terça-feira, 29 de junho de 2010

AZIZ AB'SABER

Aziz Nacib Ab'Saber é um cientista e professor universitário brasileiro, considerado referência em assuntos relacionados ao meio ambiente e impactos ambientais decorrentes das atividades humanas. Laureado com as altas honrarias da ciência em arqueologia, geologia e ecologia - Membro Honorário da Sociedade de Arqueologia Brasileira, Grão Cruz em Ciências da Terra pela Ordem Nacional do Mérito Científico, Prêmio Internacional de Ecologia de 1998 e Prêmio Unesco para Ciência e Meio Ambiente - é Professor Emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, professor honorário do Instituto de Estudos Avançados da mesma universidade e ex-presidente e atual Presidente de Honra da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. Embora tenha se aposentado compulsoriamente no final do século XX, ainda se mantém em atividade.


Do Código Florestal para o Código da Biodiversidade, por Aziz Ab'Saber
(O documento foi protocolado na Câmara Federal, às lideranças e para leitura em plenário.)

Em face do gigantismo do território e da situação real em que se encontram os seus macro biomas – Amazônia Brasileira, Brasil Tropical Atlântico, Cerrados do Brasil Central, Planalto das Araucárias, e Pradarias Mistas do Brasil Subtropical – e de seus numerosos mini-biomas, faixas de transição e relictos de ecossistemas, qualquer tentativa de mudança no “Código Florestal” tem que ser conduzido por pessoas competentes e bioeticamente sensíveis. Pressionar por uma liberação ampla dos processos de desmatamento significa desconhecer a progressividade de cenários bióticos, a diferentes espaços de tempo futuro. Favorecendo de modo simplório e ignorante os desejos patrimoniais de classes sociais que só pensam em seus interesses pessoais, no contexto de um país dotado de grandes desigualdades sociais.

Cidadãos d e classe social privilegiada, que nada entendem de previsão de impactos. Não tem qualquer ética com a natureza. Não buscam encontrar modelos tecnico-cientificos adequad os para a recuperação de áreas degradadas, seja na Amazônia, , seja no Brasil Tropical Atlântico, ou alhures. Pessoas para as quais exigir a adoção de atividades agrárias “ecologicamente auto-sustentadas” é uma mania de cientistas irrealistas.

Por muitas razoes, se houvesse um movimento para aprimorar o atual Código Florestal, teria que envolver o sentido mais amplo de um Código de Biodiversidades, levando em conta o complexo mosaico vegetacional de nosso território. Remetemos essa idéia para Brasília, e recebemos em resposta que essa era uma idéia boa mas complexa e inoportuna (...). Entrementes, agora outras personalidades trabalham por mudanças estapafúrdias e arrasadoras no chamado Código Florestal. Razão pela qual ousamos criticar aqueles que insistem em argumentos genéricos e perigosos para o futuro do país. Sendo necessário, mais do que nunca, evitar que gente de outras terras sobretudo de países hegemônicos venha a dizer que fica comprovado que o Brasil não tem competência para dirigir a Amazônia (...). Ou seja, os revisores do atual Código Flo r estal não teriam competência para dirigir o seu todo territorial do Brasil. Que tristeza, gente minha.

O primeiro grande erro dos que no momento lideram a revisão do Código Florestal brasileiro – a favor de classes sociais privilegiadas – diz respeito à chamada estadualização dos fatos ecológicos de seu território especifico. Sem lembrar que as delicadíssimas questões referentes à progressividade do desmatamento exigem ações conjuntas dos órgãos federais específicos, em conjunto com órgãos estaduais similares, uma Policia Federal rural, e o Exercito Brasileiro. Tudo conectado ainda com autoridades municipais, que tem muito a aprender com um Código novo que envolve todos os macro-biomas do pais, e os mini-biomas que os pontilham, com especial atenção para as faixas litorâneas, faixas de contato entre as áreas nucleares de cada domínio morfoclimatico e fitogeográfico do território. Para pessoas inteligente s , capazes de prever impactos, a diferentes tempos do futuro, fica claro que ao invés da “estadualização”, é absolutamente necessário focar para o zoneamento físico e e cológico de todos os domínios de natureza dos pais. A saber, as duas principais faixas de Florestas Tropicais Brasileiras: a zonal amazônica e a azonal das matas atlânticas o domínio dos cerrados, cerradoes e campestres: a complexa região semi-árida dos sertões nordestinos: os planaltos de araucárias e as pradarias mistas do Rio Grande do Sul, alem de nosso litoral e o Pantanal Mato-grossense.

Seria preciso lembrar ao honrado relator Aldo Rabelo, que a meu ver é bastante neófito em matéria de questões ecológicas, espaciais e em futurologia – que atualmente na Amazônia Brasileira predomina um verdadeiro exercito paralelo de fazendeiros que em sua área de atuação tem mais força do que governadores e prefeitos. O que se viu em Marabá, com a passagem das tropas de fazendeiros, passando pela Avenida da Transamazônica, deveria ser conhecido pelos congressistas de Brasília, e diferentes membros do executivo. De cada uma das fazendas regionais passava um grupo de cinqüenta a sessenta camaradas, tendo a frente em cavalos nobres, o dono da fazenda e sua esposa, e os filhos em cavalos lindos.

E,os grupos iam passando separados entre si, por alguns minutos. E , alguém a pé, como se fosse um comandante, controlava a passagem da cavalgada dos fazendeiros. Ninguém da boa e importante cidade de Marabá saiu para observar a coluna amedrontadora dos fazendeiros. Somente dois bi cicletistas meninos, deixaram as bicicletas na beira da calçada olhando silentes a passagem das tropas. Nenhum jornal do Pará, ou alhures, noticiou a ocorrência amedrontadora. Alguns de nós não pudemos atravessar a ponte para participar de um evento cultural.

Será certamente, apoiados por fatos como esse, que alguns proprietários de terras amazônicas deram sua mensagem, nos termos de que “a propriedade é minha e eu faço com ela o que eu quiser, como quiser e quando quiser”. Mas ninguém esclarece como conquistaram seus imensos espaços inicialmente florestados. Sendo que, alguns outros, vivendo em diferentes áreas do cetro-sul brasileiro, quando perguntados sobre como enriqueceram tanto, esclarecem que foi com os “seus negócios na Amazônia” (...). Ou sejam, através de loteamentos ilegais, venda de glebas para incautos em locais de difícil acesso, os quais ao fim de um certo tempo, são libertados para madeireiros contumazes. E, o fato mais infeliz é que ninguém procura novos conhecimentos para re-utilizar ter ras degradadas. Ou exigir dos governantes tecnologias adeq u adas para revitalizar os solos que perderam nutrientes e argilas, tornando-se dominadas por areias finas (siltizaçao).

Entre os muitos aspectos caóticos, derivados de alguns argumentos dos revisores do Código, destaca-se a frase que diz que se deve proteger a vegetação até sete metros e meio do rio. Uma redução de um fato que por si já estava muito errado, porém agora esta reduzido genericamente a quase nada em relação aos grandes rios do pais. Imagine-se que para o rio Amazonas, a exigência protetora fosse apenas sete metros, enquanto para a grande maioria dos ribeirões e córregos também fosse aplicada a mesma exigência. Trata-se de desconhecimento entristecedor sobre a ordem de grandeza das redes hidrográficas do território intertropical brasileiro. Na linguagem amazônica tradicional, o próprio povo já reconheceu fatos referentes à tipologia dos rios regionais. Para eles, ali existem, em ordem crescente: igarapés, riozinhos , rios e parás. Uma última divisão lógica e pragmática, que é aceita por todos os que conhecem a realidade da rede fluvial amazônica.

Por desconhecer tais fatos os relatores da revisão aplicam o espaço de sete metros da beira de todos os cursos d’água fluviais sem mesmo ter ido lá para conhecer o fantástico mosaico de rios do território regional.

Mas o pior é que as novas exigências do Código Florestal proposto têm um caráter de liberação excessiva e abusiva. Fala-se em sete metros e meio das florestas beiradeiras (ripario-biomas), e, depois em preservação da vegetação de eventuais e distantes cimeiras. Não podendo imaginar quanto espaço fica liberado para qualquer tipo de ocupação do espaço. Lamentável em termos de planejamento regional, de espaços rurais e silvestres. Lamentável em termos de generalizações forçadas por grupos de interesse (ruralistas).

Já se poderia prever que um dia os interessados em terras amazônicas iriam pressionar de novo pela modificação do percentual a ser preservado em cada uma das propriedades de terras na Amazônia. O argumento simplista merece uma critica decisiva e radical. Para eles, se em regiões do centro-sul brasileiro a taxa de proteção interna da vegetação florestal é de 20%, porque na Amazônia a lei exige 80%. Mas ninguém tem a coragem de analisar o que aconteceu nos espaços ecológicos de São Paulo, Paraná, Santa Catarina, e Minas Gerais com o percentual de 20%. Nos planaltos interiores de São Paulo a somatória dos desmatamentos atingiu cenários de generalizada derruição. Nessas importantes áreas, dominadas por florestas e redutos de cerrados e campestres, somente o tombamento integrado da Serra do Mar, envolvendo as mata s atlânticas, os solos e as aguadas da notável escarpa, foi capaz de resguardar os ecossistemas orográficos da acidentada região. O restante, nos “mares de morros” , colinas e várzeas do Médio Paraíba e do Planalto Paulistano, e pró-parte da Serra da Mantiqueira, sofreram uma derruição deplorável. É o que alguém no Brasil – falando de gente inteligente e bioética – não quer que se repita na Amazônia Brasileira, em um espaço de 4.200.000 km².

Os relatores do Código Florestal, falam em que as áreas muito desmatadas e degradadas poderiam ficar sujeitas a “(re)florestamento” por espécies homogêneas pensando em eucalipto e pinus. Uma prova de sua grande ignorância, pois não sabem a menor diferença entre reflorestamento e florestramento. Esse último,pretendido por eles, é um fato exclusivamente de interesse econômico empresarial, que infelizmente não pretende preservar biodiversidades. Sendo que, eles procuram desconhecer que para áreas muito degradadas, foi feito um plano de (re) organização dos espaços remanescentes, sob o enfoque de revigorar a economia de pequenos e médios proprietários: Projeto FLORAM. Os eucaliptologos perdem éticos quando alugam espaços por trinta anos, de incautos propr ietários, preferindo áreas dotadas ainda de solos tropic a is férteis,do tipo dos oxissolos, e evitando as áreas degradadas de morros pelados reduzidas a trilhas de pisoteio, hipsométricas, semelhantes ao protótipo existen te no Planalto do Alto Paraíba, em São Paulo. Ao arrendar terras de bisonhos proprietários, para uso em 30 anos, e sabendo que os donos da terra podem morrer quando se completar o prazo. Fato que cria um grande problema judicial para os herdeiros, sendo que ao fim de uma negociação as empresas cortam todas as árvores de eucaliptos ou pinos, deixando miríades de troncos no chão do espaço terrestre. Um cenário que impede a posterior reutilização das terras para atividades agrárias. Tudo isso deveria ser conhecido por aqueles que defendem ferozmente um Código Florestal liberalizante.

Por todas as razoes somos obrigados a criticar a persistente e repetitiva argumentação do deputado Aldo Rebelo,que conhecemos ha muito tempo, e de quem sempre esperávamos o melhor, no momento somos obrigados a lembrar a ele que cada um de nós tem que pensar na sua biografia, e , sendo político, tem que honrar a historia de seus partidos. Mormente,em relação aos partidos que se dizem de esquerda e jamais poderiam fazer projetos totalmente dirigidos para os interesses pessoais de latifundiários.

Insistimos que em qualquer revisão do Código Florestal vigente, deve-se enfocar as diretrizes através das grandes regiões naturais do Brasil, sobretudo domínios de natureza muito diferentes entre si, tais como a Amazônia, e suas extensíssimas florestas tropicais, e o Nordeste Seco, com seus diferentes tipos de caatingas. Tratam-se de duas regiões opósitas em relação à fisionomia e à ecologia, assim como em face das suas condições socioambientais. Ao tomar partido pelos grandes domínios administrados técnica e cientificamente por órgãos do executivo federal, teríamos que conectar instituições específicas do governo brasileiro com instituições estaduais similares. Existem regiões como a Amazônia que envolve conexões com nove estados do Norte Brasil eiro. Em relação ao Brasil Tropical Atlântico os órgã o s do Governo Federal – IBAMA, IPHAN, FUNAI e INCRA – teriam que manter conexões com os diversos setores similares dos governos estaduais de norte a sul do Brasil. E assim por diante.

Enquanto o mundo inteiro repugna para a diminuição radical de emissão de CO2, o projeto de reforma proposto na Câmara Federal de revisão do Código Florestal defende um processo que significará uma onda de desmatamento e emissões incontroláveis de gás carbônico, fato observado por muitos críticos em diversos trabalhos e entrevistas.
Parece ser muito difícil para pessoas não iniciadas em cenários cartográficos perceber os efeitos de um desmatamento na Amazônia de até 80% das propriedades rurais silvestres. Em qualquer espaço do território amazônico, que vem sendo estabelecidas glebas com desmate de até 80%,haverá um mosaico caótico de áreas desmatadas e faixas inter-propriedades estreitas e mal preservadas. Nesse caso, as bordas dos restos de florestas, inter-glebas ficarao à mercê de corte de arvores dotadas de madeiras nobres. E além disso, a biodiversidade animal certamente será profundamente afetada.

Seria necessário que os pretensos reformuladores do Código Florestal lançassem sobre o papel os limites de glebas de 500 a milhares de quilômetros quadrados, e dentro de cada parcela das glebas colocasse indicações de 20% correspondente às florestas ditas preservadas. E, observando o resultado desse mapeamento simulado, poderiam perceber que o caminho da devastação lenta e progressiva iria criar alguns quadros de devastação similares ao que já aconteceu nos confins das longas estradas e seus ramais, em áreas de quarteirões implantados para venda de lotes de 50 a 100 hectares, onde o arrasamento de florestas no interior de cada quarteirão foi total e inconseqüente.

terça-feira, 22 de junho de 2010

OBITUÁRIO

Obtuário publicado na Folha de São Paulo prevê a morte do Código Florestal Brasileiro.

Brigas, acordos e o Código Florestal

ROBERTO KLABIN

O relatório do deputado Aldo Rebelo beneficia apenas alguns setores da sociedade, em vez de garantir a qualidade de vida de todos


Enquanto o Brasil está de olho na Copa e nas eleições, a qualidade de vida de todos os brasileiros e nossos bens mais essenciais - a água, o ar, o controle do clima e nossa imensa biodiversidade- estão sendo silenciosamente colocados em risco pelo Congresso Nacional, graças às propostas de mudança do Código Florestal.
Pode parecer que se trata de uma briga entre ambientalistas e ruralistas ou do campo contra a cidade, mas não é isso. Todos, independente de onde moramos ou com o que trabalhamos, vamos sair perdendo se as propostas da comissão especial da Câmara dos Deputados que debate o caso forem aprovadas.
O Código Florestal Brasileiro consolidou o princípio de que as florestas são bens de interesse comum e que o direito à propriedade se submete a esse interesse.
Isso permeia toda a legislação ambiental e encontra abrigo no artigo 225 da Constituição Federal: "Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo".
O relatório do deputado Aldo Rebelo, no entanto, ignora esse princípio e beneficia setores específicos da sociedade, em vez de garantir a qualidade de vida de todos.
A definição das áreas de preservação por Estados e municípios, por exemplo, significa que vamos deixar que o abastecimento de água de cidades como São Paulo e Rio de Janeiro seja ainda mais agravado, com o aumento de conflitos entre governos locais e proprietários de terra.
Afinal, um único hectare de mata atlântica preservado gera, em média, 1.328.600 litros de água por ano, segundo dados do Programa Mata Ciliar do governo paulista.
A região Sudeste já apresenta índices de escassez maiores que o semiárido e, sem a mata ciliar, a vida de um rio pode se esgotar em 40 anos. Além disso, desastres naturais como os de Santa Catarina, Angra dos Reis e Niterói tendem a se repetir se não garantirmos a proteção das encostas e a regulação do clima, feitas por nossas florestas.
Segundo Carlos Nobre, pesquisador do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), as mudanças propostas ao código aumentam ainda mais os riscos de que as áreas urbanas sofram com inundações e deslizamentos.
A comissão especial também propôs a isenção das reservas legais para propriedades de até quatro módulos -o que ,no caso da mata atlântica, reduzida a 7% de sua cobertura original, ameaça os escassos remanescentes do bioma.
Por fim, a proposta de anistia ao desmatamento já existente sinaliza que, no Brasil, quem cumpre a lei é tolo e os beneficiados são os que a descumprem.
Há quem diga que, quando se trata de Código Florestal, um mau acordo é melhor do que a briga.
Mas não aceitamos resolver essa questão de maneira a simplificar o debate e esquecer o objetivo dessa legislação: a proteção ao patrimônio natural brasileiro.
O Brasil tem mecanismos para superar esse impasse, mas parece faltar vontade. A pressa em votar o tema às vésperas das eleições, quando em geral os interesses do país ficam à mercê do que garante votos e reeleições, não contribui.
Assim como não contribui o silêncio do Poder Executivo. Que tipo de preocupações estão por trás do silêncio de Lula e dos ministérios?
O que precisamos agora é de lideranças esclarecidas, de todos os segmentos da sociedade, dispostas a resolver essa questão; não pelo caminho do mau acordo, mas, sim, pela construção de uma agenda comum que estabeleça uma transição entre as regras atuais, que sempre podem ser aprimoradas.
Tem que sobressair o interesse maior de garantir um futuro digno e de posicionar o Brasil como uma potência ambiental mundial.

ROBERTO KLABIN é empresário e presidente da Fundação SOS Mata Atlântica.


Fonte: TENDÊNCIAS/DEBATES - Folha de São Paulo

quarta-feira, 9 de junho de 2010

UM IDIOTA


















Qualquer semelhança...

Floremildo, um idiota.

Beto Mesquita*

Floremildo é um idiota. Mas um idiota do tipo esclarecido, que sabe das coisas. Não é como seu primo famoso, Eremildo, que acredita em qualquer bobagem, desde que seja bem dita ou bem escrita.

Justamente por isso, Floremildo anda encafifado com o deputado comunista Aldo Rebelo.
Floremildo acha o máximo quando o parlamentar invoca os mais puros sentimentos patrióticos para denunciar a atuação das organizações insidiosas, que se infiltraram em diferentes setores da sociedade para impedir que o Brasil se torne uma potência mundial. Mas, Floremildo ainda não conseguiu identificar claramente quem são estas organizações e nem sequer dimensionar se seriam centenas, dezenas ou apenas uma meia dúzia.

Floremildo está pronto para se aliar ao deputado comunista, mas antes precisa que ele aponte claramente quem é o inimigo. Até porque, durante o último período cinzento da história brasileira, os insidiosos que queriam perturbar a ordem e impedir o progresso do país eram justamente os comunistas. Floremildo não se perdoaria se misturasse os períodos e confundisse aliados e inimigos do país.

Outra coisa que deixa Floremildo cismado é o fato dele desconhecer o histórico do deputado nas questões rurais e ambientais brasileiras. Floremildo anda procurando e perguntando aqui e ali, mas não tem tido muito sucesso em encontrar projetos de lei e iniciativas do deputado sobre o assunto, anteriores ao seu papel como relator do projeto de revisão do Código Florestal. Mas, tudo bem, se o deputado está falando sobre o tema com tanta propriedade, com certeza ele está sendo muito bem assessorado, afinal, ele conta com o apoio, em vários sentidos, das maiores empresas e lideranças do setor agropecuário do país.

Por outro lado, Floremildo já ouviu falar do papel de muitas organizações da sociedade no tema, inclusive já até leu algumas publicações e conheceu alguns resultados de trabalhos dessas entidades, inclusive aquelas internacionais. Floremildo sabe que boa parte das inovações e avanços tecnológicos e de mercado do manejo florestal brasileiro teve origem em iniciativas destas organizações.

Só que Floremildo é idiota, mas não é bobo. Ele sabe que tudo é feito para parecer que estas organizações pregam o desenvolvimento sustentável e o aproveitamento racional dos recursos naturais do país. Assim como no tempo dos comunistas subversivos, que iludiam os incautos com um discurso sobre democracia, mas queriam mesmo era promover a desordem no país, impedindo nosso avanço, Floremildo sabe que estas organizações, na verdade, estão à serviço dos interesses comerciais de grandes empresas das nações já desenvolvidas. Floremildo nunca viu nenhuma prova ou indício mais contundente disso, mas ele tem certeza de que é assim. Se outrora tivemos as tropas verdes para impedir o domínio do país pelos vermelhos da internacional, agora seremos salvos dos verdes internacionais pelo deputado vermelho.

Floremildo pode ser um idiota, mas não ao ponto de acreditar que o deputado Rebelo adotaria um artifício tão pérfido, do qual ele e seus correligionários ideológicos já foram vítimas, apenas por uma conveniência política do momento. Isso seria coisa de político profissional em ano de eleição.
E Floremildo, o idiota, sabe que esse não é o caso.

* Beto Mesquita é engenheiro florestal, gosta de escrever e acha a tentativa de criar um antagonismo entre produção agropecuária e proteção ambiental uma completa bobagem. Assim como todas as formas de xenofobia.


A DERRUBADA DO CÓDIGO FLORESTAL

Código Florestal

Aldo Rebelo (PCdoB/ SP) apresenta relatório e desagrada ambientalistas



Como já era anunciado aos quatro cantos por ambientalistas, o relator da Comissão Especial do Código Florestal, o deputado Aldo Rebelo (PCdoB/ SP), apresentou ontem o relatório que altera essa legislação.

De cara, o projeto deixa na mão dos Estados a autonomia para definir os percentuais de área de reserva legal e a flexibilização para aplicar as leis ambientais.



Além disso, o novo Código também isenta pequenos produtores rurais com propriedade de até quatro módulos rurais da obrigatoriedade de cumprir os percentuais de reserva legal (na Mata Atlântica e Caatinga, ela é de 20%; no Cerrado, de 35%; e na Floresta Amazônica, de 80%).

Mas essas não serão as únicas modificações. O novo texto legaliza a situação de 90% dos produtores rurais brasileiros que, segundo deputado, estariam hoje colocados na ilegalidade, principalmente os das regiões Sul e Sudeste.



E embora as APAs (Áreas de Preservação Ambiental) permaneçam no mesmo regime, há também uma brecha para que elas sejam alteradas pelos Estados que tiverem realizado o Zoneamento Ambiental.

Em resumo: as áreas de mata ciliar a serem mantidas pelos agricultores ficam em 70 metros (no máximo), mas o mínimo passa a ser de 15 metros (mas esse número pode cair para 7,5, dependendo da definição de cada Estado). Para bom entendedor, meia palavra basta.



O relatório do deputado tem 309 páginas e ele se limitou a ler as primeiras 50 páginas de introdução, dando o restante por lido, o que gerou mais protestos ainda no plenário.

Devido ao clima de confronto entre bancada ruralista e ambientalistas, após a leitura do relatório, o presidente da comissão, Moacir Micheletto (PMDB-SP), encerrou a sessão. Uma nova reunião para votar o texto está marcada para hoje.

Segundo o ambientalista André Lima, presidente do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), o projeto relatado por Aldo representa um crime contra o meio ambiente brasileiro e um retrocesso, porque transfere toda a responsabilidade pela preservação ambiental exclusivamente para o poder público e "anistia todos os desmatadores que devastaram o meio ambiente até 2008".



O Greenpeace foi mais longe. “Na prática, o relatório de Aldo propõe reverter 76 anos de evolução de nossa legislação ambiental. É, portanto, um retrocesso. Legitima o corte indiscriminado do passado recente e abre brechas para novos desmatamentos”, afirmou, em nota.

“Aldo no fundo abriu a brecha para se acabar com a Reserva Legal, porque qualquer fazendeiro com mais de 600 hectares de terra na Amazônia poderá fracionar sua propriedade para fugir da obrigação”, aponta Sergio Leitão, outro diretor de Campanhas do Greenpeace.

Do jeito que está escrito o projeto, diz o Greenpeace, “sem especificação de que as espécies usadas na recuperação precisam ser arbóreas”, abre-se a possibilidade de que um fazendeiro utilize grama ou soja para recuperar sua reserva legal.
No caso das áreas de preservação permanente (APP’s), “Aldo, além de reduzir a necessidade de manutenção de matas ciliares em alguns rios para 15 metros, dá aos Estados o poder de diminuí-las à metade do que exige a legislação federal. Isso inverte uma regra básica da legislação ambiental brasileira, que determina que o que vale é a maior área de proteção”.

fonte: Globo Amazônia/ Greenpeace

segunda-feira, 7 de junho de 2010

AGROTÓXICOS NA COMIDA



Agrotóxicos presentes no dia a dia aumentam o risco de déficit de atenção e hiperatividade nas crianças

A exposição a agrotóxicos organofosforados tem sido associada a uma série de efeitos adversos no desenvolvimento cerebral das crianças, como é o caso de problemas na capacidade cognitiva e no comportamento.

As crianças realmente são mais vulneráveis aos efeitos desses pesticidas, primeiro por apresentarem um cérebro ainda em formação e também porque, por apresentarem menor peso, é maior a concentração relativa dessas substâncias no corpo quando comparado aos adultos. Além disso, as crianças têm um menor contingente de enzimas desintoxicantes.

Entre as crianças, a dieta é uma das principais fontes de contato com os agrotóxicos e as evidências dos seus riscos neurotóxicos têm origem em estudos que avaliaram populações com altos níveis de exposição aos pesticidas. Uma nova pesquisa publicada na última edição do jornal oficial da Academia Americana de Pediatria demonstrou que mesmo níveis habituais de agrotóxicos presentes no cotidiano da maioria das pessoas podem exercer mudanças no cérebro das crianças, aumentando a chance de elas apresentarem o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).

Mais de 1.100 crianças americanas com idades entre 8 e 15 anos foram estudadas. Os pais responderam a um questionário para diagnóstico de TDAH que revelou que cerca de 10% das crianças preenchiam os critérios de diagnósticos necessários. Elas foram submetidas a uma análise da concentração de traços de agrotóxicos na urina e os resultados apontaram que quanto maior essa concentração, maior a chance de as crianças serem classificadas como portadoras de TDAH. Aquelas que possuíam a concentração desses elementos acima da média dos participantes tinham duas vezes mais chances de apresentar o diagnóstico quando comparadas às que não tinham sinais dos pesticidas na urina.

É importante ressaltar que as crianças incluídas no estudo eram apenas uma amostra aleatória e representativa da população americana, diferentemente dos estudos que o precederam, que avaliaram o efeito da superexposição aos agrotóxicos como, por exemplo, inalação de pesticidas por mulheres grávidas. A maior contribuição dessa pesquisa foi ter demonstrado que não só doses altas de organofosforados têm associação com a chance de uma criança apresentar TDAH, mas mesmo a exposição “inocente” a essas substâncias no cotidiano pode contribuir para o desenvolvimento do problema.

E quando se pensa na dieta das crianças, não são apenas os agrotóxicos que podem ter impacto no cérebro delas. Alguns estudos têm chamado a atenção de que alimentos com aditivos artificiais podem piorar os sintomas entre crianças com o diagnóstico de TDAH e também podem aumentar a chance de sintomas de hiperatividade, impulsividade e desatenção entre aquelas não portadoras de TDAH.

É isso aí. Essas são informações que devem provocar uma reflexão sobre o tipo de alimentação que estamos oferecendo às nossas crianças.

Por Ricardo Teixeira - Doutor em neurologia e pesquisador do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Dirige o Instituto do Cérebro de Brasília e é o autor do Blog “ConsCiência no Dia-a-Dia”.