domingo, 31 de janeiro de 2010

PALIATIVO


No Dicionário:
paliativo

1. Que tem a qualidade de abrandar, de aliviar temporariamente um mal
2. Que atenua um problema ou adia uma crise, sem resolvê-la
3. Tratamento ou medicamento que tem eficácia apenas temporária; ANÓDINO
4. Meio ou recurso empregado para atenuar um problema ou adiar uma crise, sem resolvê-la


FMI anuncia criação de Fundo Verde de US$ 100 bi contra mudança climática

Objetivo é financiar os países pobres, segundo o organismo.
Formas de financiamento ainda vão ser detalhadas.

Da AFP

O Fundo Monetário Internacional (FMI) trabalha na criação de um Fundo Verde de US$ 100 bilhões para ajudar os países pobres a enfrentar os efeitos da mudança climática, anunciou a entidade em um comunicado publicado neste domingo (31) em seu site.

O diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn, afirmou durante uma sessão do Fórum Econômico Mundial de Davos (WEF) que é necessário ser criativo quanto ao tema do aquecimento global, já que os países em desenvolvimento não têm meios para lutar contra suas consequências, principalmente diante dos problemas orçamentários causados pela crise econômica mundial.

"Devemos então encontrar maneiras inovadoras de financiar a luta contra os efeitos da mudança climática. Vamos dar idéias, construída em torno de um Fundo Verde dedicado a financiar US$ 100 bilhões por ano - que é cifra aceita de forma comum para fazer frente ao problema", afirmou ainda, destacando que este fundo se baseará na capitalização procedente dos bancos centrais, apoiada com direitos especiais de giro emitidos pelo próprio fundo.

Os direitos especiais de giro são uma reserva internacional criada pelo FMI em 1969 como suplemento às reservas oficiais dos Estados membros e podem ser trocados por divisas correntes.

O FMI anunciou no sábado que vai elaborar um informe detalhando as idéias de como esse fundo será financiado.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

SEGUNDA DIVISÃO AMBIENTAL


Que vergonha!

Brasil cai de 34º para 62º em ranking ambiental dos EUA

da Folha Online

O Brasil caiu para o 62º lugar em um índice de performance ambiental elaborado pelas universidades americanas Yale e Columbia, informa Janaína Lage, de Nova York, em matéria publicada hoje na Folha (íntegra disponível para assinantes do UOL e do jornal).

O resultado coloca o Brasil atrás dos EUA, que ocupam o 61º lugar, com bom resultado em indicadores como qualidade de água potável, mas desempenho ruim na emissão de gases-estufa e poluentes.

Na última edição, há dois anos, o Brasil ocupava o 34º lugar.

Ainda assim, países com crescimento econômico acelerado, como China e Índia, estão muito atrás no ranking, e ocupam respectivamente o 121º e o 123º lugares.

sábado, 23 de janeiro de 2010

O ANO MAIS QUENTE DA HISTÓRIA




2009 foi ano mais quente já registrado no Hemisfério Sul, diz Nasa

O ano de 2009 foi para o Hemisfério Sul o mais quente da história, segundo dados da agência espacial Nasa. Globalmente, o ano passado perdeu em temperatura apenas para 2005, considerado o ano mais quente desde que se tem registros do tipo no planeta.

Os dados da Nasa mostram que a temperatura no parte Sul do planeta foi, no ano passado, 0,4º C superior à temperatura mais antiga de que dispõem os cientistas. A partir dessa referência, em 2005 a temperatura global foi cerca de 0,7º C mais alta.

A agência informa ainda que a década passada (2000 a 2009) foi a mais quente desde 1880, quando foram desenvolvidos os primeiros equipamentos capazes de medir temperatura com precisão.

O diretor do Instituto Goddard de Estudos Espaciais da Nasa (GISS, na sigla em inglês), James Hansen, explicou entretanto que o dado mais relevante é a tendência de alta nas temperaturas ao longo das décadas.
"Há uma substancial variação ano a ano da temperatura global que é causada pelo ciclo tropical El Niño-La Niña. Quando medimos a temperatura média ao longo de cinco ou dez anos para minimizar essa variação, descobrimos que o aquecimento global continua inabalável", disse.

Aquecimento global

Os dados apontam para uma clara tendência de aquecimento no planeta. Desde 1880, a temperatura subiu 0,8º C no mundo. Somente nas últimas três décadas, a alta foi de 0,2 graus.

Os cientistas do GISS acreditam que o aumento da temperatura global é causada pela presença de gases causadores do efeito estufa, como gás carbônico, na atmosfera terrestre.

Mas o instituto enfatiza que variações na radiação solar, oscilações na temperatura do mar dos trópicos e fenômenos como El Niño e La Niña também afetam sensivelmente a temperatura da Terra.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

CONSUMO PREDADOR

Consumismo é incompatível com preservação do planeta, diz ONG

da France Presse, em Washington

A luta contra o aquecimento global passa por uma renúncia ao consumismo para favorecer assim as iniciativas compatíveis com um desenvolvimento sustentável do planeta, segundo um relatório publicado na terça-feira (12) pelo Worldwatch Institute, com sede em Washington.

"Temos visto esforços para combater a crise mundial provocada pela mudança climática nos últimos anos, mas proceder a essas mudanças tecnológicas e políticas e manter uma cultura centrada no consumismo e no crescimento não é algo compatível", afirmou Erik Assadourian, do Worldwatch Institute.

Raimundo Pacco -6.jul.07/Folha Imagem

Luta contra o aquecimento global passa por uma renúncia ao consumismo para favorecer desenvolvimento sustentável, diz ONG

As despesas com o consumo nos países industrializados compreendem cerca de 70% do Produto Interno Bruto.

Segundo o relatório anual da instituição, a população mundial consumiu US$ 30,5 trilhões em bens e serviços em 2006, um aumento de 28% em dez anos.

Esse forte crescimento do consumo implica uma explosão da extração de matérias-primas e do consumo de energia.

Segundo ainda a instituição, os 500 milhões de pessoas mais ricas do mundo (cerca de 7% da população) são responsáveis por 50% das emissões de CO2, contra 6% dos três bilhões mais pobres.

CLASSE CONSUMISTA

Para especialista, nova classe C ignora sustentabilidade; leia entrevista

RICARDO MIOTO
da Folha de S. Paulo

Mais da metade dos brasileiros já fazem parte da classe C, que engloba famílias com rendas mensais entre R$ 1.000 e R$ 4.500, aproximadamente.

Em seis anos, 20 milhões subiram para esta faixa - e o fluxo continua. É gente descobrindo como é bom consumir, mas que não se preocupa muito com o planeta, diz Fábio Mariano, professor da ESPM e sócio da consultoria de comportamento do consumidor InSearch. Leia entrevista que ele concedeu à Folha.

*

FOLHA - A classe C pensa em consumo responsável ou só quer preço?
FÁBIO MARIANO - Ninguém se importa só com o preço. A classe C, por exemplo, vai ver quanto os eletrodomésticos consomem de energia. Mas porque ela está preocupada com a carteira, não com o mundo.

FOLHA - Então a nova classe média não quer saber, digamos, se a carne que compra vem da Amazônia?
MARIANO - Estas pessoas, que até 2000 chamávamos de excluídos, agora estão ganhando uma grana legal para fazer a festa no shopping. E há também o grande boom, que é a expansão do crédito. Mas só isso não adianta. A educação que recebem não está melhor. E precisa ter um certo aparelhamento pessoal para entender o conceito de sustentabilidade.

FOLHA - Mas os mais instruídos pagam mais por produtos verdes?
MARIANO - A classe alta até paga um pouco mais por produtos que favoreçam a sustentabilidade, mas ainda é pouco. Mesmo porque não existem muitos produtos assim no mercado. Você consegue citar dez? E, quando existem, a distribuição é restrita, não é algo disponível para as pessoas da classe C. Vai querer que peguem o ônibus para ir comprar no bairro rico?

FOLHA - Você não considera justo que o custo da sustentabilidade sobre para o consumidor, então.
MARIANO - Não. Repassar o custo da sustentabilidade é absurdo. Essa imagem de que o consumidor que quer pagar mais é consciente, enquanto o que não quer é um assassino que pretende acabar com o mundo... Vocês deliraram, né?

FOLHA - Poucos consumidores parecem pressionar as empresas...
MARIANO - Só os mais esclarecidos. Porque o consumidor tem um monte de problemas. Tem câncer, Aids, é chifrado, tem de pagar a escola do filho. Vai ter que se preocupar também com salvar o mundo quando a esposa está precisando de um medicamento? Querer que o consumidor, além de tudo, pague R$ 5 numa ecobag no supermercado? Empresa que cobra ecobag não tem vergonha.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

'GAIA: ALERTA FINAL"

E essa agora?

Biocombustíveis são embuste criado por interesses, diz autor em "Gaia: Alerta Final"

da Folha Online

Energia eólica, biocombustíveis e outras tecnologias "verdes" parecem ser alguns dos melhores investimentos para minimizar as alterações climáticas e ajudar a deter o aquecimento global, certo? Não para um dos ambientalistas mais respeitados do mundo, James Lovelock.

Conhecido internacionalmente por ser o autor da chamada hipótese Gaia --que, resumidamente, considera o planeta Terra como sendo um superorganismo--, Lovelock afirma em seu livro "Gaia: Alerta Final" que algumas destas tecnologias não passam de "um elaborado embuste criado pelo interesse de algumas nações cujas economias se enriquecem a curto prazo pela venda de turbinas eólicas, usinas de biocombustível e outros equipamentos energéticos supostamente verdes".


O ambientalista James Lovelock foi o autor da célebre hipótese Gaia

De acordo com ele, existem muitas coisas que podemos fazer para amenizar os problemas causados pelas mudanças no clima --no entanto, ele acredita ser muito pouco provável que realmente as levemos a cabo. "Não perceberemos, enquanto desfrutamos de nossas vidas cotidianas, que o custo de nossa negligência poderá em breve causar a maior tragédia já vista na história da humanidade", escreve logo no começo do primeiro capítulo da obra, "A Jornada no Espaço e no Tempo".

Desde que ele elaborou a hipótese Gaia e a publicou em "Gaia: Um Novo Olhar Sobre a Vida na Terra", nos anos 70, foram poucos os indícios de que a humanidade conseguirá reverter um cenário que se torna cada vez mais assustador. Talvez seja por isso que, aos 90 anos, ele pretende ser um dos primeiros civis a viajar ao espaço pela companhia Virgin Galatic, para "ver a Terra do alto antes que ela desapareça".

Leia a seguir um trecho do capítulo citado de "Gaia: Alerta Final" :

Capítulo 1

A jornada no espaço e no tempo

[...] No Reino Unido, sobrou pouca terra para cultivo e para nos alimentar, mas nós e os refugiados poderemos, de qualquer forma, não ser capazes de o fazer, porque a maioria absoluta de nós é urbana, e praticamente ignora a vida além da cidade, não entendendo que todas as nossas vidas dependem dele. As visões tão íntegras e bem-intencionadas da União Europeia para "salvar o planeta" e promover o desenvolvimento sustentável com o uso apenas de energia "natural" poderiam ter funcionado em 1800, quando havia apenas um bilhão de seres humanos no mundo, mas agora não podemos nos dar a esse luxo. De fato, à sua própria maneira, a ideologia verde que agora parece inspirar o norte da Europa e os Estados Unidos poderá, afinal, ser tão prejudicial ao meio ambiente real quanto o foram as ideologias humanistas anteriores. Se o governo do Reino Unido persistir em forçar os esquemas dispendiosos e nada práticos da energia renovável, em breve descobriremos que quase tudo o que resta da nossa região rural será usado para a produção de biocombustível, geradores de biogás e parques eólicos de escala industrial - tudo isto no exato momento em que precisaremos de todo o campo existente para o cultivo de alimentos. Não se sinta culpado por optar por essa bobagem: um exame mais profundo revela que ela é um elaborado embuste criado pelo interesse de algumas nações cujas economias se enriquecem a curto prazo pela venda de turbinas eólicas, usinas de biocombustível e outros equipamentos energéticos supostamente verdes. Não acredite por um momento sequer na conversa de vendedor de que isso salvará o planeta. A conversa mole dos vendedores tem a ver com o mundo que eles conhecem, o mundo urbano. A Terra real não precisa ser salva. Pôde, ainda pode e sempre será capaz de se salvar, e agora está começando a fazê-lo, mudando para um estado bem menos favorável a nós e outros animais. O que as pessoas querem dizer com o apelo é "salvar o planeta como o conhecemos", e isso agora é impossível.


O criador da hipótese Gaia adverte sobre falsas tecnologias "verdes"

Acho improvável que um dano grave possa decorrer do uso em pequena escala de biocombustíveis produzidos a partir de resíduos agrícolas, óleo de cozinha reciclado ou uma modesta colheita de algas oceânicas. Entretanto, os cultivos de cana-de-açúcar, beterraba, milho, colza e outras plantas unicamente para a produção de combustível é quase certamente o ato mais danoso de todos. O problema com a espécie humana é que, como disse William James, "o homem nunca tem o bastante sem ter em demasia". Uma vez que o combustível seja utilizado para manter nossos carros e caminhões em movimento, tentaremos cultivá-lo globalmente,com consequências estarrecedoras. Para ter uma ideia da escala já envolvida, consideremos a legislação sobre energia promulgada em 2007 nos Estados Unidos, que prevê cerca de 170 bilhões de dólares para refinarias de biocombustível e infraestrutura. Brent Erikson, da Organização das Indústrias de Biotecnologia, disse que "estamos no ponto onde estávamos nos anos 1850, quando o querosene foi destilado pela primeira vez", e também que a nova lei exige a produção de 3,8 bilhões de litros de combustível etanol obtidos de grão de milho até 2022. Fica evidente pelas declarações de Erikson, pelo que está acontecendo agora no Brasil e pelas intenções dos europeus, que os biocombustíveis não são uma indústria artesanal inócua qualquer: são grandes empreendimentos, como de hábito. Quanto tempo levará até nos tornarmos dependentes de biocombustível para mover nossos carros e caminhões?

Os Estados Unidos entendem a ameaça do aquecimento global? Poucos duvidariam de que, no presente momento, os Estados Unidos sejam a nação mais destacada em termos de ciência e invenção - e não há maior prova disso que o computador que está sobre todas as nossas mesas e que, no mínimo, realiza o trabalho outrora feito por um datilógrafo. Os Estados Unidos tiveram um papel importante em sua evolução. Como se não bastasse, temos os pousos na Lua, a exploração de Marte e as frotas de satélites assombrosamente complexos, desde o telescópio Hubble até aqueles que lhe informam exatamente onde você se encontra em qualquer lugar do mundo. Tudo isso e muito mais é um tributo ao know-how americano e sua atitude dinâmica. Mesmo a teoria de Gaia foi descoberta no fértil ambiente do Laboratório de Propulsão a Jato da Califórnia, e o único biólogo que a entendeu e continuou a desenvolvê-la foi a destacada cientista americana Lynn Margulis. Obviamente, avanços em ciência e tecnologia emergiram na Europa na Idade Média e seu centro de excelência se moveu entre as nações. Em tecnologia e teoria computacionais, Babbage, Ada Lovelace e o mais trágico entre os homens, Alan Turing, fizeram, todos, o trabalho de base aqui, no Reino Unido. Turing foi aquele que, com seu grupo, construiu o primeiro aparelho computacional sério e o utilizou para decifrar o código inquebrável dos nossos inimigos de tempo de guerra. Mas isso foi naquela época. Agora, os Estados Unidos são o centro da ciência.

Faço este elogio solene aos Estados Unidos da América por estar perplexo: apesar de sua excelência científica, eles, entre todas as nações, foram os mais lentos em perceber a ameaça do aquecimento global. Duvido que essa ignorância inesperada tenha alguma ligação com o fato de o uso per capita americano de combustível fóssil, uma fonte de dano climático, ser maior que em qualquer outro lugar. Considero-a mais uma consequência de a maioria dos cientistas americanos, à sua maneira francamente bem-sucedida e reducionista, considerar a Terra algo que eles poderiam melhorar ou controlar; parece que eles a veem como nada mais que uma bola de rocha umedecida pelos oceanos e situada dentro de uma tênue esfera de ar. Até parece que consideram Marte um planeta a ser desenvolvido quando a Terra não for mais habitável. Não veem a Terra como um planeta vivo que regula a si próprio.

Eles não enxergam isso porque a Terra foi colonizada pela vida há pelo menos 3,5 bilhões de anos, sendo sua temperatura e a composição de sua superfície definidas pelas preferências de quaisquer que tenham sido os organismos que formavam a biosfera. Isso foi verdadeiro no frio das eras glaciais, é verdadeiro agora e será verdadeiro no calor da era escaldante que em breve virá. É claro que a física e a química do ar são importantes para compreender o clima, mas o gerente dos climas é e sempre foi Gaia, o sistema Terra do qual faz parte a biosfera. O erro desastroso da ciência do século XX foi partir do pressuposto de que tudo que precisamos saber sobre o clima pode se originar da criação de um modelo físico e químico do ar nos computadores cada vez mais potentes e, então, supor que a biosfera simplesmente reage passivamente à mudança, em vez de perceber que ela está ao volante. Por termos reconhecido a liderança dos Estados Unidos na ciência, a maior parte do mundo aceitou que sua concepção equivocada fosse verdadeira. Quase tarde demais, os cientistas mais importantes do mundo inteiro estão percebendo que observações e medições reais refutam a concepção do século XX, que vê a Terra como um recurso passivo. Pode ser boa o bastante para as previsões do tempo, mas não para prever o clima das décadas que estão por vir.

A qualidade dos cientistas profissionais individuais nos Estados Unidos é inigualável e são eles que estão observando com exatidão o ambiente global: os nomes de Ralph Keeling e Susan Solomon vêm imediatamente à minha mente, mas existem muitos outros no mesmo nível na Nasa, na Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA, National Oceanic and Atmospheric Administration) e nos departamentos científicos universitários. Os Estados Unidos também se redimem por meio das vigorosas mensagens de Al Gore, Jim Hansen e Steve Schneider. Suas palavras nos tornam todos cientes de quão sério é o aquecimento global, mas, com exceção de E. O. Wilson, Stephen Schneider, Robert Charlson e outros poucos geocientistas, a maioria absoluta se retrairá diante do difícil conceito de uma Terra viva. Nossas respostas e ações corretas para prevenir o pior- ou, mais provavelmente, escapar dele - ainda exigem que a ciência abrace esse conceito e abandone as ideias estéreis da corrente dominante das ciências da Terra e da vida. Uma mudança de visão está surgindo nos Estados Unidos e poderá restabelecer sua liderança nessa parte vital da ciência.

Talvez os cientistas devessem ser recrutados para servir, como foi feito na Segunda Guerra Mundial e com isso não quero dizer algo que lembre apenas o Projeto Manhattan. No Reino Unido, houve uma mudança tectônica nas atitudes de cientistas durante a Segunda Guerra Mundial. Bem me lembro de ser entrevistado para meu primeiro emprego como um recém-graduado em junho de 1941 no Instituto Nacional de Pesquisas Médicas (National Institute for Medical Research), na época em Hampstead. O entrevistador era o diretor do instituto, Sir Henry Dale; era também presidente da Royal Society e ganhador do Prêmio Nobel. Era um homem gentil e de inteligência fenomenal, com modos bem diretos. Algumas das primeiras palavras que ele me disse foram: "Deixe de lado todos os pensamentos de fazer ciência aqui - a ciência está suspensa enquanto durar a guerra; tudo que temos a oferecer são problemas ad hoc que precisam ser resolvidos hoje ou, melhor, ontem." Ele então acrescentou: "Depois da guerra, voltaremos à ciência real, e a espera terá valido a pena." Obviamente, Sir Henry estava errado. A guerra foi um campo fértil para a ciência real quando a lenta e corriqueira pesquisa dos tempos de paz foi colocada de lado. Achei a ciência em tempo de guerra apaixonante e estimulante, e quando a paz chegou fiquei consternado com o retorno da busca de engrandecimento pessoal e da perda do senso de deslumbramento que tanto desfigura a ciência moderna. Lembremos que a penicilina foi inicialmente desenvolvida durante a guerra e todo o conceito de antibióticos nasceu ali. Lembremos também, ao usarmos o micro-ondas, que o magnétron em seu centro foi inventado por Boot e Randal na década de 1940 para melhorar o radar em tempo de guerra. A pesquisa de radar levou diretamente à radioastronomia e uma nova compreensão do universo. Na Alemanha, as pressões para invenção em tempo de guerra levaram von Braun a desenvolver os foguetes que foram a base da ciência espacial, que agora nos permite aceitar com naturalidade os satélites que orbitam a Terra e considerar a exploração planetária por veículos robóticos um luxo ao nosso alcance.

Políticos do mundo desenvolvido reconhecem a mudança climática, mas suas políticas ainda estão no século XX, fundamentadas nos conselhos de lobistas dos ambientalistas e daqueles da comunidade empresarial, que enxergam um enorme lucro no curto prazo vindo de planos energéticos subsidiados. Eles raramente parecem agir sob as recomendações de seus consultores científicos. Em Bali, líderes políticos acordaram em cortar as emissões de carbono em 60% até 2050. De onde é que eles tiraram a ideia de que poderiam fazer uma política para um mundo com mais de quarenta anos de antecedência? É improvável que políticas baseadas em extrapolação injustificável e dogmas ambientais evitem a mudança climática, e não deveríamos sequer tentar implementá-las. Em vez disso, nossos líderes deveriam se concentrar imediatamente na sustentação de suas próprias nações como um habitat viável; poderiam ser inspirados a fazê-lo não apenas por causa de um interesse nacional egoísta, mas como capitães dos botes salva-vidas que suas nações poderiam vir a ser. No início de 2008, o governo do Reino Unido finalmente anunciou um programa para a construção de novas centrais energéticas nucleares. Certamente espero que essa não seja outra das falsas promessas que caracterizaram tantas das eloquentes declarações do governo Blair. Energia nuclear é, de longe, o meio mais efetivo de reduzir a emissão de dióxido de carbono, mas não é esse o motivo mais importante para que rivalizemos com a França e passemos a produzir eletricidade a partir de urânio. O importante é que as cidades exigem um fornecimento constante e econômico de eletricidade que até recentemente veio do carvão e do gás, mas esses recursos estão agora em declínio e não deixam nenhuma alternativa além da energia nuclear. As megacidades que estão começando a emergir demandarão enormes fluxos de eletricidade e somente uma vigorosa e rápida expansão da energia nuclear poderá satisfazê-los num futuro próximo. Essa necessidade se intensifica por termos pouca terra para cultivar alimentos - e a agricultura intensiva exige energia abundante. Com o esgotamento do petróleo, precisaremos sintetizar combustível para a maquinaria móvel de construção, transporte e agricultura. Não é algo difícil de fazer a partir do carvão ou da energia nuclear, mas precisamos começar a nos preparar para isso agora. Poderemos até ter de considerar a síntese direta de alimento a partir de dióxido de carbono, nitrogênio, água e cultura de células.

Haverá um dilúvio de desinformação antienergia nuclear por parte das empresas de energia cuja lucratividade será ameaçada e até de nações que verão seu poder e influência diminuídos. Não acredite em mentiras como aquela que diz que a construção de uma nova fonte de energia nuclear leva de dez a quinze anos. Os franceses precisam de menos de cinco anos para tal e não há nenhum motivo pelo qual deveríamos levar mais, se evitarmos o tempo excessivo gasto nas agências de planejamento, nas salas de tribunal e em audiências públicas. Espero que o movimento verde e seus advogados não mantenham a equivocada oposição à energia nuclear. Boa parte dessa oposição é irracional e fundamentada numa concatenação insustentável de erros e desinformações amplificada pela mídia. Seria bom se jornalistas e editores moderassem o desejo de contar uma história apavorante com a realidade de que, sem um amplo suprimento de energia nuclear, a vida em nossas ilhas poderá, em uma ou duas décadas, declinar a um estado de escassez. Por terem colocado a humanidade em primeiro lugar, e negligenciado Gaia, são muitos os verdes que plantaram as sementes de sua própria destruição e, se persistirem, também a nossa; para mitigar o erro, eles poderiam desistir da tática que tem como fim retardar a energia nuclear. Mais importante, eles estariam então ajudando a impulsionar o bote salva-vidas e não sabotando, como agora, o motor.

É absurdo pensar que nós, no Reino Unido, podemos alterar a resposta da Terra a nosso favor pelo uso de energia eólica ou voltaica solar. Um parque eólico de vinte turbinas de 1 megawatt exige mais de 10 mil toneladas de concreto. Seriam necessários duzentos desses parques eólicos cobrindo uma área do tamanho do Parque Nacional de Dartmoor, que tem cerca de 950 quilômetros quadrados, para se equiparar ao rendimento constante de energia de uma única central energética nuclear ou de carvão. Mais absurdo ainda: seria necessário construir uma central energética nuclear ou de carvão totalmente funcional para cada um desses monstruosos parques eólicos a fim de alimentar as turbinas durante 75% do tempo em que o vento fosse demasiado alto ou baixo. Como se isso não bastasse para condenar a energia eólica, a construção de um parque eólico de 1 gigawatt usaria uma quantidade de concreto de 2 milhões de toneladas, suficiente para construir uma cidade para 100 mil pessoas viverem em 30 mil lares; a fabricação e o emprego dessa quantidade de concreto lançariam cerca de 1 milhão de toneladas de dióxido de carbono no ar. Para sobrevivermos como nação civilizada, nossas cidades precisam de um abastecimento seguro, garantido e constante de eletricidade que somente o carvão, o gás ou a energia nuclear podem proporcionar. E somente com a energia nuclear poderemos ter a garantia de um suprimento constante de combustível. Já vimos quão vulneráveis são os suprimentos de gás com relação à duradoura integridade dos dutos, talvez de 1,6 mil quilômetros de comprimento, e à agressiva política dos autocratas. O carvão é caro no Reino Unido e as importações não são garantidas. Parques eólicos são absolutamente inadequados para o Reino Unido como fonte de energia e, como já sugeri, pouco podem fazer para impedir o aquecimento global, mesmo quando usados numa escala global; além disso, a experiência na Europa Ocidental mostra que são fontes dispendiosas e ineficazes de eletricidade. Você em breve descobrirá isso quando as contas e impostos sobre eletricidade aumentarem para pagar a energia renovável de que não precisamos. Seu dinheiro proverá os lucros fáceis a ser sacados do escoadouro dos subsídios. Essas contas nos são impostas para que políticos possam parecer verdes e bons, e algumas nações europeias enriqueçam. Não fazem nada pela Terra e só contribuirão para aumentar o estresse de nossa ilha-nação e, talvez, levá-la ao colapso final.

A resposta mais frequente dos meus amigos verdes à inflexível mensagem do meu último livro foi: "Você não pode dizer coisas assim. Não deixa espaço para nenhuma esperança." Parece ter sido uma boa crítica, que ajudou a esclarecer minha mente e me permitiu entender por que dizem que mensageiros têm vida curta. Percebi que tinha dito muito sobre a catástrofe iminente, mas quase nada sobre como poderíamos tentar garantir nossa presença duradoura na Terra, dando aos nossos descendentes uma chance no mundo quente que em breve poderá chegar. Somos a elite inteligente entre a vida animal na Terra e, quaisquer que sejam nossos erros, Gaia precisa de nós.

Essa declaração pode parecer estranha depois de tudo que eu disse sobre o modo como os seres humanos do século XX tornaram-se quase um organismo patológico planetário. Mas Gaia levou 3,5 bilhões de anos para desenvolver um animal capaz de pensar e comunicar os próprios pensamentos. Se formos extintos, ela terá poucas chances de desenvolver outro. Aprofundarei esse pensamento mais adiante.

Quando sou advertido de que meu pessimismo desestimula aqueles que melhorariam sua pegada de carbono ou fariam bons trabalhos como plantar árvores, lamento que eu considere que tais tentativas são, na melhor das hipóteses, bobagem romântica, ou, na pior, hipocrisia. Hoje existem agências que permitem que os passageiros aéreos plantem árvores para compensar o dióxido de carbono que seu avião adiciona ao ar sobrecarregado. Têm a mesma função das indulgências outrora vendidas pela Igreja Católica aos pecadores ricos para compensar o tempo que de outra forma passariam no purgatório. Trinta anos atrás, fui insensato e plantei 20 mil árvores, na esperança de restituir à natureza a propriedade rural que tinha comprado. Percebo agora que foi um erro: deveria ter deixado a terra intocada e permitido que emergisse um ecossistema, uma floresta natural, repleta de vida biodiversa e abundante, no próprio ritmo de Gaia. Em vez de uma mera plantação, uma floresta assim poderia evoluir, ou morrer se preciso, à medida que o clima mudasse. Plantar uma árvore não produz um ecossistema da mesma forma que colocar um fígado numa jarra com sangue e nutrientes não produz um homem.

Espero que o ótimo livro Os senhores do clima, de Tim Flannery, e meu último livro, A vingança de Gaia, tenham alcançado parte de seu propósito. Ambos pretenderam funcionar como alertas, como aquele grito ouvido no passado pelos donos de pub: "Últimos pedidos. Está na hora, cavalheiros!" - um aviso de que, em breve, as portas se fechariam e que poderíamos ser lançados às condições climáticas do lado de fora. Espero que um número suficiente de nós esteja agora ciente de que o mundo exuberante e confortável que conhecemos no passado foi embora para sempre. Mas temo que continuamos a sonhar e, em vez de despertar, inserimos o som do despertador dentro de nossos sonhos.

Talvez, por sermos tão adaptáveis, não estejamos cientes da velocidade com que o mundo está mudando. Se a temperatura média no Reino Unido em janeiro for 7°C, temos a sensação de frio a maior parte do tempo e nos agasalhamos nas manhãs geladas quando sopra um deprimente vento noroeste. Resmungamos: onde está o aquecimento global agora? No verão, a média é de 20°C em julho e desfrutamos uma semana com temperaturas máximas de 30°C, mas grunhimos se cair a 15°C por um mesmo período. Ainda assim, há apenas vinte anos, essas temperaturas de inverno e de verão teriam sido registradas como anormalmente quentes para essas épocas do ano. A precipitação pluvial nos condados orientais do Reino Unido sempre foi baixa, na faixa de 500 milímetros por ano, mas a zona rural sempre foi exuberante e verde, porque permanecia fresca durante o verão. Em comparação, o Arizona, que tem uma precipitação pluviométrica semelhante, é quase inteiramente cerrado e deserto simplesmente por ser bem mais quente e pelo fato de a chuva que cai secar inteiramente ou escorrer para dentro dos canais antes que as plantas possam aproveitá-la. Nosso condado mais ao sudeste, Kent, já está com escassez crescente de água, e o sul da Europa é agora quase um deserto. A adaptação, como animais individuais, não é tão difícil: quando uma tribo muda das regiões temperadas para as tropicais, leva apenas algumas gerações para que os indivíduos se tornem mais escuros à medida que a seleção elimina os de pele clara. Também é assim com todos nós: nosso mundo mudou para sempre, e teremos de nos adaptar a muito mais que a mudança climática. Mesmo durante meu tempo de vida, o mundo encolheu em relação àquele que era bastante vasto para fazer da exploração uma aventura e incluía muitos lugares distantes onde ninguém tinha jamais caminhado. Agora, tornou-se quase uma cidade interminável, encravada numa agricultura intensiva, mas domesticada e previsível. Em breve, poderá reverter novamente a uma selva. Para sobreviver nesse novo mundo, precisamos de uma filosofia Gaiana e precisamos nos preparar para combater um chefe militar bárbaro disposto a nos capturar e a se apoderar de nosso território.

Exceto por uma eventual inundação desastrosa, onda de calor excessiva ou temperatura congelante inteiramente inesperada, o clima no Reino Unido mudará lenta e imperceptivelmente no início. Pessoas em cidades como Londres esquecerão que, mesmo nos dias de bonança não muito distantes, o ar-condicionado quase nunca era necessário no verão, enquanto meu colega Gari Owen me lembra que Londres em 2006 usou mais energia para esfriar que para aquecer. Em curto prazo, não é provável que aconteça aqui algo muito exagerado com o clima, algo que instigasse uma rebelião. O que poderia fazê-lo são as consequências desastrosas da elevação do nível do mar, levando à destruição de uma grande cidade ou ao colapso do abastecimento de alimentos ou eletricidade. Esses perigos serão agravados pelo fluxo sempre crescente de refugiados climáticos, ao qual se somará o fluxo de repatriados que deixaram o Reino Unido por aquilo que imaginaram que seria uma vida agradável na Europa. Os perigos mais graves não provêm da mudança climática em si, mas indiretamente da fome, disputa por espaço e recursos e guerra tribal.

Em um pequeno grau, a difícil situação dos britânicos em 1940 lembra o estado do mundo civilizado agora. Naquela época, tínhamos quase uma década da crença bem-intencionada, mas inteiramente equivocada, de que a paz era tudo o que importava. Os seguidores dos lobistas da paz dos anos 1930 eram parecidos com os movimentos verdes agora; as intenções eram mais que boas, mas inteiramente impróprias para a guerra que estava prestes a começar. A falha fundamental dos lobistas verdes de agora se revela no próprio nome Greenpeace; por aglutinarem o humanismo dos movimentos pela paz com o ambientalismo, eles inconscientemente antropomorfizam Gaia. Está na hora de despertar e perceber que Gaia não é nenhuma mãe acolhedora que acalenta os seres humanos e que pode ser aplacada por gestos como comércio de carbono ou desenvolvimento sustentável. Gaia, mesmo que façamos parte dela, sempre dita os termos da paz. Em maio de 1940, despertamos para descobrir, encarando-nos do outro lado do canal da Mancha, uma força continental inteiramente hostil prestes a nos invadir. Estávamos sozinhos, sem nenhum aliado efetivo, mas tivemos a sorte de ter um novo líder, Winston Churchill, cujas palavras comoventes sacudiram a nação inteira de sua letargia: "Nada tenho a oferecer, senão sangue, trabalho duro, lágrimas e suor." Precisamos de um outro Churchill agora, que nos tire do pensamento insistente, acomodado e consensual de fins do século XX e una a nação num esforço resoluto de travar uma guerra difícil. Precisamos de um líder que instigue todos nós, mas especialmente atice aqueles jovens ativistas verdes que tão bravamente protestaram contra todas as formas de profanação dos campos. Onde estão os batalhões de "Terra acima de tudo" e para onde foram Swampy* e seus amigos?

O que mais me comoveu quando escrevia este livro é o pensamento de que nós, seres humanos, somos importantes em termos vitais como parte de Gaia, não através do que somos agora, mas pelo nosso potencial como espécie para sermos os progenitores de um animal muito melhor. Gostemos ou não, somos agora seu coração e mente; mas, para continuarmos a melhorar esse papel, teremos de garantir nossa sobrevivência como espécie civilizada e não retroceder a um aglomerado de tribos guerreiras, que foi um estágio de nossa história evolutiva. Fico emocionado com a ideia de que o sistema Terra, Gaia, tem mais de um quarto da idade do universo e que tudo isso para que evoluísse uma espécie capaz de pensar, comunicar e guardar pensamentos e experiências. Como parte de Gaia, nossa presença começa a tornar o planeta mais consciente. Deveríamos estar orgulhosos de poder fazer parte desse gigantesco passo, aquele que poderá ajudar Gaia a sobreviver enquanto o Sol continua seu lento mas inevitável aumento da produção de calor, fazendo do sistema solar um ambiente futuro cada vez mais hostil. Temos de fazer tudo que pudermos, e o Capítulo 5 trata das ideias que agora circulam entre cientistas e engenheiros que poderiam reverter a mudança climática. São, até agora, inexperientes, inseguros e possivelmente perigosos, um pouco como a medicina e cirurgia do século XIX. Se conseguirmos manter a civilização viva durante todo este século, talvez exista uma chance de que nossos descendentes algum dia sirvam Gaia e a auxiliem na autorregulação delicadamente ajustada do clima e da composição do nosso planeta.

Desfrutamos 12 mil anos de paz climática desde a última mudança da era glacial para a interglacial. Não demorará muito e poderemos nos defrontar com uma devastação de alcance planetário pior até que uma guerra nuclear ilimitada entre superpotências. A guerra climática poderia matar quase todos nós e deixar os poucos sobreviventes com um padrão de vida comparável ao da Idade da Pedra. Mas em vários lugares do mundo, inclusive no Reino Unido, temos uma chance de sobreviver e, até mesmo, de viver bem. Para que isso seja possível teremos, neste momento, de deixar nossos botes salva-vidas em condições de enfrentar o mar. Mesmo que algum evento natural, como uma série de grandes erupções vulcânicas ou um decréscimo da radiação solar, nos dê uma trégua, ainda assim terá sido melhor gastar nosso dinheiro e nossos esforços tornando nossos países autossuficientes em alimentos e energia e, se quisermos nos tornar inteiramente urbanos, então, na criação de cidades nas quais tenhamos orgulho em viver.

* "Pantaneiro", apelido de Daniel Hooper, um dos mais conhecidos "ecoguerreiros"
do Reino Unido. (N. do T.)


terça-feira, 12 de janeiro de 2010

PRESIDENTE VERDE NO BRASIL



Em novembro de 2002 ele previu a possibilidade de um dia o presidente do Brasil ser um "verde".
Em 2010 teremos eleições presidenciais no país e a candidata Marina Silva - no mínimo - já alterou os discursos do governador de São Paulo José Serra e da ministra Dilma Russeff.
Quem sabe a previsão de Antonio Odilon Macedo esteja para ser realizada?

Tendências com Antonio Odilon Macedo
Entrevista publicada no ANUÁRIO DE ECOLOGIA EXPRESSÃO de 2002.

"A NINHADA VERDE UM DIA FARÁ O PRESIDENTE DO BRASIL"

Nos últimos dez anos, Antonio Odilon Macedo conduziu e consolidou o Prêmio Expressão de Ecologia como uma das principais iniciativas de reconhecimento ao trabalho do setor privado do Sul do Brasil na área ambiental. Nesse período, o número de inscrições cresceu ano a ano – assim como a qualidade dos cases inscritos. Para Odilon, uma década após a Eco-92 e 30 anos depois da histórica Conferência de Estocolmo, as empresas paranaenses, catarinenses e gaúchas têm se adaptado muito bem à nova realidade, marcada pelo conceito de desenvolvimento sustentável. Algumas vezes, até, obtendo resultados acima da média nacional. Uma das boas notícias é que as ações de educação ambiental começam a dar resultados. Surge uma nova geração mais consciente e afinada com a sustentabilidade. “As crianças da Eco-92 serão adultos muito diferentes”, afirma. Como em todo o mundo, no entanto, a realidade regional não escapa à divisão das companhias em três grandes blocos: as que vão além do que a legislação exige, as que cumprem a lei com o rigor possível e, por último, as que ainda não chegaram ao século 21 – sérias candidatas à extinção, segundo ele. Diretor de meio ambiente da empresa de engenharia de infra-estrutura Prosul, Odilon se diz sociólogo por formação mas ambientalista por opção. E avalia, na entrevista a seguir, os progressos ambientais na região Sul, critica a legislação e avisa: ainda há muito por fazer quando se fala em meio ambiente.

EXPRESSÃO – Que lição ficou desses dez anos de coordenação do Prêmio Expressão de Ecologia?
Odilon Macedo – Acredito que o mais importante dessa nossa atividade nos últimos dez anos foi observar de perto as iniciativas ambientais das empresas. Nosso balanço, como observadores, é bastante positivo. A gente pôde constatar que as empresas do Sul do Brasil têm respondido satisfatoriamente a essa questão. E ido muito além da média nacional em alguns casos. Já tínhamos essa visão positiva em relação à capacidade de resposta do empresariado quando instituímos o prêmio. A edição da revista produzida especialmente para a Rio-92 já mostrava um conjunto de iniciativas despoluidoras desenvolvidas pelas empresas. Isso nos deu a certeza de que estava em curso um processo extremamente importante de incorporação da gestão ambiental na política das empresas.

Analisando os mais de 700 cases inscritos nesses 10 anos o que se
pode concluir?
Podemos constatar que saímos de um estágio no qual as empresas simplesmente tomavam iniciativas de adequação à legislação ambiental. Era um momento de postura reativa. Num segundo momento, elas partiram para uma postura de gestão ambiental, na qua era considerado o conjunto do processo de produção. Essa fase foi muito incentivada pela regulamentação da ISO 14000. E num terceiro momento, que estamos observando agora, o foco volta-se para a produção mais limpa, dentro da concepção de sustentabilidade ambiental.

O problema dos efluentes industriais está resolvido no Sul do Brasil?
Não. Seguramente não resolvemos essa questão. Esses dez anos nos colocaram de modo irreversível no rumo do tratamento adequado dos efluentes. Mas é preciso que tenhamos consciência de que convivemos no Sul com um parque industrial em diversos estágios. Há um grupo de empresas que hoje tem essa questão controlada e que, em alguns casos, vai muito além da própria exigência da legislação. Temos um outro grupo de empresas, de porte médio, com mercado essencialmente nacional, que começam agora a dar os primeiros passos do enquadramento legal e da implantação do sistema de tratamento. E temos o terceiro grupo de empresas, que infelizmente ainda permanece descumprindo as normas ambientais – e que no meu ponto de vista não vai sobreviver. Em sua maioria, elas fazem parte do setor extrativista. Vale ressaltar que essa atividade é perfeitamente compatível com a preservação ambiental, mas carece de uma mudança de mentalidade dos empresários. Quando falei do segundo grupo, que hoje está se adequando, é importante destacar que a consciência ambiental do consumidor brasileiro, e particularmente do consumidor daqui do Sul do Brasil, está avançando rapidamente, tendo uma postura pró-ativa na valorização de produtos ecologicamente corretos. A resposta tem sido rápida. Nós temos inúmeros casos de empresas que não exportam mas são gestores ambientais, apostando no mercado interno, com um grande diferencial competitivo.

Qual a importância da ISO 14000 na geração dessa consciência? Alguns ambientalistas criticam a estrutura da ISO, dizendo que ela posterga a solução dos problemas, uma vez que a ISO 14001 é apenas um protocolo de intenções.
Eu não concordo. A ISO 14000 é o seguinte: ao estabelecer esse protocolo, a empresa se compromete a fazer mudanças no trato ambiental. Agora, se ela não cumprir os prazos, se as auditorias que são programadas periodicamente não constatarem que a empresa já tem uma resposta a essas questões, às metas estabelecidas, ela perde a certificação. Acredito que todos os empresários têm isso claro. O impacto da perda da certificação em termos de marketing é superior ao impacto da obtenção dessa certificação.

"É importante destacar que a consciência ambiental do consumidor brasileiro, e particularmente do Sul do Brasil, está avançando rapidamente"

Então esse é um caminho sem volta?
Sem volta e que pode se tornar extremamente perigoso. As instituições certificadoras são muito rigorosas e têm alertado constantemente para esse risco. A política da empresa é muito bem avaliada para a concessão da certificação. No Sul do Brasil nós temos observado que as empresas detentoras da certificação estão investindo pesado para mantê-la. Muitos empresários procuram atender mais de 80% das exigências que seriam feitas para o enquadramento ambiental antes mesmo de entrarem no processo de certificação. Conversando com alguns grandes empresários catarinenses, premiados antes mesmo da certificação, indaguei o porquê de a empresa não buscar o certificado. A resposta é unânime: “Nós temos consciência de que ainda precisamos avançar muito nesse e naquele ponto para depois entrar num processo de certificação. Com a atual competitividade, não podemos correr riscos”. Existe uma certa prudência em relação à ISO 14000.

Como tratar a questão dos recursos naturais não-renováveis?
A dedicação para uso considerado nobre é uma saída?
É. Mas também é importante salientar que esse conceito de produto renovável e não-renovável vem mudando. A água é um recurso não-renovável e sem substituição. Por isso, essa questão dos recursos não-renováveis começa pela água. Porém, nem sempre ela é um recurso não-renovável. Esse é o principal ponto. E em relação aos outros recursos chamados não-renováveis, temos que procurar ser mais responsáveis no uso desses recursos, procurando substituição de materiais. E mesmo os chamados recursos naturais renováveis merecem um questionamento: são renováveis em qual tempo? A floresta é um recurso natural considerado renovável. Tanto a fauna como a flora são considerados basicamente recursos naturais renováveis. Aliás, a biodiversidade também poderia teoricamente ser considerada renovável. Em tese. Mas nós não temos domínio tecnológico para isso. Estamos destruindo hoje parte da biodiversidade que nem conhecemos. Então, teríamos de reconvocar Deus para fazer essa tarefa. Por isso precisamos buscar a sustentabilidade o quanto antes. Para isso, a primeira coisa a fazer é conhecer, saber as características e até mesmo, numa linguagem econômica, manter estoque desses recursos.

A coleta seletiva e a reciclagem do lixo aumentam a cada ano, porém a reciclagem do lixo inorgânico não acompanha os mesmos índices. Por quê?
Primeiro, nós temos que rever uma questão. O grande problema do lixo ainda é o destino final para os resíduos, aquela parte do lixo que não é passível de reciclagem e nem mesmo de compostagem orgânica para uso agrícola. A prioridade tem sido, principalmente nas cidades médias e grandes, a destinação final e a implantação de aterros. Num segundo momento, acho que já existe um investimento na coleta seletiva, que deve ser ampliado. Ela deve ser acompanhada por um grande trabalho de conscientização, porque até agora evoluímos pouco em matéria de coleta seletiva, que propicia uma ma-ior reciclagem. E a compostagem deverá ser aos poucos ampliada e ter uma estrutura mais adequada. Quando você vai pensar em um sistema de gerenciamento de resíduos sólidos de uma cidade, primeiro é importante ter claro que você precisa de um ponto onde possa dispor os resíduos sem provocar impactos ao meio ambiente. A partir do momento em que você está trabalhando com aterro sanitário, tendo uma garantia da disposição final, fica mais fácil desenvolver uma agregação de valores ao sistema e incorporar as técnicas de compostagem, que exigem um maior investimento, uma maior estrutura e acompanhamento técnico permanente.

Como está o mercado das empresas que prestam serviços de engenharia ambiental?
É um mercado bastante promissor, que está crescendo muito em todo o Brasil. As empresas especializadas têm tido um crescimento da ordem de 80% a 100% ao ano, o que resultou numa enorme carência de técnicos. Paralelamente, a qualidade dos serviços também vem crescendo. Os setores que mais procuram esses auxílios são as indústrias e as obras de infra-estrutura, que exigem hoje uma assessoria e um tratamento ambiental adequados.

Por que as empresas se dedicam à educação ambiental, interagindo muitas vezes entre elas, ao contrário do que acontecia há alguns anos?
As empresas perceberam que não podem empreender uma ação ambiental isoladamente. O bom resultado de qualquer ação ambiental depende do envolvimento de toda a comunidade. Vamos pegar como exemplo uma empresa que tem gestão ambiental, que trata os efluentes, cuida da água. Se essas ações forem isoladas, se toda a comunidade daquela bacia hidrográfica não estiver envolvida, elas podem ser prejudicadas. Isso não é só em relação à água, mas envolve todo meio ambiente, em qualquer situação. Sempre há essa necessidade de colaboração com os demais agentes sociais. Isso envolve a comunidade, outras empresas, o poder público. Não tem sido incomum, por exemplo, os órgãos de controle ambiental serem cobrados por empresários que investiram no meio ambiente, exigindo o mesmo de outras empresas.

"Observamos nos últimos cinco anos o crescimento da preocupação em preservar o meio ambiente, com grandes investimentos"

Que importância tiveram e têm as ONGs nessa caminhada ambiental?
As ONGs têm um papel importante, primeiramente, na denúncia. Mas não apenas fazem esse trabalho de controle social, como também têm buscado a profissionalização. Temos observado que as ONGs são agentes mais ativos no trabalho de educação ambiental, no trabalho de conservação de recursos naturais e, muitas delas, inclusive, na assessoria técnica. Muitas vezes você cobra do empresário uma nova postura e ele até é receptivo mas não sabe como agir. Embora esse papel não seja de responsabilidade das ONGs, elas têm conseguido resultados excelentes no assessoramento técnico.

A legislação brasileira atende as necessidades ambientais?
Na legislação brasileira nós temos que entender o seguinte: costuma-se dizer que os problemas ambientais brasileiros são decorrentes da falta de leis. Isso é uma meia-verdade. Nós temos as leis. Porém elas exigem um aperfeiçoamento. Hoje nós percebemos que há uma grande necessidade de que a legislação seja mais articulada, com objetivos e políticas ambientais mais claros. Hoje nós vemos um emaranhado complicado de leis, que não satisfazem nem os próprios órgãos ambientais. Pelo contrário, chega a confundi-los. A lei hoje é suficiente para impedir uma agressão mas deficiente para possibilitar uma atitude positiva na sociedade e pró-ativa dos empresários.

A Rio + 10, realizada na África do Sul para levar adiante os temas tratados na Eco-92, trouxe avanços?
Eu acredito que a conferência de Johanesburgo deve ser entendida dentro da conjuntura política e econômica internacional. Essa conjuntura não era favorável. Apesar disso, a conferência trouxe inúmeras propostas positivas. Nós continuamos avançando. A questão ambiental continua no centro da discussão. A conferência deu coesão ao grupo de países que já assumiu uma postura de defesa ambiental, de conservação da biodiversidade, de redução da poluição atmosférica. Houve uma continuidade na articulação do bloco que começou na Rio-92. A conferência manteve a esperança e o otimismo, porque mesmo em países como os Estados Unidos as pressões internas também são muito fortes, de modo que eles não conseguirão sustentar essa posição intransigente por muito tempo. O meio ambiente não é uma ideologia. Quando nós falamos da questão ambiental, nós nos referimos a um mundo com objetivos públicos, à continuidade da vida no planeta.

Quais são os maiores desafios hoje?
Acho que todos os assuntos estão intimamente relacionados, não dá para separar e analisar individualmente. Mas acredito que a questão mais grave entre todas, inegavelmente, é a fome. Eu não consigo imaginar que a espécie humana possa ter uma relação mais racional com a natureza se não atingir uma relação mais racional consigo mesma. É um processo autodestrutivo da própria espécie, acentuado pela fome e pela guerra. Se não superarmos esses obstáculos, não teremos capacidade para enfrentar os desafios em relação ao meio ambiente.

"Não consigo imaginar que a espécie humana possa ter uma relação mais racional com a natureza se não a tiver consigo mesma"

E as principais vitórias?
A principal vitória foi a consciência ambiental. Se na Conferência de Estocolmo, em 1972, nós tínhamos apenas um grupo de intelectuais – o Clube de Roma – e mais meia dúzia de grupos privilegiados e melhor informados, que estavam alertando para a problemática ambiental, hoje essa questão está globalizada. É uma conseqüência do processo. Hoje nós temos uma consciência ambiental global. Aqui no Sul, em qualquer bairro, em qualquer cidade, nós vamos encontrar agentes ativos, preocupados e combativos na luta pelo meio ambiente. A consciência ambiental disseminou-se. Acredito que essa tenha sido a principal mudança e a maior das vitórias. Hoje você pode ir numa escola no interior de Guaraciaba, no Oeste catarinense, e conversar com as crianças sobre as questões que estavam sendo debatidas na África do Sul. Por isso a transformação será inevitável. Essas crianças serão, e já são, consumidores. Um dia serão eleitores. E vão ser agentes ativos dessa transformação. A grande mudança de mentalidade já ocorreu. As crianças da Rio- 92 serão adultos muito diferentes. Se me permite a expressão, a ninhada verde já cresceu. E será o empresário, o consumidor e também o presidente da república. Pode ser um sociólogo ou um torneiro mecânico.