativas fora das unidades de conservação.
Quanto às unidades de conservação, considero importantíssima a iniciativa do Ministério do Meio Ambiente em relação às araucárias. Outro ponto positivo é o trabalho da rede de organizações da mata atlântica, dos comitês de bacias hidrográficas e do conselho Estadual da Reserva da Mata Atlântica de Santa Catarina.

Fernando e Chris: O Governador Luiz Henrique da Silveira ganhou o prêmio Moto Serra de Ouro por uma série de fatores contra a questão ambiental (veja quadro abaixo). A política governamental segue contra a necessidade urgente de medidas sérias em prol da Mata Atlântica?
Analúcia Hartmann: Não há política pública estadual para a proteção da mata atlântica ou para soluções de desenvolvimento na forma preconizada pela Constituição Federal. Não há legislação estadual adequada e a desestruturação da FATMA corresponde à falta de prioridade para a área.
Pior: o Estado de Santa Catarina está atrasado na gestão de seus recursos hídricos - inclusive proteção de aqüíferos - e na instalação de redes eficazes de saneamento público.

Fernando e Chris: As Unidades de Conservação, em especial citamos as RPPN, estão totalmente sem respaldo da proteção e fiscalização de seu entorno pelo Ibama, da Fatma e da Polícia Ambiental. Para quem os proprietários de RPPN devem procurar socorro quando constatado algum problema?
Analúcia Hartmann: Os proprietários de RPPN não só não contam com o estímulo de políticas públicas mais consistentes, como também sofrem com a deficiência geral da fiscalização. Quanto à proteção do entorno e fiscalização ambiental, as RPPNs devem continuar procurando a Polícia Ambiental, o IBAMA, a FATMA e o Ministério Público, mas sugiro que haja um estreitamento da relação com os órgãos municipais (secretarias e conselhos de meio ambiente) e com as autoridades na área de educação e de polícia, visando construir um binômio educação ambiental e prevenção de crimes contra o meio ambiente.
Considerando que há uma sobrecarga de trabalho no Ministério Público, também é importante que as ONGs mobilizem-se para criar assessorias jurídicas (o que pode ser feito coletivamente) para apresentação de representações criminais e propositura de ações civis públicas diretamente.

Fernando e Chris: Os Termos de Ajusta de Conduta (TAC) não poderiam ser destinados em parte para projetos de educação ambiental e mesmo manutenção das RPPN. Por que razão isso não acontece?
Analúcia Hartmann: As verbas porventura geradas com termos de ajustamento de condutas podem sim ser destinada a projetos em RPPNs ou em seu entorno, inclusive de educação ambiental.
Há precedentes de obrigação de criação de RPPNs como compensação ambiental, e nada impede a destinação para a consolidação das reservas já existentes, especialmente quando houver usos públicos (pesquisa, educação, lazer contemplativo, etc) associados.
Neste aspecto, seria importante que tal reivindicação fosse levada oficialmente ao conhecimento do Fundo Estadual de Recuperação de Bens Lesados, entre outros.



Hidrelétrica de Barra Grande: "A floresta que ninguém viu..."

Fernando e Chris: O caso da Usina de Barra Grande e a destruição de centenas de hectares da quase extinta Mata de Araucárias depois de uma série de equívocos (para não dizer fraudes) vai servir ao menos para que se evite novas Licenças Ambientais fajutas?
Analúcia Hartmann: O que se espera é que erros como o do licenciamento da Barra Grande não aconteçam mais.
O termo de ajustamento de condutas firmado em relação a essa obra prevê a elaboração de um amplo diagnóstico ambiental da bacia hidrográfica do Rio Uruguai, entre outras medidas. Tal diagnóstico, que está sendo realizado, é um instrumento imprescindível para a gestão adequada daquele importante recurso hídrico e de todo o seu entorno.

Fernando e Chris: O colunista Cacau Menezes (Grupo RBS) deu grande espaço tanto no Diário Catarinense (Nota “As queixas” de 13 de outubro e “Um desabafo” em 14 de outubro) quanto no Jornal do Almoço para comentários contrários de empresários à atuação da Procuradoria, em especial ao seu nome. Esse tipo de ataque de setores financeiros poderosos te incomoda até que ponto?
Analúcia Hartmann: Os ataques dos responsáveis por interesses econômicos privados sempre ocorreram e infelizmente vão continuar a acontecer.
Por um lado demonstram que se está trabalhando, mas também denotam uma cultura arraigada de intimidação que já deveria ter desaparecido.
Alguns empresários e políticos locais pretendem ainda utilizar a seu favor e à margem da lei os bens ambientais e os poderes públicos. A visão míope prevalece: interesses privados se pretendem de utilidade pública e a destruição ambiental é afastada em nome do mito do desenvolvimento, este último conceito ridiculamente reduzido à construção de estabelecimentos comerciais.
No episódio recente fui confortada por centenas de manifestação de solidariedade e de apoio, inclusive de autoridades públicas e de empresários (vejam só!). O próprio colunista Cacau Menezes enviou-me correspondência dizendo estar sendo inundado por manifestações de elogios a meu respeito. Pena que publicou apenas uma.
A pressão injusta incomoda sim, mas é equilibrada pelo carinho das pessoas honestas e sérias, e pela consciência do dever cumprido.

Fernando e Chris: Agora esse mesmo colunista cita o morro da Cambirela sendo destruído e cobra atuação da Procuradoria. É muito difícil, ou mesmo impossível atuar em todos os casos. Como fica esse em especial?
Analúcia Hartmann: Todas as notas jornalísticas que contêm denúncias ambientais originam investigações e atuação, seja nesta capital, seja nas diversas Procuradorias da República nos municípios ou ainda no Ministério Público Estadual. A questão do Morro do Cambirela tem sido tratada por colegas, assim como outras extrações de minério, como comprova a notícia jornalística de hoje acerca da atuação do Procurador da República de Tubarão em relação a uma jazida que abastece a obra da duplicação da BR 101 sul.






João Paulo Capobianco, Secretário de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente faz palestra no Simpósio "O Ministério Público e a Proteção da Mata Atlântica"

Fernando e Chris: Atendendo gentil convite do Ministério Público Federal participamos do Simpósio “O Ministério Público e a Proteção da Mata Atlântica”. O que de concreto produziu um evento desse porte? Há previsão para novos eventos?
Analúcia Hartmann: O Seminário sobre mata atlântica produziu documentos de orientação muito importantes, inclusive para se tentar harmonizar a atuação entre os dois Ministérios Públicos. Também aproximou as ONGs dos Promotores e Procuradores.
Espero que tenha servido para dar uma visão mais abrangente do problema, sob pena de ficarmos atuando em focos específicos e perdermos a noção da importância do bioma como um todo.
Os avanços pós-seminário têm sido um pouco tímidos, até porque as recentes decisões do Tribunal de Justiça e as alterações via Resoluções do CONAMA têm demandado um grande esforço para manter-se a atuação de proteção.
Ainda no mês de outubro o MPE organizou, junto com o comitê do Rio Itajaí, uma discussão estadual acerca da Resolução 369 do CONAMA, a qual tem tido seu teor deturpado para servir a utilizações devastadoras das áreas destinadas às matas ciliares.
A coordenação estadual do MPE tem mantido a orientação consagrada pelo seminário da Mata Atlântica e está tentando reformar as decisões do TJSC, mas a luta é pesada.
Acredito que no ano que vem consigamos desencadear os seminários regionais, conforme entendimentos que vêm sendo mantidos entre Procuradores e Promotores.

Fernando e Chris: Numa audiência em seu gabinete comentei sobre a genial idéia da Chris em se ter uma Promotoria Especial de Unidades de Conservação, com ênfase nas RPPN, nos moldes da Promotoria Pública Temática da Serra do Tabuleiro. Como podemos levar essa idéia para frente?
Analúcia Hartmann: Uma Promotoria temática para as unidades de conservação é uma idéia bem interessante, e deve ser levada à coordenação de meio ambiente do MPE, onde é mais viável. Em relação ao Ministério Público Federal, nossas dificuldades com recursos humanos e a diversidade de realidades entre as Procuradorias nos municípios dificultam uma iniciativa desse tipo.

Fernando e Chris: Esgotamento dos recursos renováveis, efeito estufa, mudanças climáticas, perda da diversidade biológica, como a senhora imagina o nosso planeta para um futuro cada vez mais imediato e que nossos filhos e netos irão herdar? Dá para sermos otimistas?
Analúcia Hartmann: Uma coisa que aprendi com o movimento ecológico é que quando se trata de proteção ambiental há que haver muita paciência e perseverança: é trabalho de formiguinha.
A situação do planeta é grave, mas a conscientização também está sendo acelerada, haja vista as lições que a natureza tem dado ao homem.
Nunca antes foi tão preciso e precioso o lema de pensar globalmente e agir localmente.

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Um grande abraço para vocês do "Pitacos da Lontra" , parabéns pelo belíssimo trabalho e mais uma vez obrigada pelas demonstrações de apoio.

Analúcia Hartmann

Entrevista concedida em outubro de 2006. Veja também em: http://www.prsc.mpf.gov.br/noticias/Clipping/2006/251006_rppn_flop.htm


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Governador de SC ganha prêmio Motosserra:
O governador de Santa Catarina, Luiz Henrique da Silveira, foi agraciado com o prêmio Motosserra pela Rede de ONGs da Mata Atlântica - RMA.
A RMA instituiu há alguns anos o prêmio Amigo da Mata Atlântica e o prêmio Motosserra, para destacar pessoas e instituições que contribuem com a conservação do Bioma e também apontar aquelas que se destacam por contribuir com sua devastação. O prêmio Amigo da Mata Atlântica 2006 foi conferido ao Bispo Dom Luiz Cáppio por sua luta em prol do Rio São Francisco e foi entregue na semana da Mata Atlântica, em Ilhéus (BA), em maio deste ano.
A RMA anunciou o vencedor do prêmio Motosserra 2006 que foi conferido ao governador de Santa Catarina, Sr. Luiz Henrique da Silveira, por ter contribuído significativamente na devastação da Mata Atlântica, pelos motivos apontados a seguir:
1 - Segundo dados divulgados recentemente pela Fundação SOS Mata Atlântica, o Estado de Santa Catarina foi o campeão em desmatamento no período de 2000 a 2005, comparado a outros 7 estados. Neste período Santa Catarina aumentou seu índice de desmatamento em 8%, suprimindo 48.000 hectares, enquanto que os outros 7 estados juntos desmataram 46.000 hectares. O pior disso tudo é que os desmatamentos foram intensos na região da floresta com araucárias, que é o ecossistema mais ameaçado de extinção da Mata Atlântica, restando menos de 3%. Só para dar uma idéia, na área do atual Parque Nacional das Araucárias e seu entorno, de 2000 a 2004 foram desmatados 3.700 hectares, muitos deles com a autorização da própria FATMA, autorizando o corte de araucárias centenárias, como se fossem estágio inicial.
2 - Em fevereiro de 2006, o então Governador de Santa Catarina, entrou com uma Ação de Inconstitucionalidade questionando a Lei que instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservação e os decretos que criaram o Parque Nacional das Araucárias, a Estação Ecológica da Mata Preta e o Parque Nacional da Serra do Itajaí, numa medida claramente eleitoreira e contra todos os princípios da conservação do meio ambiente. Questionar a Lei do SNUC é inclusive uma afronta nacional.
3 - O Sr. Luiz Henrique da Silveira, enquanto governador, comandou um forte lobby contrário à criação de Unidades de Conservação na floresta com araucárias. Este lobby foi responsável por criar um verdadeiro clima de terror na população dos municípios onde foram realizados os estudos para a criação das UCs. Para se ter uma idéia da gravidade da situação, basta lembrar que as consultas públicas só foram realizadas graças ao apoio da polícia federal.
4 - Em abril de 2006, o Governo do Estado de Santa Catarina promove outro atentado às Unidades de Conservação, quando através do Decreto nº 4.273 transfere à empresa SC Parcerias, uma sociedade anônima, a área do Parque Florestal do Rio Vermelho, numa ação clara de inconstitucionalidade, ao transferir patrimônio público à iniciativa privada.
Fonte: Rede ONGs da Mata Atlântica – RMA, 25/09/2006