domingo, 26 de agosto de 2007

Matéria (muito!) Infeliz



O tráfico de animais silvestres é a terceira maior atividade ilegal do mundo, estando apenas atrás do tráfico de armas e de drogas. Esse comércio movimenta aproximadamente 20 bilhões de dólares por ano em todo planeta e o Brasil participa com cerca de 15% desse valor. Devido a rica biodiversidade brasileira, o nosso país é um dos principais alvos do tráfico ilegal de animais, o que representa um grande risco a sobrevivência de muitas espécies da nossa fauna.

Essa prática provoca um enorme desequilíbrio ecológico na natureza!

Calcula-se que o tráfico de animais silvestres retire, anualmente, cerca de 12 milhões de animais de nossas matas; outras estatísticas estimam que o número real esteja em torno de 38 milhões.

E foi com muito espanto, preocupação e tristeza que assistimos as chamadas para as próximas matérias do Jornal do Almoço da RBS TV (Globo SC) desse sábado, 25 de agosto, onde o respeitável apresentador Mário Motta falava da possibilidade de se ter "Iraras e Lontras como animais de estimação"!

A matéria começa com o seguinte texto:
“ Irara, Lontra, Ferret (furão) são bichinhos de estimação até pouco convencionais, mas aos poucos vão ganhando espaço em vários países do mundo!”
E segue:
“Aqui no Brasil eles não são muito comuns não, mas já despertam a atenção de alguns criadores...”
E pior:
“...e eles podem ser uma opção para quem quer um bichinho, digamos, meio diferente...”
Mais para frente a repórter diz:
“...personalidades transformadas pelo homem...”
E ainda:
“...criados como cachorros...”

A matéria tem 3’31 minutos de duração e foi feita pela jornalista Cleyde Clock para o Jornal do Almoço da RBS TV (Globo SC).
Em nenhum momento a reportagem realçou que a Legislação Ambiental é bem clara quando não permite animais silvestres serem criados em cativeiro. Em apenas um breve momento a repórter balbucia que a pequena lontra mostrada não poderia ser bichinho de estimação.

Nem tão pouco cita que Iraras, Lontras e Furões estão correndo sérios riscos pela degradação de seu habitat natural, já que a Mata Atlântica é o segundo mais ameaçado bioma do planeta!

Fica o nosso protesto pela péssima pauta divulgada no principal jornal televisivo da maior rede de televisão do estado em pleno sábado.
Uma matéria dessa tem potencial para destruir anos de trabalhos em educação ambiental junto aos estudantes e comunidades rurais e urbanas.

É lamentável sobre todos os aspectos uma emissora com tanta audiência e respeitabilidade omitir informações básicas sobre um assunto tão delicado e ainda estimular uma prática prevista como crime ambiental sujeito inclusive à prisão e, pior, estimular a prática condenável de se ter animais em extinção como "bichinhos de estimação". Com a agravante de estarmos em plena época de mudanças climáticas e diminuição drástica da biodiversidade do planeta.

Pedimos providências para que a emissora faça uma matéria esclarecendo imediatamente as informações errôneas e prejudiciais ao meio ambiente.

Quem quiser se manifestar escreva para lisandra.n@rbstv.com.br


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A população humana cresceu muito, em 2003 já somos mais de 6 bilhões de habitantes e, no Brasil, mais de 160 milhões que exercem uma imensa pressão sobre os habitats naturais e, também, diretamente sobre a fauna. Calcula-se que o tráfico de animais silvestres retire, anualmente, cerca de 12 milhões de animais de nossas matas; outras estatísticas estimam que o número real esteja em torno de 38 milhões. Todas estas estimativas, embora pareçam alarmismo e exagero, tomam outra dimensão quando consideramos o seguinte:

1. Quantas pessoas você conhece que possui ou já possuiu um animal silvestre (o papagaio da vovó, o pássaro preto do vizinho, o canário do amigo, o coleirinho na gaiola da venda, etc);
2. As estimativas se baseiam, basicamente, no que é apreendido o que, infelizmente é ínfimo frente ao traficado;
3. Devido as condições em que são capturados e transportados, a taxa de mortalidade é altíssima;
4. Finalmente quanto maior for a população, caso não mudemos nossos conceitos maior será a pressão sobre os animais.
Ressalta-se que não somente o indivíduo capturado fará falta ao ambiente mas, também, os descendentes que ele deixará de ter. Assim, pode-se perceber o tamanho do impacto que a retirada de animais causa ao meio ambiente. Outro detalhe, muitas vezes esquecido, é que o impacto não se restringe à extinção da espécie capturada. Na natureza as espécies estão interligadas no que chamamos de teia alimentar, ou seja, os animais comem e são comidos por outros animais além de, também, se alimentarem de plantas, realizarem a polinização das mesmas e, muitas vezes, dispersarem suas sementes.

Se eu retiro do ambiente uma espécie que dispersa a semente de determinada árvore pode ser que esta árvore não mais conseguirá se reproduzir e, se suas folhas servem de alimento para determinado tipo de inseto, dentro de alguns anos este também poderá se extinguir. Este inseto podia ser o principal alimento de determinado pássaro que agora também será afetado pela retirada daquela primeira espécie que não possuía uma relação direta com ele. Estas são as implicações do tráfico na teia ecológica e muitas vezes pode afetar espécies que, a princípio se imaginaria não ter nenhuma relação com a espécie traficada.


Liberdade para quê?

"Quanto menos um grupo é capaz de se levantar e de se organizar contra a opressão, mais facilmente ele é oprimido". - Peter Singer

Assim, pelo fato dos animais não realizarem levantes ou reivindicações, usualmente seus interesses são solapados pelos interesses dos humanos que, não raras vezes, não passam de caprichos e não movidos pela necessidade de sobrevivência. A manutenção, por exemplo, de animais engaiolados resulta de um capricho humano que interfere em um interesse genuíno e lícito destes animais que é o de não serem aprisionados.

Contudo, o princípio de igualdade deveria levar em consideração os interesses de cada espécie e não somente os de nossa própria. Assim, a consideração com interesses não deveria levar em conta a aparência nem tampouco apenas a capacidade de se expressar.
Fonte: Site IBAMA

Quer saber mais sobre tráfico de animais? Conheça a RENCTAS: http://www.renctas.org.br/

Um comentário:

Patinação Rodas de Ouro disse...

LAMENTÁVEL!!!
Como um veículo de comunicação divulga uma prática tão "criminosa" quanto esta?
VAMOS BOICOTAR!!!