domingo, 9 de março de 2008

PV na Prefeitura do Rio?

Foto: Fábio Pozzebom/ABr


Político ‘Zona Sul’, Gabeira busca ‘voto do morro’

Fernando Gabeira (PV) tornou-se, na semana passada, a principal novidade da campanha municipal carioca. Em 2006, foi o deputado federal mais votado do Rio. Obteve 293.057 votos sem muito esforço. Passeios de bicicleta pelo calçadão lhe serviam de campanha. Na disputa pela prefeitura, arrosta um desafio que não conseguiu vencer em 1986, ano em que disputou o governo do Estado: tenta transpor as fronteiras diáfanas que separam a chique Zona Sul dos impermeáveis morros cariocas.

“Essa é a chance da minha vida”, disse Gabeira ao blog. “Em vez de ficar discutindo idéias, quero tentar mudar concretamente a vida das pessoas”. O deputado elege como seus principais contendores a TV Record e a Igreja Universal, além das estruturas administrativas do Estado e do município. “São essas as máquinas que teremos que enfrentar”, diz. O deputado vai à disputa em aliança com PSDB e PPS. Leia a entrevista:


- Para se eleger deputado, bastou passear de bicicleta pelo calçadão. Para chegar à prefeitura, vai subir o morro?
Claro que sim. Eu morreria de tédio se não fizesse isso. Adoro fazer campanha em morro. Em 1986 fiz muita campanha em morro. Resultado não foi muito bom porque em muitos morros a votação é clientelística.

- Ao voto de clientela, soma-se hoje o cabresto religioso. Consegue furar esse bloqueio?
De fato, existe isso. Mas há agora alguns diferenciais interessantes. Temos alguns apoiadores que são muito ativos nas áreas mais populares. Por exemplo: uma moça chamada Lucinha [PSDB], vereadora muito atuante na Zona Oeste da cidade. Há também um líder de Duque de Caxias, o Zito [PSDB], com grande poder de influência. Os limites entre o Rio e Caxias são fluidos.

- Só com isso espera atingir o eleitor mais humilde?
Há muitas outras formas de chegar ao morro. Além da presença física, deve-se considerar que há uma explosão de Lan Houses no Rio. Já são 5.000 estabelecimentos desse tipo. Estão em todas as favelas. O que nos abre um caminho para fazermos campanha voltada para essas pessoas, por meio do computador. São núcleos que têm muita influência na comunidade pelo fato de estarem mais perto da informação.

- Acha suficiente para furar o bloqueio do clientelismo e da religião?
Acho. Evidentemente que furar o bloqueio não significa vencê-lo. Mas vamos reduzir a diferença. Há um outro dado importante, que não costuma ser devidamente considerado.

- Que dado é esse?
Existe uma porosidade muito grande entre as Zonas Sul e Norte do Rio. Uma grande parte enorme da população pobre trabalha na Zona Sul. De modo geral há uma influência. De mais a mais, campanha política no Rio é como onda. Quando pega, pega pra valer. No nosso caso, há um movimento que tem chance de pegar.

- Quais serão os seus principais contendores?
O principal contendor é o [Marcelo] Crivella [PRB]. Ele foi candidato várias vezes em campanhas majoritárias. É uma pessoa habilidosa. Tem a seu favor a Rede Record de Televisão e a Igreja Universal. É um aparato forte. Em segundo lugar, há o possível candidato do [governador] Sergio Cabral, o Eduardo Paes [PMDB]. Tem a máquina do Estado. Em terceiro lugar, há a Solange Amaral [DEM], candidata do [prefeito] Cesar Maia, que tem a máquina da prefeitura. São essas as máquinas que teremos que enfrentar.

- Há 15 dias, dizia que não seria candidato. O que mudou?
Estava envolvido na constituição de uma frente suprapartidária. Eu atuaria na sociedade e apoiaria um candidato. Essa frente conseguiu se unificar e, em dado momento, não tive alternativa a não ser oferecer o meu nome para manter a frente de pé. É uma tentativa de produzir uma mexida cultural na sociedade.

- Que forças políticas o apóiam?
Espero que a força mais importante seja a sociedade. Mas, em termos partidários, temos, por ora, o PV, o PSDB e o PPS.

- Isso lhe dá tempo de TV?
Teremos cerca de cinco minutos. O que é mais do que suficiente. Tempo demais, em vez de ajudar, acaba atrapalhando.

- Emboraa campanha seja carioca, já esteve com o governador Aécio Neves e estará com José Serra. Por que?
É que havia uma resistência aqui de alguns setores do PSDB, que não estavam entendendo bem o projeto. E a pressão da direção nacional foi positiva. Eles perceberam rapidamente as possibilidades do projeto. O Serra, o Aécio, o Sérgio Guerra [presidente do PSDB] e o Fernando Henrique tiveram posição muito favorável à candidatura. Utilizar essa pressão nacional de forma construtiva dá uma outra dimensão à campanha. Ninguém falava da campanha do Rio. Agora, todos falam.

- Não receia confundir a campanha municipal com 2010?
Campanha municipal não é uma miniatura da campanha presidencial. Quem entrar por esse caminho vai perder a perspectiva. A campanha municipal é voltada para os problemas reais que as pessoas vivem nas ruas, nos bairros. O cara quer saber como você vai resolver os problemas dele, não quem você vai apoiar para presidente.

- Não há de ser essa a visão dos presidenciáveis tucanos. O que eles querem é um prefeito amistoso no Rio, não?
Claro, não há dúvida. Mas falei com o Aécio que se há algo em que a campanha municipal pode influenciar em 2010 não é no apoio a um candidato. A influência se dará por meio da realização, na prática, de uma reforma política, uma mudança de hábitos que não será desatada pela lei.

- Como assim?
No plano nacional, há uma política econômica interessante, comum a PT e PSDB. Tem também uma política social com todas as condições de ser durável. Vem da Bolsa Escola, passa para a Bolsa Família. Precisa apenas achar agora as portas de saída. Nessa dimensão econômica e social, o Brasil está mais ou menos resolvido. Mas o PT capitulou diante da possibilidade de mudar as relações políticas. E existe agora a possibilidade de se experimentar, no Rio uma relação diferente entre Executivo e Legislativo.

- Não tem a ilusão de que, eleito, estará imune à pressão fisiológica da Câmara de vereadores, ou tem?
Não tenho essa ilusão. Mas está ficando claro que, junto com a sociedade, vamos acabar com isso. Não vamos ceder. Conheço parlamentar. Digo para os deputados do PV, lá em Brasília: governo não respeita parlamentar que depende dele. Essa história de depender do governo é bobagem. O que será possível fazer é o seguinte: por meio de políticas territoriais, podemos colocar a área onde o vereador atua dentro de determinadas políticas. Ele será contemplado com o atendimento da população. É difícil? Sim, mas, com a mexida que o simples anúncio da candidatura já está provocando na sociedade, creio que haverá força para isso.

- Que impressão tem do prefeito Cesar Maia?
É um sujeito extremamente estudioso. Costuma ter resposta pronta para tudo. O que a cidade está precisando é de um prefeito que não saiba tudo, que seja capaz de ouvir.

- Qual será o diferencial de uma eventual gestão Gabeira?
Estamos nos propondo a implantar uma administração moderna, avançada.

- O que é moderno?
Penso numa administração que se auto-imponha metas que possam ser monitoradas, num modelo que incorpore alguns elementos da iniciativa privada. O PSDB está querendo contribuir com alguns dos seus melhores quadros. Há no Rio muita gente capaz que se dispõe a ajudar.

- A inexperiência administrativa não o espanta?
Não. Até me felicito até por isso, porque me permite trilhar, com curiosidade, outro caminho. Estou meio cansado do debate parlamentar. O processo do Parlamento brasileiro está desgastante. Essa é a chance da minha vida. Em vez de ficar discutindo idéias, quero tentar a mudar concretamente a vida das pessoas, me relacionar com problemas objetivos. Isso abre uma outra etapa na minha vida.

Fonte: Blog Josias de Souza- Folha on Line

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