quarta-feira, 17 de agosto de 2011

RPPN: SANTUÁRIO PROFANADO

RPPN: santuário em PERIGO!

Dnit ameaça asfaltar estrada dentro da Mata do Feliciano


Sapucaia existente na RPPN há mais de 500 anos

Os animais silvestres que habitam a Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) “Feliciano Miguel Abdala”, entre os quais o Muriqui do Norte, o maior primata das Américas, tido como símbolo da luta pela preservação da Mata Atlântica, seu habitat, estão sob o risco de serem exterminados e a ameaça vem do próprio Governo Federal. Isto, porque o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) pretende manter a BR 474 cortando parte da reserva, abandonando a proposta contida no projeto inicial, desviando a rodovia da área preservada.

Recentemente, o jornal A Semana publicou matéria mostrando vários animais que foram atropelados por veículos que cruzam a RPPN, conhecida pelos mais antigos como “Mata do Feliciano”, cobrando a retomada da obra de asfaltamento da BR 474, interrompida há, aproximadamente, dois anos, devido à falta de aprovação do projeto de desvio, pelos órgãos ambientais.

A proposta de se fazer o desvio da estrada tem por objetivo, exatamente, evitar que veículos que trafegam pela BR 474, no percurso entre Caratinga e Ipanema, continuem atropelando os animais silvestres existentes na reserva, colocando um ponto final no problema.

Porém, segundo Roberto Abdala, filho de Feliciano Miguel Abdala e um dos proprietários da Fazenda Montes Claros, onde está localizada a RPPN, o Dnit está determinado a abandonar a proposta do desvio, em decorrência dos gastos que a obra do desvio acarretará, optando por manter a rodovia passando pela reserva.

Muriqui: espécie em extinção e protegida na reserva

De acordo com o ambientalista Antônio Bragança, diretor da reserva, além do atropelamento e morte de muitos animais, que tentam atravessar a estrada, para tomar água no Rio Manhuaçu, haverá outros malefícios, uma vez que criará a possibilidade de que um cigarro, jogado de um veículo, durante o período de estiagem, poder provocar um incêndio florestal de conseqüências incalculáveis, gerando danos irreparáveis. “O governo deveria, cada vez mais, incentivar a preservação ambiental e, não, devastar as riquezas naturais”.
Novela antiga
O asfaltamento da BR 474 é uma reivindicação de mais de 60 anos, usada pelos políticos como palanque eleitoral, alvo de incontáveis promessas, até hoje, não cumpridas. Como se fosse uma novela, a pavimentação da rodovia, no decorrer dos anos, vem sendo feita em etapas.

Em 2009, pelo esforço do deputado federal Alexandre Silveira, ex-diretor geral do Dnit, a obra foi retomada, sendo anunciada, pelo próprio parlamentar, a liberação de recursos suficientes para completar o asfaltamento da rodovia. Porém, o serviço foi interrompido quando restava, exatamente, o trecho onde seria feito o desvio que, agora, o Dnit não quer mais fazer.

Bastante revoltado, Roberto Abdala informa ter recebido visitas dos técnicos do Dnit. Inicialmente, eles solicitaram os documentos referentes à RPPN, numa outra visita, anunciaram que o órgão estaria abandonando o projeto do desvio e se preparando para asfaltar a parte da estrada que cruza a reserva.

A Luta pela Mata

A empreitada da Família Abdala, pela preservação das matas existentes na Fazenda Montes Claros é muito antiga. Ela foi iniciada na metade da década de 40, quando Miguel Feliciano Abdala comprou a propriedade com a exigência do antigo dono, de que ele lutasse para evitar que os macacos – muriquis – existentes nas matas da propriedade fossem mortos.

Deste então, até 2001, quando faleceu, aos 92 anos de idade, Feliciano Miguel Abdala manteve-se fiel à promessa, transformando-se em guardião do santuário ecológico existente em suas terras.

Neste verdadeiro sacerdócio, Seu Feliciano, como era conhecido, chegou às últimas conseqüências. Para expulsar os caçadores que ousavam invadir sua propriedade, em busca dos macacos, várias vezes chegou a trocar tiros e, antes de falecer, costumava mostrar com justo orgulho as marcas das balas dos caçadores, que atingiam as paredes de sua casa, como se fossem troféus.

Ao morrer, numa forma de perpetuar a luta e o amor de seu pai em defesa do Muriqui e, consequentemente, do remanescente de Mata Atlântica existente na Fazenda Montes Claros, seus filhos decidiram transformar os 957 hectares de mata, área correspondente a 72% de todas as terras da Fazenda Montes Claros, em uma RPPN, batizando-a com o nome do pai.


São comuns os atropelamentos de animais da reserva

A luta continua

Roberto Abdala, da mesma maneira que seu pai faria, está disposto a aplicar todos os esforços e recursos cabíveis para impedir que o Dnit asfalte o trecho da estrada que corta a reserva. “Mantendo-me fiel ao desejo de papai, caso seja necessário, irei à Justiça para impedir que o Dnit, atualmente, envolvido em escândalos e denúncias de corrupção e desvio de dinheiro público, cometa mais este crime. Temos conversado com proprietários vizinhos, que comungam da mesma ideia, no sentido de mobilizar a população, os órgãos ambientais, estadual e federal, assim como as organizações conservacionistas nacionais e internacionais, para evitar esta tragédia”.

Ao ser informado da situação, o deputado estadual Adalclever Lopes (PMDB), presidente da Comissão de Transporte, Comunicação e Obras Públicas da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, informou que estará encaminhando pedido para que aconteça uma audiência pública em Caratinga, juntamente com a Comissão de Meio Ambiente de Desenvolvimento Sustentável, presidida pelo deputado Célio Moreira (PSDB), à qual estará encaminhando um requerimento neste sentido, solicitando urgência na realização desta audiência. “Temos que unir esforços em defesa desta reserva. É inconcebível que, um órgão que disponibiliza um orçamento do tamanho do gerenciado pelo Dnit, se disponha a cometer um crime de tal proporção, sob a inconsistente alegação de economia de gastos. Nós vamos lutar contra esta proposta! Podem ter certeza disso!”.

Fonte: A Semana Agora

Um comentário:

Na Beirada disse...

É dramática a situação. A mesma situação se repete quando o governo cria uma medida provisória que altera os limites de unidades de conservação para favorecer mineradoras e indiretamente hidrelétricas.