domingo, 25 de novembro de 2007

Estilo Zen


Comportamento
Como ser zen
A monja Coen Sensei ensina que é preciso esquecer a correria para se divertir, conhecer as pessoas e reconhecer a beleza do caminho de onde queremos chegar
CAROLINE PASSOS

A monja Coen Sensei, 60 anos, tem todas as características que se espera de uma pessoa com espiritualidade elevada. O jeito calmo, acolhedor e a simpatia fazem com que as pessoas parem para ouvir o que ela tem a dizer. As respostas para os males do mundo surgem fácil nas palavras de Coen.

Primaz fundadora da Comunidade Zen-Budista, em São Paulo, a história da monja é repleta de transgressões. Casou-se cedo, aos 14 anos para conquistar a liberdade e se separou aos 17, grávida. Insistiu em não retornar à casa dos pais, mas a fome a fez repensar na possibilidade. Foi jornalista nos anos 1960 e conheceu o Budismo através de uma reportagem em comunidades zen-budista na Califórnia, onde iniciou seus estudos e foi ordenada monja em 1983.

A leitura de Trotsky a despertou para mudanças. O segundo casamento, com o monge Murayiama, 18 anos mais jovem que ela, foi no Convento Zen-Budista de Nagoia, Aichi Senmon Nisodo e Tokubetsu Nisodo, no Japão. Depois de 10 anos, eles se separaram. Coen viveu 12 anos enclausurada no convento até voltar para o Brasil, em 1995, para liderar o Templo Busshinji. Hoje, ainda enfrenta a discriminação por ter sido a primeira mulher a ocupar a presidência da Federação das Seitas Budistas do Brasil por um ano e por seu contato com a imprensa.

Donna DC conversou com a monja em Blumenau, onde fez uma palestra. Sorridente, ela atendeu a fila de repórteres com a paciência digna dos monges.

Donna DC - A senhora falou em sua palestra em Santa Catarina sobre Como Dar Vidas às Nossas Vidas. Pode explicar como seria esse processo?
Coen Sensei - Como viver com plenitude celebrando a existência. Cada instante é único. Esse momento jamais se repetirá. Se não apreciarmos isso, como vamos sobreviver? À medida que nos colocamos em frente aos outros, estabelecemos algo maravilhoso: o diálogo.

Donna DC - É o diálogo que faz movimentar o mundo?
Coen - Quando a Unesco fala para se criar uma cultura da paz, quer dizer que é preciso ouvir para entender. Se nos relacionássemos com as pessoas mais íntimas dessa forma, mesmo que se conviva com elas por 30 anos, perguntássemos e ouvíssemos o que elas pensam sobre o mundo, seria uma mudança. Quando a pessoa vai falar, nós a interrompemos, porque acreditamos que já sabemos o que será dito. Aí acontece o conflito, as brigas. Dar vida às nossas vidas é isso: esquecer a correria para se divertir, conhecer pessoas e reconhecer a beleza do caminho de onde queremos chegar. Trazer a nossa mente para cada momento é que é a arte.

Donna DC - A senhora acredita que as pessoas estão mais abertas ao diálogo?
Coen - Tenho uma amiga professora de Filosofia que disse em uma palestra que a violência está perdendo o glamour. Houve uma época em que era muito bonito ser bravo, bater e gritar. Ninguém mais quer ouvir pessoas que brigam e gritam. Isso é muito fácil de fazer. Já interagimos contra a violência internacionalmente, quando os monges de Miamar protestaram contra as condições que eram oferecidas e se submeteram a ser torturados por uma causa maior. A humanidade está brigando pelos direitos humanos. Não colocamos mais panos quentes.

Donna DC - A senhora mora em São Paulo. É possível seguir a filosofia zen-budista no caos da cidade?
Coen - São Paulo é um treinamento contínuo e maravilhoso de paciência, persistência e de procurar as causas do que acontece lá. Não é só se perguntar o que o governo vai fazer para acabar com a violência, melhorar o trânsito, é se perguntar o quê eu posso fazer para mudar isso. Se os outros são corruptos - palavra que eu acho interessante por ser significa coração rompido - eu não vou romper o meu coração. As pessoas falam: não vou pagar imposto por que eles vão usar mal o dinheiro. Ninguém exige que o dinheiro seja bem empregado. Não é porque outros fazem errado que eu preciso agir errado também.

Donna DC - A sua história é marcada por mudanças. Qual delas foi mais incisiva para atingir o estado de espiritualidade atual?
Coen - Tudo na nossa vida faz parte dessa tapeçaria. Nada é para jogar fora. Tive uma mestra que dizia que tudo que acontece e todos que você encontra, são seres iluminados que te guiam pelo caminho. A mudança de percepção é a melhor de todas. Não se pode viver de lamentações. Tudo que aconteceu me ensinou e abriu os olhos. É a capacidade de ver a realidade como ela é e discernir se é saudável ou não para saber que atitude tomar.

Donna DC - Como é ser uma monja tão requisitada pela imprensa?
Coen - Minha superiora tinha uma vida dessa forma, recebia críticas sobre isso e dizia: Buda passou a vida pregando e nunca ficou sozinho. Faz parte da minha missão falar com as pessoas. Quando voltei ao Brasil, as pessoas achavam que eu estava fazendo quimioterapia. Hoje, o zen-budismo e a monja são algo que se reconhece. O fato de eu ter sido repórter, facilita para esse contato com a imprensa. Sei como ser mais direta na resposta, enquanto os outros monges budistas só falavam japonês.

Donna DC - Virou comum o consumo de remédios contra a depressão, como a fluoxetina. Que conselho a senhora daria a essas pessoas?
Coen - Eu não sei até que ponto as pessoas podem largar esses remédios, mas sei que a depressão é a doença da moda. As modas passam e essa já está perdendo o glamour também. As pessoas estão cansadas de quem está em depressão. A tensão que o depressivo chama para si está enfraquecendo. A depressão também é um jogo de poder. Nós estamos conectados na teia do Interser e temos acesso a informações, geralmente, drásticas. A impressão é que o mundo está acabando. Isso pode causar depressão se não se colocar na posição de fazer algo a respeito. O difícil é fazer com que as pessoas dêem o primeiro passo para a ação, mesmo que seja escrever um texto para o jornal. Práticas de meditação e terapias são muito eficazes.

Fonte: DC

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