quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Que vergonha dona FATMA!


Vida em risco na busca por comida
Laura Coutinho - Diário Catarinense - 17/fevereiro/2008

Os animais da maior unidade de conservação do Estado estão em perigo. Vítimas da falta de planejamento da administração, chefiada pela Fundação do Meio Ambiente (Fatma), e da insuficiência de recursos destinados ao Parque Estadual da Serra do Tabuleiro, eles não recebem alimentação suficiente dentro da área onde estão confinados no parque que, ironicamente, teria como missão a preservação da biodiversidade.

Em função disso, pelo menos três antas e duas capivaras, que teriam saído dos domínios do centro de visitação do parque em busca de comida, já foram atropeladas na SC-433, rodovia que cruza a extensão norte do parque.

A história dos animais confinados em 150 dos 90 mil hectares do parque começou em 1975 quando, logo após a criação do local, a administração resolveu implementar um projeto de reintrodução de animais que um dia foram nativos na área.

Na época, o espaço que integra hoje a área de visitação, na Baixada do Maciambu, recebeu jacarés, antas, capivaras e macacos. Alojados em torno de uma trilha de um quilômetro, os visitantes podiam percorrer o trajeto observando os animais.

No entanto, em 1997, uma modificação na gestão do parque determinou que boa parte dos animais fosse solta pelo Ibama. Os que sobraram viraram alvo da falta de planejamento da administração, que, se por um lado manteve algumas espécies no parque, por outro não garantiu alimento suficiente para o grupo, que, ainda assim, acabou se reproduzindo.

Da original população de antas, por exemplo, sobrou apenas um casal, que deu origem aos oito indivíduos que o parque abrigava até meados do ano passado, quando começaram os atropelamentos. Um risco para animais e motoristas.

- Um motociclista já teve fratura na clavícula após colidir em uma capivara no ano passado. No início de 2007, depois do primeiro atropelamento envolvendo animais do parque, notificamos a Fatma. Recentemente, depois da morte de duas capivaras e três antas, mandei outro e-mail à direção da Fatma - explicou o capitão Emiliano Gesser, comandante do 2º Pelotão da Polícia Ambiental.

Ainda segundo Gesser, de acordo com o depoimento dos policiais ambientais que atuam no parque, as antas não estão recebendo alimentação suficiente.

Como parte da solução, o capitão afirma que é preciso que haja imediata manutenção da cerca e que a quantidade e a qualidade de comida sejam asseguradas.

- Não precisamos esperar por um incidente mais sério para que isso seja feito - pediu o comandante do 2º Pelotão da Polícia Ambiental, que conta com 32 policiais na sede do parque.


Contraponto:

O que diz Arno Gesser Filho, gerente de Unidades de Conservação e Estudos Ambientais da Fundação do Meio Ambiente (Fatma)
Gesser Filho afirmou que um ofício foi encaminhado ao Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes (DNIT) solicitando a colocação de placas na rodovia para alertar os motoristas sobre a possível presença de animais. Além disso, foram solicitados passadores subterrâneos.
A Fatma também planeja diminuir o número de animais no parque, mas não há plano de aumento na verba para compra de alimentos. Quanto à cerca, Gesser Filho disse que a reforma será feita nos próximos dias.



Prejuízo nas pesquisas:

Pesquisadores reagem ao plano da Fatma de retirar ou diminuir o número de animais no parque. As antas que vivem no Parque Estadual da Serra do Tabuleiro são objeto de pesquisa financiada pela Fundação de Apoio à Pesquisa Científica e Tecnológica do Estado de Santa Catarina (Fapesc).

A instituição informou que, no início do projeto, havia cinco antas adultas e três filhotes, todas descendentes de dois animais trazidos de Rondônia. De acordo com a Fapesc, a espécie já esteve ameaçada de extinção no Brasil, mas conseguiu se multiplicar, embora ainda continue na lista vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN).

O projeto desenvolvido tem como objetivo reunir dados para a melhoria das condições de cativeiro, além de incentivar iniciativas de reintrodução de antas ao ambiente natural.

- Se os animais forem retirados, as pesquisas serão comprometidas. No parque, encontramos um ambiente único para estudo, já que os animais não estão nem em cativeiro nem soltos. Em um zoológico, por exemplo, as antas teriam um comportamento alterado - avaliou o coordenador da pesquisa em andamento, professor Luiz Carlos Pinheiro Machado Filho, do Laboratório de Etologia Aplicada da UFSC.

Fatma argumenta que o ambiente não é adequado

A exemplo do capitão Emiliano Gesser, da Polícia Ambiental, Machado encaminhou um ofício à presidência da Fatma solicitando providências. Conforme o professor, a solução passaria pela manutenção da cerca e reforço na alimentação dos animais.

- A Fatma precisa decidir qual o objetivo do parque. Não é possível deixar os animais do jeito que estão - argumentou Machado.

A Fatma alega que o ambiente onde estão confinadas as antas não seria adequado e nem ofereceria espaço suficiente. Dados que também são rebatidos pelos pesquisadores.

- Aquela área possui quatro habitats diferentes e é relativamente grande. Ocorre que a capivara, em maior número, acaba competindo com a anta e ingerindo muito do alimento disponível no local - disse Machado.


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O PARQUE:

OS RECURSOS:

A Fatma não possui recursos disponíveis para destinar às unidades de conservação. A verba é fruto de parcerias com instituições nacionais e internacionais. As principais parceiras são:

*Banco alemão KfW (Banco de Crédito para Reconstrução): trabalha em parceria com a Fatma no projeto de proteção da Mata Atlântica em Santa Catarina. O convênio, que envolve 6 milhões de euros do KfW e outros 4 milhões de euros do governo do Estado, teve início em 2005. A previsão de término é 2009. O valor é totalmente destinado à melhoria da estrutura dos órgãos ambientais e a ações em todas as Unidades de Conservação Estaduais em Santa Catarina.

*Fundo Global para o Meio Ambiente: apóia a Fatma na gestão do Parque Estadual da Serra do Tabuleiro com destinação de recursos voltados para a fiscalização e elaboração do Plano de Manejos, entre outras ações. O convênio, que deve seguir valendo até 2011, envolve US$ 1 milhão, destinados diretamente para o Parque Estadual da Serra do Tabuleiro.

*Banco Mundial: financia atividades de educação ambiental, além de investimentos no parque por meio de um projeto específico, o Projeto Microbacias 2. Os recursos destinados são de US$ 480 mil até o final de 2008.

OS NÚMEROS:

*Tem cerca de 90 mil hectares, o equivalente a 90 mil campos de futebol
*Recebe cerca de mil visitas por mês
*Sua área abrange nove municípios, incluindo a Capital
*É a maior unidade de conservação no Estado e ocupa aproximadamente 1% do território de Santa Catarina.

MISSÃO DO PARQUE:

O Parque Estadual da Serra do Tabuleiro é uma Unidade de Conservação de proteção integral, ou seja, sua principal vocação é proteger a biodiversidade e os ecossistemas que abriga.

Fonte: Cooperativa Caipora e Informativo do Parque Estadual da Serra do Tabuleiro

Solução parece estar longe:

Além da falta de alimentação, o estado precário de conservação da cerca que deveria isolar os animais agrava o problema dos atropelamentos de bichos.
O arame deveria isolar complemente a área de confinamento, de 150 hectares da área de visitação. Mas, em função dos buracos na estrutura, os animais conseguem ultrapassá-la com facilidade.
A alimentação insuficiente motivaria as saídas.
- Os policiais observam a insuficiência cada vez maior de alimentos - declarou o capitão Emiliano Gesser, comandante do 2º Pelotão da Polícia Ambiental, com sede no parque.
Pesquisadores também atestam a falta de alimentos:
- Nos finais de semana, eles não são alimentados e, conforme o tratador, isso ocorre desde meados de janeiro. Encontramos sacos plásticos dentro do parque. São restos de lixo trazidos das casas do entorno do parque - denunciou Luisa Brusius, agrônoma que desenvolve projeto de pesquisa no local.

Fotos: Flávio Neves - DC

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