Foto: Guto Kuerten - DC
Relatório de Captura de um filhote de puma no município de Capão Alto e sua manutenção na Base Avançada de Pesquisa (BAP) do Ibama no município de Painel, Santa Catarina
Marcelo Mazzolli - Biólogo, Ph.D. - Projeto Puma - Email: marcelo@projetopuma.org - Tel: 48 9901-0295
A captura do puma: Dia 1 de julho de 2007 (domingo), aproximadamente as 13 horas, fui chamado pelo professor Auri do Centro de Ciências Agroveterinárias (CAV) da UDESC para atender a uma ocorrência de captura de puma no município de Capão Alto, vizinho a Lages, mais precisamente na localidade de Raposo e quilômetro 19 da BR antiga.O animal havia sido capturado por um proprietário na noite anterior, o qual no dia seguinte solicitou o atendimento da Polícia Ambiental. Eu, o professor Auri, e mais três policiais fomos atender ao caso. Segundo o relato do proprietário, o animal havia se aproximado da casa a uma distância calculada de 15 metros, quando seus cães fizeram o animal subir em uma árvore em um bosque situado entre 15 e 20 metros da casa. Os proprietários então procederam a captura do animal, acondicionando-o em uma gaiola (Fig.1). Tratava-se de um filhote de puma com aproximadamente 3 meses de idade, com dentição de leite. Deduziu-se que o animal estaria desacompanhado na ocasião da captura, pois mesmo que nesta idade o animal ainda seja dependente da mãe para sobreviver, é provável que se estivesse com a mãe esta não permitira que um animal tão pequeno se aproximasse de uma habitação humana e se sujeitasse a riscos tão grandes quanto a proximidade de com cães, etc. Por esta razão decidiu-se mantê-lo em cativeiro.
Figura 1. Filhote de puma na ocasião em que foi capturado pelo proprietário na localidade de Raposo, município de Capão Alto.
A transferência do puma para a Base Avançada de Pesquisa (BAP) do Ibama: A BAP (Fig. 2) é um local amplo, onde há água corrente natural e habitat conectado.
Figura 2. Entrada da Base Avançada de Pesquisa do Ibama (BAP)
Da captura no dia 1 de julho, o puma foi encaminhado (Figura 3) para o Hospital Veterinário do Centro Agro-Veterinário (CAV) da UDESC em Lages, onde ficou até o dia seguinte, quando então foi transferido para a Base do Ibama. Dia 3 de julho um viveiro de pássaros foi preparado para receber o animal, onde planeja-se deixá-lo provisoriamente até que seja construído um recinto adequado.
Figura 3. Transportando o o filhote de puma.
O recinto recebeu um tronco oco onde o animal pode se esconder quando lhe convém. Ao ser solto no viveiro, imediatamente buscou refúgio neste abrigo (Fig. 4)
Figura 4. O filhote de puma imediatamente se acomodou dentro do tronco oco colocado no viveiro, onde sente-se mais seguro.
O viveiro foi instalado na borda de um bosque, onde a mescla de luminosidade e sombra é adequada, e onde os visitantes podem observar da estrada interna sem perturbar o animal. Além disso, o local pode ser observado a partir de uma das casas utilizadas pelos funcionários. Neste mesmo local sugere-se a construção de um recinto definitivo.
Sobre o puma no Planalto Catarinense: Apesar de ser considerado um animal vulnerável à extinção no Brasil, no sul do Brasil a espécie ainda está amplamente distribuída nos Planaltos Catarinense, Riograndense e Paranaense, e nas regiões costeiras da Serra do Mar. Desde 1988 o Projeto Puma vem registrando os pumas em Santa Catarina. De lá para cá registrou-se um processo de recolonização do puma em várias regiões do estado. Os primeiros registros de ataques se deram em áreas mais florestadas, e somente a partir de 1993 o puma começou a aparecer nas áreas mais abertas de campos nativos do planalto. Esta recolonização a partir de áreas mais florestadas para áreas mais abertras foi registrada em tempo real na fase de pesquisa entre 2003 e 2006 (ver relatório em http://uniplac.net/~puma/Artigo_wwf.pdf, pg. 17), quando algumas fazendas em situadas em área de campo mais ‘limpo’, as quais nunca antes haviam registrado perdas de ovelhas, começaram a sofrer os primeiros ataques de puma. O Planalto Catarinense, inclusive no município de Capão Alto onde o filhote de puma foi capturado, talvez seja uma das áreas de maior conflito entre pecuaristas e o predador, que é por isto constantemente abatido por atacar rebanhos domésticos, principalmente ovinos. Estimativas não-oficiais calculam que entre 10 a 20 pumas são abatidos anualmente na região. Veja abaixo os projetos com parcerias que estão sendo implementados para solucionar este problema.
Parcerias entre o Projeto Puma e a BAP: A BAP, por ser uma área ampla e contextualizada em um habitat conectado, tem muitas espécies nativas como a jaguatirica, a paca, lontra e até puma, todos registrados no local com auxílio de armadilhas fotográficas, cedidas pelo Projeto Puma e utilizadas pelo funcionário Wiliam Veronezi.Além dessa cooperação, o Projeto Puma foi um dos intermediadores de um projeto de Termo de Cooperação entre a Universidade do Planalto Catarinense (UNIPLAC), na qual sou professor, com a BAP, enviado ao Ibama de Florianópolis para apreciação.Este Termo, elaborado em coordenação com os funcionários da BAP, prevê a instalação de um Laboratório de Vida Silvestre no local, onde serão expostas peças de animais taxidermizados da UNIPLAC para utilização em educação ambiental (ação que já vem sendo promovida pela BAP), e a participação de estagiários da UNIPLAC em pesquisas com vida silvestre na BAP e arredores.O Projeto Puma tem um Termo de Cooperação com a UNIPLAC para outras parcerias em projetos de ensino e pesquisa ambiental, tanto que está atualmente instalado no Laboratório de Ecologia desta Universidade. Portanto, estamos fazendo um trabalho a longo prazo de cooperação inter-institucional para melhorar a condição ambiental da região.
Outras parcerias: Uma parceira do Projeto Puma com a Polícia Ambiental prevê o monitoramento de propriedades que sofrem sistematicamente com ataques de puma a rebanhos. Para incentivar pecuaristas a adotar medidas que possam reduzir os ataques e conseqüentemente a perseguição e abate ilegal do puma, bastante comum na região, o projeto visa compensar perdas de algumas propriedades durante a fase de implementação destas medidas. Entre estas medidas estão a instalação de cercas elétricas, melhoramento ambiental da propriedade, e utilização de cães especiais de guarda para rebanhos de ovinos (cedidos pelo projeto).Neste projeto, estão previstos casos excepcionais de pumas que continuem a atacar mesmo com todas as medidas preventivas, o que requer a intervenção do projeto como forma de manter a credibilidade deste, e evitando que o pecuarista mate o puma e abandone o programa. Caso os valores dos prejuízos ultrapassem uma média razoável, cogitou-se a eventual remoção destes indivíduos para cativeiro mediante aprovação do Ibama, para a própria BAP. Este projeto de compensação e monitoramento já foi aprovado na polícia, e está em vias de captação de recursos. O abate ilegal de pumas na região é freqüente, sendo preciso a parceria dos pecuaristas para reduzir esta infração. O Projeto Puma já fez uma experiência de compensação a um pecuarista que estava seguindo orientações de manejo de rebanho mas que sofreu grandes perdas mesmo assim.
Manutenção do puma na BAP: Há duas opções acerca do destino do animal: 1. Destiná-lo a um zoológico e; 2. Mantê-lo na BAP em Painel. Defendemos que o animal permaneça no Ibama por vários motivos. Um deles é a costumeira falta de condições de zoológicos, tanto em termos de espaço físico quanto de alimentação e acompanhamento veterinário. Durante a manutenção do puma na BAP, este terá (como já está tendo) acompanhamento veterinário do CAV-UDESC.Outra razão para manter o animal é a potencialização da educação ambiental com a espécie, que é conhecida na região por atacar rebanhos, mas desconhecida em outros aspectos mais positivos. Um trabalho de educação ambiental com crianças principalmente iria surtir um efeito positivo na conservação desta e de outras espécies regionais no futuro. A BAP já recebe visitas e promove a educação ambiental, de maneira que não haveria acréscimo de funções.Além disso, poderia ser o primeiro passo para construir um cercado que possa abrigar outros pumas que venham a causar problemas mais sérios na região, onde poderiam ser mantidos temporariamente ou definitivamente.O Projeto Puma se encarrega de buscar recursos para construção dos recintos e manutenção do animal em cativeiro. No dia de hoje, por exemplo, o autor deste relatório e o funcionário do Ibama José Augusto de Córdova Lemos estiveram no fórum para inscrever o Projeto Puma como entidade para receber recursos oriundos de compensações ambientais, a partir das quais seria possível aplicar na manutenção do puma na BAP.
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Apresentação: O Projeto Puma é uma associação sem fins lucrativos, de direito privado, fundada em 05 de novembro de 1993, com registro no Diário Oficial da União. Seu objetivo é buscar a proteção e recuperação da natureza. Teve início como um projeto de pesquisa, atendendo a relatos de ataques de puma a rebanhos em parceria com o IBAMA.
ECOLOGIA DE POPULAÇÕES E COMUNIDADES • BIOLOGIA DA CONSERVAÇÃO • ECOLOGIA DE PAISAGEM - CNPJ 74.082.462/0001-31
Resultados principais: Mapeamento do puma em Santa Catarina, registro de hábitos de ataques a rebanhos, e recolonização do puma no Planalto Catarinense, publicados em:
- MAZZOLLI, M.. 1993. Ocorrência de Puma concolor em áreas de vegetação remanescente do Estado de Santa Catarina. Revista Brasileira de Zoologia 10: 581-587.(http://uniplac.net/~puma/puma.pdf)
- MAZZOLLI, M., GRAIPEL, M. E., DUNSTONE, N. 2002. Mountain lion depredation in southern Brazil, Biological Conservation 105: 43-51.(http://uniplac.net/~puma/lion_depredation.pdf)
- MAZZOLLI, M. 2005. Efeito de gradientes de floresta nativa em sistemas agropecuários sobre a diversidade de mamíferos vulneráveis. Relatório do Projeto CSR 283-2002, WWFBrasil, Brasília, DF. (http://uniplac.net/~puma/Artigo_wwf.pdf)
- outros resultados em http://uniplac.net/~puma/page_download.html
Marcelo Mazzolli é Doutor em Ecologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2006), mestre em Ecologia pela University of Durham (2000), e Bacharel em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Santa Catarina (1992). É consultor do Grupo de Especialistas em Felinos (CSG) da União Mundial para Conservação da Natureza (IUCN) desde 1997, fundador e diretor-geral do Projeto Puma desde 1993, professor de zoologia desde 2004, e participa do GT de Felinos Ameaçados do IBAMA desde 2005. Lecionou cursos de ecologia da paisagem e manejo de fauna. Organizou e desenvolveu vários projetos com ênfase em conservação da natureza, incluindo de mecanismos e modelos de diagnóstico e compensação ambiental, e também cursos e expedições de campo, nacionais e internacionais, tendo como tema a conservação de habitats e da fauna. Implantou o projeto Corredor do Tigre. É webmaster e editor da página do Projeto Puma na internet (www.projetopuma.org), onde estão disponíveis mais informações sobre projetos executados pelo autor. Doações para manutenção das atividades podem ser feitas diretamente na conta corrente do Projeto Puma, inclusive para manutenção do filhote capturado recentemente:
BANCO DO BRASIL - AG. 0307-7 CC. 32686-0
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