segunda-feira, 26 de setembro de 2011

MURIQUIS EM PERIGO

Deputados prometem impedir que a estrada cruze a RPPN

Ganhou corpo, durante a audiência pública promovida, na quarta-feira, 21, em Caratinga, pelas comissões de Transporte, Comunicação e Obras Públicas e de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Assembleia Legislativa de Minas Gerais,mobilização para evitar que a BR-474 invada a Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Feliciano Miguel Abdalla, obrigando o Departamento de Estradas e Rodagem de Minas Gerais (DER-MG) a manter o projeto original, que estabelece a construção de um desvio, retirando a estrada da reserva.

Biólogo Marcelo Nery explanou sobre os impactos que serão causados pela construção da estrada

O deputado Adalclever Lopes (PMDB), autor do requerimento para a realização da audiência, foi enfático em manifestar total apoio à luta da Família Abdala e da comunidade ambientalista, para impedir o asfaltamento dos seis quilômetros da rodovia que margeia a RPPN. “Audiência pública é a primeira ação para evitar que isso ocorra, levando o fato e a discussão a público. Eu, como presidente da Comissão de Propostas e Obras, assim como meus colegas, não permitirei isso, em hipótese nenhuma. Lutarei com unhas e dentes para que não haja a degradação desse patrimônio”.

Para o engenheiro Nívio Pinto Lima, Coordenador Regional do DER, o uso da palavra “invasão” é muito forte, deixando claro que não existe decisão alguma de pavimentar a rodovia cortando a reserva. “O projeto de conclusão da pavimentação da rodovia está em estudo. É evidente que o DER não vai e nem pode impor nada. Tudo está sendo negociado, conversado com órgãos do Estado e com o pessoal da Preserve Muriqui, sendo avaliado, analisado e em momento algum se falou em imposição. Precisamos ter cuidado, até, em fazer uma variante, para que ela também não seja danosa ao meio ambiente no futuro”.

Ele ressaltou, porém, que a alternativa, também, traria impactos, com grande volume de terraplanagem e cortes de barrancos de até 13 metros de altura, em terreno instável, sujeito a queda de barreiras. A variante teria entre sete e oito quilômetros. “Não há como fazer uma obra do porte de uma rodovia sem causar impacto. Mas estamos abertos a sugestões”.

O biólogo Marcello Nery, da Sociedade Preserve-Muriqui, administradora da RPPN, explicou que a estrada, mesmo de terra, já tem impacto sobre os animais, uma vez que ela separa a mata do rio Manhuaçu, usado por muitas espécies. “Dezenas e dezenas de animais são atropelados". Evaristo Hoste de Moura, participante da audiência, chamou a atenção para o fato de que a passagem da estrada pela reserva facilitaria o tráfico de animais silvestres.

Nos dias de hoje já se pode encontrar animais atropelados nas margens da estrada que corta a RPPN. Com asfalto, tendência é o aumento destes acidentes

O deputado Adalclever Lopes destacou a importância da RPPN. “A reserva não pertence só ao município de Caratinga, mas ao planeta! E precisa ser preservada! Por isso, a Comissão vai monitorar os projetos da obra. Não se pode permitir, em hipótese alguma, qualquer intervenção humana naquela região ou que seja feita a estrada dentro da reserva”.

Ele procurou tranqüilizar a comunidade ambientalista. “Há, apenas, uma sugestão, um estudo de viabilidade e não uma proposta clara e imediata de intervenção na reserva. Isso tira nosso temor sobre qualquer invasão. Nós, das Comissões de Transportes e de Meio Ambiente, não permitiremos qualquer tipo de intervenção que venha a causar danos à mata. Vamos nos mobilizar e impedi-la!”.

Além de Adalclever e do vice-presidente da Comissão de Transporte, Celinho do Sinttrocel (PCdoB), o deputado Gilberto Abramo (PMDB), também, manifestou seu apoio ao movimento, afirmando que acompanhará o desenrolar do caso. “Vocês têm mais dois aliados, além do deputado Adalclever”.

O proprietário da Fazenda Montes Claros, Roberto Abdala, elogiou a contribuição de Adalclever Lopes. “É compensador ver essa batalha e o deputado Adalclever abraçando a causa. Inclusive, gostaria de salientar que nesta semana estamos recebendo a visita de uma equipe de TV do exterior na reserva, para produção de um documentário sobre os Muriquis, que será exibido para o mundo inteiro durante a Copa do Mundo”.

Ele manifestou a posição de sua família. “Eu e meus irmãos somos contra a passagem dessa estrada dentro da reserva. Quando meu pai comprou a fazenda eram oito muriquis, hoje são 352. Nós, da Família Abdala, queremos continuar a preservar tal espécie, como meu pai fez ao longo de sua vida. Quando ouço algo sobre passar uma estrada dentro da mata, acho isso uma brincadeira. Por sinal, uma brincadeira de muito mau gosto”.

Fonte: A SEMANA AGORA