terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Adeus cachoeiras



Pelo andar da carruagem, banho de cachoeira será um artigo de luxo cada vez mais raro.

Em Angelina estão construindo quatro PCHs (Pequena Central Hidrelétrica), além da já quarentona Usina do Garcia. Brasil afora estão mapeando toda e qualquer cachoeira em busca de potenciais hidrelétricos para suprir a crescente demanda por energia, transfigurando os ecossistemas de maneira irreversível.

E o velho Chico, como é chamado o rio São Francisco, deverá sofrer mais ainda com a transposição de suas águas. Veja abaixo a opinião do jornalista Ricardo Noblat em seu blog sobre a greve de fome do Bispo da Barra (BA) Dom Cappio:

Enviado por Ricardo Noblat - 17.12.2007 18h43m
Se o bispo quer morrer de fome, que morra. Seria uma pena

Lula autorizou seu chefe de gabinete, Gilberto Carvalho, a abrir canal de negociação com o bispo da Barra (BA), dom Luiz Flávio Cappio, que está em greve de fome desde 27 de novembro em protesto contra as obras de transposição do rio São Francisco.

Carvalho esteve na manhã desta segunda-feira na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e anunciou que as obras não serão retomadas antes do dia 7 de janeiro de 2008, independentemente do resultado do julgamento da liminar que suspende as obras, o qual deverá ocorrer nesta quarta-feira no Supremo Tribunal Federal (STF). Leia mais aqui

(Comentário meu:
Não me lembro de nenhum bispo que tenha feito greve de fome porque a ditadura militar inaugurada no país em 1964, e que durou 21 anos, torturava e matava presos políticos. Lembro-me de bispos e de padres corajosos que enfrentaram a ditadura, denunciaram seus crimes e que por isso foram perseguidos, presos e torturados. Pelo menos um deles se matou depois, vítima da insanidade desatada nele pela tortura.

Dom Cappio quer impor sua vontade ao governo. E o método escolhido por ele não é o melhor. Fere frontalmente a doutrina da Igreja que ele diz respeitar. Em resumo, e como observou com razão o ministro Patrus Ananias, do Desenvolvimento Social, o que diz dom Cappio com seu gesto é muito simples: "Ou vocês suspendem o projeto de transposição das águas do rio São Francisco ou eu me mato". Isso é autoritarismo puro, descabido e intolerável. Imagine se a moda pega.

O eleito para governar foi Lula - não foi dom Cappio. Lula que arque com as consequências de um projeto polêmico, mal explicado, que divide opiniões no Nordeste e fora dele. Dom Cappio tem o direito de protestar contra o projeto, de pedir seu arquivamento, de organizar manifestações e de bater duro no governo que o patrocina. Mas é só. Abusa dos privilégios que lhe concede sua sotaina reverendíssima quando reincide em greve de fome.

Se não fosse bispo, ninguém estaria prestando atenção nele. Dom Cappio não é e não deveria ser um problema do governo. Que o Vaticano e a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) cuidem dele. A CNBB tomou a respeito posições contraditórias. A primeira quando emitiu nota pedindo aos cristão que se solidarizem com o bispo e que jejuem junto com ele. A segunda quando escreveu a dom Cappio pedindo que suspendesse a greve.

Como se solidarizar com o bispo e jejuar junto com ele se a greve de fome, que entrou hoje no seu vigésimo primeiro dia, deve ser interrompida como pediu a própria CNBB? O Vaticano mandou que dom Cappio voltasse a comer. Ele respondeu que por enquanto não o fará. Conta com o apoio de alguns movimentos sociais que tiram partido do seu gesto. E de políticos equivocados de todos os matizes. Até o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) já foi tomar a benção ao bispo.)


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